Supernanny: Madrasta de Margarida acusa produção de pedir à menina para bater na mesa e «cuspir»
A madrasta de Margarida acusa um operador de câmara de influenciar o comportamento da criança
Está a decorrer esta sexta-feira, dia 16, a terceira sessão do julgamento sobre a suspensão do polémico Supernanny. O julgamento decorre no Tribunal de Oeiras. Estão presentes Patrícia Marques e Luís Botelho, pais da menina do primeiro episódio e Carla e Ricardo Frade, família do segundo programa. Todos se fazem acompanhar dos respetivos representantes legais.
Mãe e pai do terceiro episódio – que nunca passou na TV – também estão presentes.
Tiago Félix da Costa, advogado da SIC, começou por se pronunciar sobre o terceiro episódio, visionado à porta fechada na última sessão. Durante a visualização, parte do som foi suprimido e o advogado pede que seja anexado um novo documento sem quaisquer falhas.
Mais ainda: a SIC «requer que o tribunal oficie decisões dos tribunais de Família, relativas às medidas de proteção» para «saber se efectivamente o programa representa ameaça para as crianças» envolvidas no processo. Estas decisões referem-se decisões referem-se a crianças do segundo e terceiro episódio.
A meio da manhã, a sessão foi interrompida para que o Ministério Público se pronunciasse sobre o requerimento. Cerca das 10h49 e a sessão voltou a ser interrompida. Desta vez, os assistentes da audiência saíram para visualizar o spot publicitário referente ao terceiro episódio. A visualização foi feita à porta fechada.
Antes do visionamento, o Ministério Público pronunciou-se, dizendo que nunca colocou em causa a veracidade «do terceiro episódio visualizado em tribunal». O Ministério Público e os mandatários judiciais da segunda e terceira famílias não se opõem a que os processos dos tribunais de família sejam anexados a este processo, mas pedem que sejam de «natureza não pública», ou seja, confidenciais.
Está neste momento a ser ouvida a testemunha Luísa Botelho, madrasta de Margarida, a menina que podemos ver no primeiro episódio.
Tensão sobe em tribunal
Lisa Botelho, de 32 anos, casada com pai de Margarida há 4 anos, garante que conhece a menina desde os 2 anos.
Antes da exibição do programa, pai e madrasta tiveram uma conversa com a menina onde «ela disse que um operador de câmara lhe disse para bater com mais força na mesa e cuspir», afirma em tribunal a madrasta.
Lisa Botelho afirma que o pai da menina só soube do programa através de Patrícia Marques, que lhe foi dito que este «envolvia uma psicóloga», que «seria uma coisa positiva» e que iria «reequilibrar alguns comportamentos de Margarida». O pai de Margarida terá assinado uma declaração de consentimento que não foi a mesma que recebeu no email.
A mãe de Margarida também presente no Tribunal de Oeiras exaltou-se.
A SIC considerou que o depoimento da madrasta «não é credível» e que apresenta contradições e dualidades. No entanto, identificou o operador de câmara e pediu ao tribunal se este podia prestar depoimento. O requerimento foi indeferido por tratar se de um testemunho indirecto no processo.
Madrasta afirma que ela e o marido foram ameaçados pela SIC
A madrasta continua o testemunho e afirma que o pai «não tinha noção do ia ser o programa», que deu o seu consentimento porque teve confiança nas informações que a mãe de Margarida lhe prestou. Mais ainda, Lisa garante que a menina «não sabia o que ia acontecer» e que o pai desconhecia ainda que havia uma contrapartida financeira.
Foi só com a transmissão dos spots publicitários que madrasta e pai perceberam o que se estava a passar. «Foi com extrema surpresa que de repente vimos uma menina (nos spots ) que não conhecíamos», refere Lisa.
Apesar de ter confirmado que sabia que Margarida tinha comportamentos mais agressivos com a mãe, Lisa afirma: «Na nossa casa não tem aqueles comportamentos». A madrasta avança que foi com o desenrolar dos spots publicitários que decidiram contactar a Comissão de Protecção de Crianças e Jovens e que foram até à SIC pedir para verem o episódio.
Lisa alega que na estação televisiva lhe foi dito que os responsáveis directos não estavam no espaço e que não os podiam receber. Mais ainda, afirma que foram ameaçados de que lhes interporiam um processo de 11 milhões de euros.
Quando Margarida se viu na televisão «chorou», afirmou em tribunal a madrasta da menina.
«Não acrescentou nada de positivo na menina. Ela era muito autónoma e agora está mais insegura», referiu.
«O programa português foi fiel ao formato»
De seguida, falou uma testemunha da Warner Bros, produtora do programa. Edward Levan, vive em Londres, trabalha para a Warner, cria novos conteúdos e promove formatos para serem transmitidos a nível internacional. Faz-se acompanhar de uma intérprete e testemunha sobre o formato a nível internacional.
Trabalhou na produção do Supernanny no Reino Unido e Estados Unidos e também supervisionou o formato no Brasil e China.
«Os formatos internacionais e a versão portuguesa de Supernanny têm diferenças a nível técnico, mas penso que o programa português foi fiel ao formato», declarou. «O formato da SuperNanny quer curar famílias típicas, ensinar técnicas que possam ajudar as famílias a curar-se», disse durante a intervenção
«A versão portuguesa tem menos visualização de mau comportamento. É clara na ideia que as crianças não têm culpa, os pais assumem responsabilidade», afirma.
Operador de câmara acusado pela madrasta de Margarida não vai ser chamado a tribunal
Começa a segunda parte do julgamento e o tribunal decide que depoimento de operador de câmara «não integra factos interessantes» para uma boa decisão deste processo. Ou seja, o pedido foi indeferido. O operador de câmara acusado de incitar comportamento de Margarida não vai falar em tribunal nem vai ser recolhido nenhum depoimento escrito para anexar ao processo.
«Achei que era um programa válido, que fazia falta na televisão»
Teresa Paula Marques, 52 anos, psicóloga clínica – com contrato ainda vigente com a SIC – 19 anos de experiência em escolas, com seis livros publicados, começa por ser interrogada pela SIC.
A psicóloga foi convidada a apresentar o programa por Bruno Jerónimo, director de conteúdos da Warner Brothers.
«Achei que era um programa válido, que fazia falta na televisão. Fazia sentido», disse a psicóloga. «Achei que era uma maneira de fornecer estratégias, porque não se está a fazer psicologia ali, está-se a transmitir estratégias de educação. Acho importante colocar a sociedade a pensar nestas questões de parentalidade», prossegue.
«A Supernanny é uma personagem, não sou eu. A pessoa que está por de trás é a Teresa Paula Marques, a psicóloga», defense-se Teresa Paula Marques.
A psicóloga revela que houve muitas candidaturas recusadas uma vez que a produção procurava famílias e crianças comuns, sem «patologias». «A Margarida já tinha ido ao psicólogo mas não havia patologia. A psicóloga da Margarida deu-lhe alta. Nós acreditamos na palavra dos pais, não vimos nenhum relatório», declarou.
A psicóloga acredita que as crianças com quem contactou não tinham comportamentos patológicos. A idade dos dois aos quatro anos é o auge das birras, que considera serem parte do desenvolvimento e não são um comportamento patológico.
No que concerne à exposição das crianças, Teresa afirma ser sensível ao assume e este até é o tema da sua tese. Ciente do risco de exposição, relata que também há bastantes pontos positivos no programa Supernanny.
«Cuspir e bater na mesa não é normal, mas é vulgar. Não é no entanto patológico. Foi dito que estava a fazer terapia de comportamento cognitivo no programa. Não estou a fazer nenhuma terapia, muito menos terapia comportamental cognitiva, estou a dar estratégias às famílias de educação», defende-se.
«A Margarida estabeleceu uma óptima relação comigo. Quando eu me despedi dela [ findadas as gravações do programa] ela começou a chorar. Eu disse ‘Margarida para a semana eu ligo’. Desde aí tenho mantido contacto com ela e com as restantes famílias, pergunto se estão bem e ofereci-me como psicóloga caso não estivessem bem», continuou a psicóloga.
«As crianças não apresentam nenhum sintoma de terem ficado traumatizadas»
Mantendo o contacto com as famílias que com ela filmaram programas, Teresa Paula Marques afirma no Tribunal de Oeiras que nenhum das crianças ficou traumatizada, e que na escola, Margarida brinca com as amigas fingindo ser a Supernanny. Lara, a menina do segundo episódio, «continua a ser uma excelente aluna», segundo Supernanny.
«Nada foi provocado, nada foi aumentado. Nem eu tenho um guião. Tudo o que eu digo é espontâneo», disse, referindo que as filmagens duram cinco dias e que ela só entra em cena ao terceiro dia, quando as crianças «já não se lembram das câmaras».
Dos cinco dias de gravação, muitos pormenores terão ficado por mostrar ao público. «Não houve nenhuma situação que tivesse que ser forçada qualquer coisa. As famílias estão mais contentes e de facto houve um risco mas não houve um dano. Compreendo e aceito que as pessoas tenham ficado apreensivas, compreendo que isto tenha causado discussão. No entanto, penso que é excessivo»
«Não houve registos de casos de bullying»
Teresa Paula Marques continua a ser interrogada, desta vez pelo mandatário judicial da Warner Bros, produtora do programa.
A especialista afirma que «não houve registos de casos de bullying», faltas à escola ou alteração das rotinas das crianças. «Tudo isto foi muito perverso, não foi o programa em si. Porque se não fosse toda esta confusão que se instalou, já ninguém se lembrava da Margarida», afirma, relembrando que é sensível à exposição e que até fala sobre o tema no seu último livro. O nome do humorista António Raminhos é mencionado pela especialista que usa o exemplo do canal de Youtube onde este expõe as birras das filhas.
É a vez do Ministério Público interrogar Teresa Paula Marques.
Siga a Impala no Instagram