Sócrates em entrevista: “Eu vivo da minha pensão de ex-deputado”

O antigo primeiro ministro nega -em entrevista à RTP- ter sido um primeiro ministro corrupto

Sócrates em entrevista: “Eu vivo da minha pensão de ex-deputado

“Nunca fui um primeiro-ministro corrupto”, é a primeira resposta de José Sócrates à pergunta que lhe é colocada na RTP.

Esta é a primeira entrevista de José Sócrates depois da acusação e este garante que nenhum documento no processo de investigação prova que o dinheiro em causa era seu.

“O embuste inicial do Ministério Público é que eu tinha uma fortuna escondida. Com base em que prova o MP pode fazer uma afirmação destas? Nem nestas folhas nem em nenhum documento encontrará alguém a dizer que o dinheiro é de facto do engenheiro José Sócrates”, disse hoje.

A acusação da Operação Marquês foi formalizada na quarta-feira e o antigo primeiro-ministro foi acusado por 31 crimes, nomeadamente de corrupção passiva de titular de cargo político, branqueamento de capitais, falsificação de documentos e fraude fiscal qualificada.

“Como é que o Ministério Púlico prova o que diz?”, pergunta retoricamente Sócrates ao jornalista Vítor Gonçalves.

“O facto de o meu amigo levantar dinheiro em numerário… como é que você prova que me foi entregue esse dinheiro? Fundamente, prove, sff! Não pode provar, porque isso não é verdade”, diz Sócrates, referindo-se a Carlos Santos Silva.

O dinheiro de Carlos Santos Silva

José Sócrates diz ser muito amigo de Santos Silva, e que este se ofereceu para o ajudar, de modo a que este não hipotecasse a sua casa. Desse empréstimo, diz ainda haver contas a acertar.

Bem… Vamos lá ver… Isso foi uma decisão do meu amigo eng. Carlos Santos Silva… Ele achava que era melhor assim. O eng. Carlos Santos Silva não roubou nada a ninguém. O dinheiro era dele. Ele tinha o dinheiro em cofres, ele usava muito isso”, diz, questionado sobre o porquê de os empréstimos terem sido feitos em dinheiro e não por transferência bancária.

O acusado refere que as quantias emprestadas foram “modestas”, 4.000/5.000 euros. Questionado sobre conversas tidas com o amigo em código, este diz:” Não me recordo de ter falado em código sobre dinheiros”.

 

Os quadros e o apartamento

“Convenci o eng. Santos Silva a trocar o quadro de Júlio Pomar por sete ou oito quadros que tinha em casa e que ele gostava mais”, explica o ex-primeiro-ministro, sem se adiantar ou explorar o tema.

Sobre as indicações dadas relativamente ao famoso apartamento em Paris, na Av. President Wilson, Sócrates diz que este estava degradado e que o eng. Santos Silva o comprou. “Se o apartamento fosse meu, porque é que eu ia alugar outro? Quando eu fui detido, estava a viver noutro apartamento em Paris, que não era esse”.

Crimes de corrupção

“O Ministério Público diz que «entre 1 de março e 18 de abril de 2006, o arguido José Sócrates colocou o Governo aos interesses do GES». Isto chocou-me imenso, Isto é uma afirmação gravissíma e a primeira pergunta é: onde é que está a prova disso?”, pergunta retoricamente, quando questionado sobre os crimes de corrupção da OPA da Sonae.

Sobre Ricardo Salgado, diz nunca ter tido uma relação para lá de institucional com o mesmo. “Nunca me encontrei com o dr. Ricardo Salgado antes de 13 de outubro de 2006. Fui ver o registo de entradas na residência oficial do primeiro-ministro. Eu recebi-o, a seu pedido no meu gabinete, no dia 13 de outubro de 2016. Nunca falei com ele” noutros espaços “sem ser no meu. Enquanto fui primeiro ministro nunca fui a casa do Dr. Ricardo Salgado, eu não faço parte do grupo de amigos de Ricardo Salgado”, prossegue.

Ao longo da entrevista, Sócrates, remete as questões para os outros acusados: “Isso tem que lhe perguntar a ele”.

“Eu quero que todos os portugueses saibam que isto não é um processo justo”, quase grita.

A fúria de Sócrates

A entrevista termina com uma questão de Vítor Gonçalves que deixa José Sócrates visivelmente alterado.

“Como é que o senhor paga as suas despesas?”

“Isso é uma pergunta inacreditável. Desculpe lá, mas o que é o senhor tem a ver com isso?! O que é que o Vitor Gonçalves tem a ver com isso? Isso é uma pergunta que um jornalista faça?”, replica, em fúria.

Ainda assim, “responde” à questão: “Eu vivo de uma única coisa.  E não é da pensão de ex-primeiro ministro, essa acabei eu com ela. Vivo da minha pensão de ex-deputado, é o meu único rendimento. Já tive umas ofertas mas não quis aceitar por causa de toda esta situação. Isso diz muito do jornalismo português que você acabe esta entrevista com essa pergunta”.

Vítor Gonçalves insiste, questionando o entrevistado se este ainda vive com empréstimos do amigo Carlos Santos Silva. “Essa pergunta é uma afronta”. Termina assim a primeira entrevista de José Sócrates depois da acusação.

 

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