No Porto, duas amigas transformam o medo pela covid-19 em solidariedade
Ana Póvoas e a relações públicas Ângela Teixeira criaram o Ateliê da Esperança, movimento de solidariedade da sociedade civil, no Porto.
Ângela Teixeira é uma das mais conhecidas relações públicas da cidade do Porto. Profissão que, à semelhança de tantas outras, sofreu os efeitos da pandemia. Contudo, Ângela transformou as dificuldades num novo desafio. Usou a paragem profissional para ajudar quem mais precisa. «Na tarde de 13 de março, sexta- feira 13, depois de receber e-mails de clientes a suspender os meus serviços, olhei para o último e-mail e a primeira coisa que me veio à mente foi: não vou entrar em parafuso, isto vai correr bem. Vou saber quem precisa da minha solidariedade para que tudo isto termine rapidamente», explica em exclusivo ao Portal de Notícias, do Grupo Impala.
Contacto a contacto na construção de uma rede de ajuda
A relações públicas, com grande rede de contactos construídos ao longo da carreira, pegou no telefone e começou a registar as necessidades mais prementes da população próxima. «Liguei ao meu irmão, responsável por um projeto que apoia população vulnerável. Liguei ao Padre. Entretanto, liguei ao chef Marco Gomes, do restaurante Oficina, a pedir refeições para utentes do meu irmão. Eu sabia que o Marco, juntamente com outros chefs e restaurantes do Porto, estavam desde primeiro momento a confecionar refeições solidárias. Só que se debatiam com dificuldade em ter produto. Nesse momento, lembrei-me de que conhecia alguém ligado a uma grande superfície e que me poderia ajudar. Então, e desde aí, comecei a usar os meus contactos, a única coisa que tenho após 18 anos como relações públicas, e comecei a pedir, a pedir», conta.
Onda de solidariedade colmata necessidades
Os pedidos resultaram numa onda de solidariedade que colmata as mais variadas necessidades e em vários locais do Norte do País, «desde pedidos de máscaras para um lar em Trás-os-Montes a barras energéticas para o Hospital Santo António ou para o Serviço de Neonatologia do Hospital de Gaia. Neste momento, são cada vez mais os donativos de alimentos para famílias carenciadas». A amiga Ana Póvoas, médica e filha do conhecido clínico portuense Fernando Póvoas, juntou-se ao projeto. Juntas, criaram a página de Facebook Ateliê da Esperança. As ajudas são entregues na viatura particular que Ângela pôs ao serviço da comunidade, o «carro da ‘Barbie’, um Fiat 500», ironiza.
Ana Póvoas e a onda de solidariedade no Porto: «A reação foi fantástica»
Foi com um apelo da amiga para ajudar a angariar «água, frutas, barras energéticas, entre outros, para o Hospital de Santo António e para o Serviço de Neonatologia do Hospital de Gaia» que a médica se juntou ao projeto de solidariedade. «Fiz o apelo num grupo de Mães, aqui do Porto, e a reação foi fantástica. Tive pessoas que não me conheciam de lado nenhum a fazer transferências para que eu pudesse fazer as compras, porque estavam impossibilitadas de sair de casa. Achei aquilo maravilhoso. A generosidade das pessoas é vem de “olhos fechados”. Achei então que poderíamos usar esta solidariedade do povo português que se tem mostrado tantas vezes ao longo da História para ajudarmos neste momento algumas instituições e famílias que estão a passar por muitas dificuldades, devido ao facto de não estarem a trabalhar E mesmo as próprias instituições, que vão recebendo menos apoio porque quem por hábito apoiava antes agora passa também por dificuldaes», explica.
Ateliê da Esperança nasceu «de forma completamente informal»
Ana Póvoas sublinha ainda que o Ateliê da Esperança nasceu «de forma completamente informal». E que «gostava muito» que «crescesse para chegar ao maior número de pessoas, através de vários tipos de ajuda, quer com bens essenciais, quer com equipamentos de proteção». Neste momento, Ângela Teixeira e Ana Póvoas estão a apoiar famílias sinalizadas por projetos sociais que atuam nas Freguesias de Lordelo, Massarelos e Paranhos.
«Somos Todos um Ateliê para a Esperança»
«Somos Todos um Ateliê para a Esperança», de Tolentino Mendonça, alrteva para o «tempo de União, Amor e Solidariedade». São estas as três palavras mais ouvidas e sentidas nesta luta contra a covid-19. «A página surge da necessidade de unir e de organizar esforços no sentido de ajudar a combater esta pandemia e os efeitos dela com Esperança e Solidariedade. Acreditamos que cada um de nós tem responsabilidade social neste combate e que, sem sair de casa, é possível ajudar. Sinalizar necessidades reais e encontrar soluções em conjunto é o nosso grande objetivo. Certas de que ao construir este Ateliê da Esperança conseguiremos vencer esta luta», lê-se no manifesto de intenção, no Facebook.
Texto de Cynthia Valente
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