Centralizar direitos televisivos em 2023/24 é viável?
O economista João Duque considera viável centralizar os direitos televisivos das competições de futebol já na época 2023/24, propósito anunciado pela Liga de Clubes, admitindo que “é algo que se resolve com contas e dinheiro”.
Para João Duque, o facto de alguns clubes terem já antecipado as receitas dos direitos televisivos para além de 2024 “não deverá constituir problema” e “a solução passa por, durante um certo período, não beneficiarem da redistribuição”. “A solução não passa pelo clube repor aquilo que recebeu antecipadamente para depois receber em igualdade com os outros em função das novas regras, mas não receber durante um tempo por já ter recebido por antecipação”, defendeu o economista.
A Cimeira de presidentes dos clubes da I e II Liga acordou, na terça-feira, a centralização dos direitos televisivos “no mais curto espaço de tempo possível”, apontando a época de 2023/24, e a criação de uma “linha de crédito que pode ir até 100 milhões de euros“. “Se um clube já antecipou receitas, não é beneficiado com a distribuição durante um tempo. É uma questão que se resolve com facilidade. Sabe-se qual é o valor que corresponde a esses anos que estão sobrepostos, calcula-se o valor atual e desconta-se”, explicou à agência Lusa.
O economista adianta que “é algo relativamente fácil de fazer”, embora admita que “possam surgir outras questões, como com as taxas de atualização, mas nada que um pequeno grupo arbitral não possa dirimir com facilidade entre todas as partes envolvidas”. “Não sei se há aqui partes que estejam em divergência, admito que sim, com os clubes que não anteciparam receitas de um lado e os que já receberam de outro, mas depois haverá uma identidade independente que fará as contas e chegará a acordos relativamente simples”, adiantou.
Outra alternativa, ainda de acordo com João Duque, é os clubes que já anteciparam as receitas reporem as verbas antecipadas e, depois de aplicadas as novas regras da renegociação dos direitos televisivos, acertarem o saldo entre o que têm que repor e o que vão receber. Ainda segundo o economista, neste cenário poderá haver uma grande diferença entre as duas parcelas e os clubes que já anteciparam receitas para além de 2024 poderiam ter aqui alguma dificuldade, pelo que então, para esses casos, a Liga podia abrir uma linha de crédito.
«Quem não tem dinheiro, não tem vícios»
João Duque considera ainda que esta situação de endividamento “resulta de uma grande condescendência em relação à má gestão dos clubes” e da incapacidade dos seus dirigentes em os manter equilibrados e dentro das regras do ‘fair-play’ financeiro. “Para mim, é muito simples. Quem não tem dinheiro, não tem vícios, como se costuma dizer, acabou o dinheiro, não há mais, não há”, defendeu, acrescentando que “estas questões deveriam ser levadas mais seriamente e com sanções efetivas”.
João Duque aponta que alguns clubes fazem contratações “por números estratosféricos, quando aparentemente não têm capacidade, e sem o mínimo de cautela”. “As pessoas pegam nos planos de negócios e usam-nos no limite da despesa, imaginando que a receita que está escrita na folha de Excel está assegurada por Deus. As receitas têm muito mais flexibilidade e as despesas mais rigidez”, disse. O economista frisou, a título de exemplo, que “basta a venda de um jogador para a Rússia não ser cobrada, dado o momento político conturbado que se vive, para uma transferência destas dar cabo de um clube, porque não tem folga nenhuma”.
LEIA AINDA
Estrela do ténis perde a cabeça e agride árbitro [vídeo]
Siga a Impala no Instagram