Sem Filtro | O ataque a Alcochete, a mentira de William e a reacção lamentável de Marcelo
Mantém no livro aquele que tem sido o seu relato do ataque à academia de Alcochete
No livro que lança hoje, Bruno de Carvalho aborda, entre muitos outros temas, o ataque à academia. Para o efeito, dá ao capítulo o nome de «meninos amuados».
Mantém no livro aquele que tem sido o seu relato dos acontecimentos e afirma que em abril de 2018, não pôde viajar com a equipa até Espanha, uma vez que «se aproximavam os derradeiros dias para o nascimento da Leonor e ainda não tínhamos a garantia da parte dos médicos de que iria correr tudo bem. A minha ansiedade era cada vez maior. Só esperava que a minha filha nascesse sem quaisquer complicações».
«Mandei uma mensagem de incentivo aos nossos jogadores. O jogo, porém, correu-nos mal. Perdemos 2-0 devido a erros individuais que facilitaram bastante a missão do nosso adversário. E a verdade é que não foram melhores do que nós. Após o encontro, recorri ao Facebook e escrevi uma publicação que muitos consideram ter sido o início do fim na minha relação com o plantel. Abordei algumas situações menos conseguidas dos nossos jogadores e também fiz críticas à arbitragem que me pareceu muito caseira»
«Mas, logo após a minha publicação no Facebook, o André Geraldes, que tinha ido com a equipa para Madrid, ligou-me e disse que os jogadores queriam reunir-se comigo porque não tinham ficado contentes com as minhas palavras. «Muito bem», disse eu. «Mas então proponho que ninguém diga nada até à reunião.» Foi-me transmitido que os jogadores aceitavam», continuam.
É então no dia seguinte que surge o comunicado conjunto dos jogadores do Sporting.
«Vi-me obrigado a reagir de imediato e voltei a recorrer ao Facebook para anunciar que, a partir daquele momento, todos os jogadores que tinham partilhado o comunicado estavam imediatamente suspensos e teriam de enfrentar a alçada disciplinar do clube. Há quem possa considerar uma decisão radical (até porque isto aconteceu a uma sexta-feira e tínhamos jogo no domingo, a contar para o campeonato, frente ao Paços de Ferreira), mas foi para mostrar a esses jogadores que o clube, e também escrevi esta parte na altura, não era uma república das bananas. Não se combinava uma coisa e fazia-se outra por trás»
«E volto a dizer que estava a poucos dias de saber se a minha filha poderia ou não nascer. Essa incerteza fazia com que reagisse ainda pior a traições e deslealdades como aquela comunicação dos jogadores», argumenta Bruno de Carvalho, aturando ainda que Jorge Jesus poderia ter resolvido tudo, se quisesse.
BdC desvenda ainda acreditar que este comunicado não foi escrito pelos jogadores
«A redação do documento contou com a preciosa ajuda de João Pedro Varandas, irmão de Frederico Varandas, que foi vogal do Conselho Diretivo no mandato de Godinho Lopes, em colaboração com Rogério Alves. Os dois são sócios na RA&A, uma empresa de advocacia. A ser verdade, isto só mostra que Frederico Varandas começou a sonhar com a presidência do Sporting muito antes da final da Taça de Portugal»
«Não é “você”, Rui, é “presidente”.»
Sobre a reunião com o plantel que se realizou na véspera da receção ao Paços de Ferreira,Bruno revela que esta teve alguns momentos de tensão.
«Rui Patrício, à frente de toda a equipa, insistia em tratar-me por você, mostrando algum desrespeito: «Você isto, você aquilo.» A certa altura, disse-lhe para parar de me tratar daquela forma. «Não é “você”, Rui, é “presidente”.» Tive de lhe pedir o mesmo três vezes. «Então, não quero dizer nada», concluiu ele. «Muito bem, e os senhores?», perguntei aos restantes jogadores», escreve.
É então que William Carvalho intervém e acusa BdC de ter pedido à Juve Leo para bater nos jogadores.
«O William Carvalho deu voz a uma teoria mirabolante: «Você julga que nós não sabemos que pediu à Juve Leo para nos bater?», referiu ele. Foi aí que, à frente de todo o plantel, puxei do telemóvel, coloquei em voz alta e liguei ao líder da Juve Leo, Nuno Vieira (mais conhecido por Mustafá). Ele atendeu sem fazer ideia do que se estava a passar na reunião, menos ainda de que eu iria ligar-lhe e colocar a chamada em alta voz à frente dos jogadores. «Alguma vez te pedi para ameaçares os jogadores?», perguntei. «O quê? Não estou a perceber nada», disse ele. «Estou a perguntar-te se alguma vez eu te disse para a Juve Leo ameaçar os jogadores do Sporting?», voltei a insistir enquanto todo o plantel ouvia a conversa. «Não, claro que não. Mas que conversa é esta? Não estou a perceber nada», tornou a dizer. «Pronto, obrigado.» Desliguei a chamada e dirigi-me ao William: «Pronto, estás contente? Agora todos os teus colegas sabem o mentiroso que és.» Mas, à conta daquela história do William, acredito que muitos dos outros jogadores ficassem a pensar que eu tinha feito algum pedido daqueles a uma claque do Sporting. Era uma mancha que ele estava a querer lançar sobre mim»
Mais adiante, acusa Frederico Varandas de ter sido ele a divulgar a foto de Bruno de Carvalho a ser assistido no posto médico após o jogo com o Paços de Ferreira.
«Hoje, consigo reconhecer que possivelmente fui injusto. Depois de pensar melhor, e olhar bem para a fotografia, lembrei-me das poucas pessoas que estavam naquele enquadramento. Um deles era o nosso médico, e atual presidente do Sporting, Frederico Varandas. Lembro-me bem de que, num dos momentos em que me virei, ele continuava a mexer no telemóvel.»
O ataque
«O aparecimento do Cashball, naquele preciso dia, serviu apenas como manobra de diversão para que eu e o André não estivéssemos na Academia à hora em que aconteceram os ataques. O André chegaria mesmo a ser detido, por causa desse processo, para depois o colocarem novamente em liberdade e retirarem todas as medidas de coação. Ou seja: a partir do momento em que a nossa administração foi destituída pelos sócios do Sporting, não se voltou a ouvir falar do Cashball. O assunto morreu logo ali», escreve, começando a abordar o tema do ataque.
«Quando entrei de carro na Academia, vi o Fernando Mendes (antigo líder da Juve Leo), mais umas pessoas que estavam com ele, a conversar muito tranquilamente com o Jorge Jesus e o William Carvalho. Volto a dizer que, nessa altura, eu ainda não fazia ideia de nada. Pareceu-me que estavam todos em amena cavaqueira»
Terá sido apenas quando entrou no balneário e viu o golpe de Bas Dost que se deu conta do sucedido. «Fui ter com o Jorge, que já estava no seu gabinete, e fiquei muito tempo a falar com ele para tentar perceber tudo o que tinha acontecido. E aqui entramos na história da suposta vergastada que deram a Jorge Jesus. No interrogatório de que fui alvo, tive oportunidade de dizer que se o agrediram com alguma coisa, deve ter sido muito ao de leve porque estive com ele quase duas horas e não tinha nada», alega.
A recção de Marcelo
Referindo-se aos dias seguintes ao ataque, Bruno afirma que a reacção do presidente Marcelo foi «lamentável».
«Não devem ter sido muitos os acontecimentos no país que provocaram uma reação em cadeia das três mais altas figuras de Estado: o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o Presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, e o primeiro-ministro, António Costa. As declarações dos primeiros dois foram lamentáveis. Ferro Rodrigues chegou mesmo a afirmar que eu tinha provocado um clima de ódio que levou aos ataques. Já Marcelo Rebelo de Sousa deu a entender que poderia não ir à final da Taça de Portugal, no Jamor, que conta sempre com a presença do Presidente da República, caso eu fosse.»
Sobre o que se passa a seguir, BdC imputa responsabilidades a Jorge Jesus e Frederico Varandas.
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