Vieira magoado com Rui Costa diz-se mesmo assim disposto a ajudá-lo
Antigo presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira deu na CMTV a primeira entrevista desde que renunciou ao cargo. Falou na qualidade de homem, ex-dirigente das águias e de empresário.
Luís Filipe Vieira, que esteve detido durante três dias em julho do ano passado no âmbito do chamado processo Cartão Vermelho, culminando com a sua renúncia ao cargo no clube da Luz, iniciou a entrevista na CMTV a responder por que só agora decidiu falar, e não em janeiro, como chegou a ser anunciado por aquele canal televisivo. “Em janeiro, podiam interpretar que queria desestabilizar o Benfica. E vim aqui porque fizeram [na CMTV] o meu julgamento popular. Por isso, estou aqui para fazerem todas as perguntas. Quem não deve não teme. Sou mais absolvido do que condenado, ando normalmente na rua e nunca fui ofendido por ninguém.”
“Não roubei o Benfica”
“Não roubei o Benfica. O Benfica é que, se calhar, roubou muito da minha vida familiar e empresarial. Passei 12 anos por burlão no caso BPN. Espero que neste caso também seja inocentado em vida, não em morto. Têm de provar se cometi ato algum, porque não o fiz.”
O dia da detenção
“Estava numa reunião e surgiram no meu gabinete. Fizeram buscas. Foram também a minha casa e a casa do meu filho. Até almoçaram comigo. Depois disseram-me que iria ser detido. Foi a quarta vez que foram a minha casa. Parecia que era um troféu de caça para alguém. O meu filho também foi detido. Foi terrível. É uma imagem que não quero repetir. Passei essa noite totalmente em branco. Soube depois que o José António [dos Santos, coinhecido por ‘Rei dos Frangos] também estava detido. Não se chama Rei dos Frangos, é um dos grandes empresários deste país, com mais de quatro mil empregados.”
Vieira troféu
“Não sei [para quem seria um troféu]. Parece que saiu uma lista e fui escolhido por alguém para ser bode expiatório para muita coisa. Já disseram que ia ser o biombo da justiça.”
Dívidas ao Novo Banco
“Fala-se muito do Luís Filipe Vieira porque era presidente do Benfica. Nunca tive o perdão de nada porque era figura pública. Na minha ótica, há gestão danosa por parte do Novo Banco. Do que me acusam não faz sentido algum. Alguém dentro do banco deveria ter avaliado o risco.”
Nomeação de vice-presidente do Benfica para a sociedade gestora
“Acha que eu mando num banco? O banco entendeu, dentro das negociações que desenvolvemos, fazer um fundo, onde colocou todos os ativos. Fizeram um plano de negócios a 15 anos entendendo que podiam desenvolver o negócio e recuperar o dinheiro. Quem escolheu a sociedade gestora foi o banco. Se o banco não deu os meios necessários à sociedade gestora, o que se faz? A culpa também é do banco, claro. Não tenha dúvida alguma [de que é vítima]. Não sou santo, nem nunca serei. De certeza absoluta que não desviei dinheiro, não comprei nenhum avião.”
OPA no Benfica
“Era algo muito importante para o Benfica. O José António [dos Santos] nunca foi avisado. Só duas ou três pessoas sabiam dessa operação. O Domingos Soares de Oliveira, o Miguel Moreira e os advogados. É impossível o Ministério Público ter alguma coisa sobre eu ter avisado alguém. No dia em que lançámos a OPA contei ao José António, que me disse que não vendia as ações dele. Não estava nada preocupado com quem poderia ganhar dinheiro, mas sim com o que o Benfica iria ganhar. Da minha parte, ia receber 5 euros [por ação], que foi aquilo que dei na altura. Queríamos o modelo do Bayern.”
John Textor
“O José António [dos Santos] pediu-me para falar com ele [John Textor]. Disse-lhe que o Benfica era um clube de excelência, que se tivesse de investir não teria de ter qualquer receio. Não falei mais com o John Textor. Não tive qualquer outra interferência, nem sei por quanto poderia comprar a parte do José António.”
Desvio de 2 milhões de euros do Benfica
“O Ministério Público tem de provar o que diz. O Bruno Macedo é um empresário como qualquer outro. Eu desviava dois milhões de euros e entregava património de borla ao Bruno Macedo? Então, eu e o meu filho éramos as pessoas mais estúpidas! Tive uma discussão com o Bruno Macedo por causa do Darwin. Dei-lhe 500 mil euros de comissão e ele entendia que devia receber mais. Não foi por ser amigo do meu filho. Nunca paguei comissões de 20 por cento. Paguei 15 por cento pelo Raúl Jiménez, que estava em final de contrato, e acordei com o Jorge Mendes que seria emprestado ao Wolverhampton, num grande negócio para o Benfica.”
A relação com Rui Costa
“Houve uma grande deselegância dele quando tomou posse. Magoou-me bastante. Até pela relação que tinha com ele. Gostava muito dele. Além disso, deu instruções para proibir dois fisioterapeutas de irem a minha casa, mesmo fora do horário de trabalho deles. Até parece que iriam passar-me informações. Falo com pessoas do Benfica e dizem-me sempre para não dizer que falaram comigo.”
Jorge Jesus
“O Jesus veio para o Benfica porque é um treinador que ganha rápido. Fiquei feliz, sou amigo dele. O primeiro ano foi uma desgraça completa por causa da covid-19. Mas neste último ano o Benfica tinha plantel para fazer melhor. Nem precisavam de ir buscar os jogadores que foram buscar. O Jorge Jesus, se tem sido devidamente apoiado, tenho a certeza que o campeonato seria completamente diferente. O diretor desportivo era o Rui Pedro Braz, que toda a gente sabe o trabalho que fez contra o Jesus. Quando o Jorge Jesus foi vaiado depois do jogo com o Sporting quem veio falar? Ninguém. Quando o Rui Vitória foi derrotado pelo Jesus, quem veio falar? Eu.”
Rui Pedro Braz
“Ninguém da administração do Benfica queria o Rui Pedro Braz. Ninguém o queria. Nem sei porque ainda lá está. A única pessoa que não queria o Jorge Jesus era o Tiago Pinto. Está na Roma e vamos ver se não vai parar a outro lado. Foi o diretor geral mais completo e competente no Benfica.”
Recusa voltar a ser presidente do Benfica
“Nunca mais serei presidente do Benfica. Estou disponível para ajudar o Benfica. As pessoas esquecem-se que em 19 anos só em dois anos tive férias. Dei o meu corpo ao Benfica. Quando fui a Leiria, não foi nada. As pessoas não sabem o que aconteceu dentro do estádio. O Benfica perdeu e começaram a dizer que eu contratei aqueles jogadores, como o Meite e outros. Mas não tenho hipóteses de voltar. Aquilo que passei é impossível passar novamente. mas se fosse a eleições, não tenho dúvidas de que ganhava.”
Roger Schmidt
“O Rui Costa neste momento é o responsável, mas – na minha opinião pessoal – contrataria um treinador português. Quando [o Rúben Amorim] me ligou já tinha assinado pelo Braga. Ele sabe o que vínhamos a falar. Se fosse presidente do Benfica, teria uma conversa séria com o Rúben e garanto que exercia a cláusula de rescisão de 30 milhões. Passado um ano estava pago. Mas neste momento o Rúben não sai do Sporting. Segundo consta, até teve propostas e não quis sair.”
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