Killer Kelly: “Os homens não se aproximam, devem ter medo”

Killer Kelly é o nome forte do wrestling português e há muito que a lutadora está a dar cartas no estrangeiro, sendo a única portuguesa com participações na WWE e Impact Wrestling.

Toca a campainha para iniciar o combate e Raquel Lourenço transfigura-se. A simpática designer gráfica, nascida em Lisboa, dá a vida à temível Killer Kelly, uma lutadora com uma vontade enorme de infligir dor nas adversárias. Aos 30 anos, é um dos valores seguros do wrestling europeu e a única portuguesa com participações na WWE e Impact Wrestling.

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A portuguesa está também em destaque no segundo episódio de Desafia as Odds, a série de documentários da Betclic. O paraeles esteve à conversa com a Raquel Lourenço, a jovem que se transforma em Killer Kelly quando o sino toca para começar o combate. Entre vários assuntos, a lutadora conta como surgiu a paixão pelos ringues e revela quais são as metas para o futuro.

“Portugal tem pessoas muito boas no wrestling”

Com surgiu esta paixão pelo wrestling?
Surgiu por causa do meu irmão mais velho. Lembro-me de ir ter com ele ao  sótão da nossa casa e ele estava a ver wrestling. Assim que vi o Kane a fazer a entrada dele para o ringue apaixonei-me. Nunca tinha visto nada igual, e só me lembro de pensar que queria fazer aquilo. Tinha 7 anos.

Como uma jovem designer gráfica portuguesa chega à WWE?
Pergunta bastante difícil, porque nem eu sei a resposta (risos). Ainda estou completamente abismada pelo facto de me terem convidado a participar nas gravações do WWE NXT UK e fazer parte do roster deles, e de participar no WWE Mae Young Classic 2018. O que posso dizer é que se trabalhares muito no teu objetivo, não tiveres medo de abdicar de muita coisa (principalmente da tua zona de conforto) e acreditares em ti mesmo, tudo é possível.

Por que motivo Portugal não tem mais nomes fortes nesta modalidade? 
Portugal tem pessoas muito boas no wrestling, mas há que compreender que não é um país de wrestling. Tudo se resolve à volta do futebol e todas as outras modalidades têm dificuldade em emergir. E essas pessoas ou desistiram do sonho, têm outros objetivos pessoais, ou saíram do país e estão neste momento a batalhar para chegar ao topo. Eu mudei-me para a Alemanha juntamente com um dos lutadores mais promissores e talentosos de Portugal e, neste momento, temos mais dois lutadores talentosos no Reino Unido a criar a sua própria marca. Somos poucos, mas estamos a trabalhar para sermos nomes sonantes no mundo do wrestling europeu e/ou mundial.

Existem condições de treino em Portugal?
Sim, existem! Eu comecei em Portugal, no WP Wrestling Portugal. Devo tudo ao meu treinador, o Bruno “Bammer” Brito.

 

 

“Quero ser uma das melhores lutadoras da minha geração”

Entra no ringue com um casaco de cabedal com a bandeira de Portugal bordada no braço. Faz questão de deixar bem claro quais são as suas raízes? Pode revelar com que música entra no ringue?
O meu casaco de cabedal tem a bandeira de Portugal só para deixar bem claro de onde vim. Nunca me vou esquecer de onde vim e o que tive de fazer para chegar onde estou. A minha música de entrada é bastante especial para mim. Faz-me sentir como uma “badass” no topo do mundo e, curiosamente, quando a ouvi pela primeira vez tinha cerca de 14 anos e disse para mim mesma: “Esta vai ser a minha música de entrada quando for uma wrestler”. E quando cheguei à wXw na Alemanha e estava a ter dificuldades em arranjar uma música, a minha playlist do telefone decidiu lembrar-me do que já tinha escolhido há mais de 10 anos atrás…  escolhi “Rockstar”, dos N.E.R.D.

E de onde surgiu o nome Killer Kelly?
É uma das minhas histórias favoritas! Em Portugal, o meu nome de lutadora sempre foi Kelly. Mas, como só lutava com homens, e o meu estilo de wrestling sempre foi mais “agressivo”, os fãs portugueses começaram a gritar durante os combates “Killer Kelly”. Assim que me mudei para a Alemanha decidi tornar-me naquilo que já era: Killer Kelly.

Quais são as diferenças mais evidentes entre a Raquel e a Killer Kelly?
A diferença mais evidente entre ambas é o facto que a Raquel está SEMPRE a sorrir. No ringue também sorrio, mas é mais um “creepy smile”.

Qual é o seu “signature move”?
Um dos golpes que as pessoas mais identificam comigo é quando o meu oponente está no canto do ringue, sentado, e eu corro de uma ponta à outra e dou um “dropkick” na cara. Sim, é tão doloroso quanto soa.

Quais são as metas para o futuro?
Continuar a trabalhar arduamente e ser reconhecida como uma das melhores lutadoras da minha geração.

“Estamos a provar que somos tão talentosas como os homens”

Quais são/foram as suas referências no Wrestling?
As minhas referências são dois lutadores: Low Ki e Katsuyori Shibata.

O que acha desta “nova vida” por que está a passar o wrestling feminino?
Acho que foi a melhor coisa que se poderia ter sucedido! Estamos a ter mais oportunidades e a provar que somos tão talentosas como os homens.

Neste momento, acha que uma cara bonita chega para ser wrestler? Acredita que o meio dá mais importância ao visual do que á técnica da lutadora?
Podes ser uma cara bonita no mundo do wrestling, mas se não tiveres a técnica e a paixão necessária nunca irás ter sucesso. Já não basta ser apenas “eye candy”, porque o esforço e dedicação contam muito mais.

Que treinos faz para se manter em forma? Que cuidados tem? Treina quantas vezes por dia?
Tento comer o mais saudável possível todos os dias, mas é impossível resistir ao meu vício de comer pizza. Por isso, vou ao ginásio todos os dias e treino na academia de wrestling da wXw.

Já teve alguma lesão mais grave? Os lutadores magoam-se a sério, ou faz tudo parte do entretenimento?
Felizmente, nunca tive uma lesão grave. Já torci ambos os tornozelos, o meu cotovelo esquerdo, e  tive também um estiramento muscular na coxa direita. Tudo recuperável em pouco tempo.

 

 

“Não me recordo de nenhum homem a aproximar-se de mim nos últimos tempos”

Dedica-se a 100% ao wrestling neste momento?
Com um enorme sorriso na cara, posso dizer que sim.

Como é a Kelly fora do ringue? Que coisas gosta mais de fazer nos tempos livres?
Fora do ringue sou muito caseira. Adoro estar em casa a ver filmes e séries durante horas enquanto como pizza, nada saudável, eu sei. Basicamente é isso que me faz feliz, para além do wrestling.

O que diz a família da sua carreira?
Apoiou-me bastante na decisão de mudar de país, e continuam a apoiar-me. A minha irmã até apanhou um avião de propósito da Suíça para o Reino Unido, para ver o meu primeiro combate pela WWE, no Royal Albert Hall.

Os homens não têm medo de se aproximar da Killer Kelly?
Que eu saiba, não. Mas ao mesmo tempo não me recordo de nenhum homem a aproximar-se de mim nos últimos tempos… Se calhar têm mesmo medo.

Vem muito a Portugal? Que locais costuma visitar?
Tento vir a Portugal pelo menos 2/3 vezes por ano, e vou aos meus sítios de eleição de quando morava cá: passear pela Baixa-Chiado, ir ao cinema do Alvaláxia, ir ao bar “O Sítio” beber um gin, ir ao meu ginásio antigo, fazer grandes jantaradas com os meus amigos e fazer algo muito parvo mas que eu tanto adoro: ir aos supermercados portugueses e simplesmente ver tudo o que têm nos corredores e ficar triste porque não tenho nada daquilo na Alemanha.

Percorra a galeria e veja algumas fotos de Killer Kelly.

Fotos: WWE

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