Desporto na WebSummit: Algumas faltas, mas sem cartões vermelhos

A Impala.pt está na terceira edição da WebSummit em Portugal e esteve bem atenta ao debate desportivo que acontece sempre no primeiro dia de conferências.

Ronaldinho Gaúcho e o alemão Philipp Lahm, antigas estrelas do futebol internacional, não puderam estar presentes nesta edição da WebSummit quando até perto da data do arranque as presenças do futebolistas estavam confirmadas.

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Por isso, o cartaz de presenças e conferências sobre desporto no maior evento de tecnologia, empreendedorismo e inovação do mundo esteve reduzido a outros nomes já garantidos no evento da organização de Paddy Cosgrave e bem conhecidos : Luisão, que recentemente terminou a carreira como jogador no Benfica; André Villas Boas, treinador de futebol que já passou pelo FC Porto; Jorge Mendes, empresário de futebol; Nico Rosberg, campeão do mundo de Fórmula 1 em 2016; e Stephanie McMahon, uma das chefes da empresa de wrestling norte-americano, a WWE. Estas personalidades do desporto falaram ao público entre o palco principal da WebSummit, na Altice Arena, e o palco SportsTrade, unicamente aberto neste primeiro dia de conferências do evento, 6 de novembro.

André Villas-Boas: os rallys, a promessa de regressar muito em breve e irritação sobre José Peseiro

Logo pela amanhã, quando se esperava uma conversa engraçada entre Ronaldinho e André Villas Boas, o técnico português conferenciou na mesma sobre a gestão pessoal de estar a trabalhar no exterior, fora do país. Em primeiro lugar, o antigo treinador do FC Porto admitiu logo que vai regressar ao ativo, mas não desvendou se será na Europa ou novamente na Ásia, onde esteve a treinar na China.

«Ainda não decidi o meu futuro próximo, mas vou voltar a treinar. Sendo na Europa será em junho de 2019, se for na Ásia será antes, em fevereiro de 2019. Estou à espera tranquilamente do próximo projeto e o mais importante é desfrutar da posição de treinador de futebol», disse o técnico que todavia deixou uma pista: «estou a aprender alemão há dois anos, mas não é nada fácil. Acredito que para chegar à Bundesliga é importante chegar com a língua dominada e é importante ter essa arma. É um mercado em vista», reconheceu sem deixar de ressalvar: «na China e na Rússia não aprendi línguas, mas o alemão é importante para o mercado e estou a aprender, o que pode ser importante para o futuro. Falo português, italiano, francês, inglês e um pouco de russo, agora o alemão». Villas Boas deixou ainda a garantia que na sua agenda não está um regresso a Portugal, onde «só treinaria o FC Porto».

No entanto, sabendo da participação espontânea que teve no Rally Dakar, Villas Boas descreveu: «Parei, estive a fazer uns ralis, uma grande paixão minha, a minha maior fora do futebol, desportos motorizados. Tenho estado no Porto, usufruindo de um tempo fora do futebol e espero voltar na próxima época».

Na conversa que manteve na Web Summit, o treinador que levou o FC Porto à conquista da Liga Europa em 2012 admitiu a sua admiração pelo treinador espanhol do Manchester City, Pep Guardiola. Para Villas Boas, foi ele quem «redefiniu o tempo e espaço do jogo», por José Mourinho, «que inovou em termos de treino e preparação dos jogos», e salientou que a sua missão nos dias de hoje é mais difícil como treinador por se viver uma vaga em que são mais valorizados os técnicos que foram jogadores, citando os exemplos de Zidane, Thierry Henry e Conte. «Eles têm a vantagem de conhecer melhor os jogadores e a mim cabe-me fazer um esforço por percebê-los melhor, estar mais com eles e falar mais com eles», terminou.

André Villas Boas também foi convidado a comentar a atual situação do Sporting, que continua à procura de treinador depois da saída de José Peseiro. «O treinador português é melhor, tem uma cultura mais abrangente, melhor do que a escola holandesa», defendeu em oposição ao nome apontado para o banco dos leões, Marcel Kaizer. «É difícil perceber o que vai na cabeça das pessoas quando tomam uma decisão dessas. Para nós, treinadores, quando vemos sair um colega de forma injusta e abrupta, sentimos revolta», revelou.

À tarde, André Villas Boas juntou-se a outra conferência, ao lado de personalidades de outros setores do mundo do trabalho para debater o fenómeno das pessoas mais novas, de tenra idade, em posições de liderança. Na óptica do treinador, isto não passa só de um número pelo o que viveu no futebol chinês, quando orientou o Shangai SIPG. «[os jogadores] estão sempre disponíveis para aprender connosco, com outra visão. Foi ótimo dar-lhes este conhecimento que tenho e vontade de aprender coisas básicas do futebol europeu».

Rapidamente, a conversa saltou logo para o que acontece nas redes sociais e pode afetar «os mais novos». Villas Boas deu uma dica que o público provavelmente está habituada a fazer: «experimentem ver futebol e estar no Twitter ao mesmo tempo, é engraçado». «A sociedade atual está muito pouco tolerante ao erro, há pouco tempo para voltar atrás e é preciso ser rápido», contou o treinador. «Somos os melhores e os piores muito rapidamente», disse entre risos o outro convidado da conferência, Ralf Reichert, antigo ‘gamer’ e agora diretor da Electronic Sports League, empresa organizadora de torneios de videojogos.

Confrontado com o facto de ter treinado grandes clubes ainda muito novo – com menos de 40 anos – e de não ter sido jogador profissional de futebol, André Villas Boas parecia firme na resposta: «É preciso saber o que o jogador pretende, estamos com diferentes tipos de líderes no futebol para diferentes tipos de jogador. Temos de adaptar, saber o que o outro quer. Não estamos sempre atentos a detalhes individuais. Há que dominar outras áreas como comunicação, nutrição e gestão […] há uma tendência de treinadores agora (como Zidane e Guardiola), tal como havia antes (Mourinho e Rafa Benítez), mas temos todos de saber canalizar a paixão pelo jogo que é comum ao jogador e treinador. É isso que se tenta fazer», concluiu.

A nova vida de Luisão

Mais tarde, o SL Benfica voltou a repetir a presença na WebSummit, trazendo ao palco SportsTrade o ex-capitão de futebol Luisão e o CEO Domingos Soares Oliveira. Depois de surgir na capa da revista mensal da apresentadora de Cristina Ferreira, o brasileiro falou em conferência sobre tecnologia e talento desportivo o que esses novos meios influenciaram no clube que representou mais de dez anos.

«Ajudou-me a responder a três perguntas: onde preciso melhorar, porque preciso melhorar e como posso melhorar», referiu. No entanto, «no início, o atleta profissional fica resistente à informação. Depois percebeu que era útil. Quando acabava um jogo, recebia os meus dados e começava logo a pensar no próximo encontro», acrescentou Luisão. No entanto, é necessário «cuidado» com a grande carga de informação e com o que se publica nas redes sociais, diz o jogador. «Um jogador de futebol tem certo impacto na sociedade […] a rapidez com que essa informação é disseminada pode influenciar até a sua imagem dentro de campo, mas também a imagem que passa para fora, para as pessoas que estão a acompanhar a sua atividade social», salientou.

Ao lado do ex-futebolista – e agora diretor de relações internacionais do Benfica, segundo o diário desportivo Record – o administrador executivo das «águias», Domingos Soares Oliveira recorreu a uma metáfora: «Quando o Luisão chegou ao Benfica, não havia quase nada. Depois passámos para o GPS. Hoje conseguimos analisar o sono dos nossos jogadores através de um relógio».

O futuro da Taça da Liga

Antes e depois das conferências, o Presidente da Liga Portugal, Pedro Proença, esteve perto de Luisão e outros convidados do futebol na WebSummit. «Estamos na antecâmara da ‘final four’ da Taça da Liga, numa semana que queremos que seja completamente dedicada ao futebol. Depois disso decidirei se este projeto tem sentido continuar, com esta equipa. Depois da ‘final four’ será o momento de fazer uma reflexão», disse Pedro Proença, que relativizou o nome de quem liderará a LPFP no próximo mandato.

«A Liga que encontrámos estava na eminência de uma insolvência, não só financeiramente como em termos de modelo de negócio. Hoje temos uma Liga completamente rejuvenescida, com três competições muito importantes. Quem vier a seguir encontrará uma Liga completamente distinta, com trabalho feito e em que nem só o Pedro Proença é importante», resumiu.

Quanto à presença da LPFP na Web Summit, o ex-árbitro explicou que se trata de «um certame absolutamente fundamental para o posicionamento atual da Liga, com um investimento claro nas novas tendências de consumir o futebol, em que têm de se procurar novas soluções».
Ainda no futebol, o empresário Jorge Mendes também esteve presente neste dia desportivo da WebSummit para receber um prémio de inovação na área para as agências Gestifute e Polaris Sports.

Mas antes, o gestor voltou a ser abordado sobre um dos jogadores que agência, o português Cristiano Ronaldo, e referiu que «vai ser Bola de Ouro este ano e no próximo». Além disso, Mendes considera CR7 «o melhor de sempre» e antes do futebolista madeirense «ninguém tinha ido para Inglaterra», tal como José Mourinho no caso do mundo treinadores. O ‘superagente’ considerou as duas personalidades uns pioneiros.

Wrestling e WebSummit: uma conexão constante para o público se envolver

    • Em Portugal há mercado para o wrestling (a luta livre encenada) e tudo isso vem dos Estados Unidos com a World Wrestling Enterteiment (WWE). Depois de “Triple H” ter estado na anterior edição da WebSummit, foi a vez da esposa do lutador, Stephanie McMahon, a chefe de marca da WWE, falar sobre o impacto da marca em todo o mundo.O discurso da empresária, e também lutadora, dividiu-se em duas conferências na Sports Trade e palco principal. É aqui que logicamente continua a divulgação da WWE pelo mundo.Questionada para dar algumas dicas para formas uma marca internacional, Stephanie enumera:
    • 1) Atingir a globalidade, estar acessível a todos. «70% do publico da WWE é internacional, fora dos Estados Unidos, mas queremos mais lucro e receitas dessa parte», referiu;
    • 2) Isso permite «juntar as pessoas porque desporto consegue fazer isso», salientou. Dar ao público e a lutadores a oportunidade de brilhar, como por exemplo Ronda Rousey, ex-campeã de outra companhia de luta – a UFC -, reconhecida planetariamente e que se juntou à WWE este ano. Existir «respeito entre atletas e comunidade»;
    • 3) Poder do storytelling e da comunicação – algo que é importante para os pequenos e grandes empresários em toda a WebSummit – «conseguir contar uma boa historia ou ideia, que faça o público sentir-se relacionado e inspirado, WWE segundo canal mais visto no youtube, o desporto mais visto na rede social» e tudo de uma forma simples;
    • 4) Estar em «constante contacto em conexão com a audiência em várias plataformas». Stephanie conta que a WWE é o segundo canal mais visto no Youtube, estando «abaixo de um canal de bollywood (cinema indiano)». No caso da rede social Twitter, foi onde ‘explodiu’ a revolução feminina com a hashtag #GiveDivasAChance (dêem uma oportunidade às divas, as lutadoras femininas), onde foi tendência mundial durante três dias. Além disso, «foi o público», diz a Stephanie McMahon, que pediu a WWE Network: a plataforma de streaming de wrestling, semelhante à de séries como a Netflix ou a Hulu;
    • 5) Por fim, tomar o risco empresarial de investir. Neste caso, o grande foco mais tarde seria a revolução feminina, tema que seria abordado na penúltima conferência desta WebSummit.
    • A WWE terá se apercebido que era preciso mais envolvimento das mulheres quando notaram que estas, nos seus programas semanais, «eram personagens secundárias ou terciárias», «mas isso acabou», refere Stephanie McMahon.
    • «Se queremos ser uma mudança no mundo, tambem contamos com as mulheres. Elas e os homens lutam diariamente para o que querem», frisou. Há poucas semanas, a WWE teve um programa exclusivo apenas com mulheres a lutar, o Evolution, um momento histórico para a companhia. Foi um marco da WWE no «movimento feminista». «Tudo começou em recrutar atletas, treinar mulheres como os homens, em igualdade» e muitas delas «nunca acreditavam ter chegado a este nível», conta a antiga lutadora e agora gestora da empresa do pai, Vince McMahon. O próximo passo é aproveitar os eventos realizados em países em desenvolvimento, como Arábia Saudita e Índia, e tentar aí dar uma oportunidade às mulheres. «Há esperança em ver as mulheres representados», contou Stephanie. Com o impacto de vários homens e mulheres lutadores no dia-a-dia norte americano. Participam em filmes, programas televisivos e entre outros eventos, a WWE vê-se daqui a 30 anos a ser maior que a Disney. «Porque não?» foi a questão retórica que Stephanie McMahon deixou.
    • Nico Rosberg depois do relâmpago de 2016

      Afastado das corridas, o antigo piloto alemão de Formula 1 nas fabricantes Williams e Mercedes, campeão do mundo em 2016, refere que nos próximos 20 a 25 anos «não se pode esperar que a competição seja exclusivamente com carros elétricos». No ano do título, «soube bem ganhar a Lewis Hamilton», mas reconhece que «ele é sensacional» e pode chegar às sete conquistas, recorde detido por Michael Schumacher.

Hoje, Rosberg é um empresário a emergir na área da mobilidade e contou na WebSummit como está a ser a experiência. «Sempre olhei para as empresas na perspetiva de investimento e pela diferença que podem fazer no mundo, especialmente no âmbito da mobilidade, e é aí que estou interessado e tenho investido. Precisei de me redefinir e arranjar um novo propósito. Tem sido um desafio, mas estou a adorar esta transição. É uma descoberta. O futuro é elétrico e é interessante estar nessa área. Em 10 anos, os carros que vamos comprar serão elétricos, por isso é importante estar desse lado», referiu.

A cimeira tecnológica, de inovação e de empreendedorismo Web Summit nasceu em 2010 na Irlanda e mudou-se em 2016 para Lisboa, devendo permanecer até 2028 no Altice Arena (antigo Meo Arena ou Pavilhão Atlântico) e nos espaços da Feira Internacional de Lisboa (FIL), em Lisboa.

Nesta terceira edição do evento em Portugal são esperados cerca de 70 mil participantes de mais de 170 países.A edição deste ano realiza-se entre os dias 05 e 08 de novembro e a Impala.pt está presente.

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Texto: Francisco Correia com Lusa // Fotos: WebSummit & Nuno Moreira/Impala

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