The Last of Us: estará a ficção perto de virar realidade?

O enredo de The Last of Us decorre num mundo pós-apocalíptico zombie, em que um fungo parasita transforma as vítimas em zombies.

The Last of Us: estará a ficção perto de virar realidade?

Recentemente, a HBO Max estreou a série The Last of Us baseada na franquia de jogos eletrónicos criada por Neil Druckmann. O estrondoso sucesso do primeiro episódio foi notícia ao longo de toda a semana, tendo mesmo superado a audiência da estreia de House of the Dragon e da segunda temporada de Euphoria. O primeiro episódio começa com uma cena em que dois epidemiologistas são entrevistados sobre a possibilidade de novas epidemias, sendo que um acredita num vírus e o outro num fungo. Na série, Cordyceps é o nome do fungo responsável por controlar a mente dos seres humanos.

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A explicação científica do fungo zombie da série The Last of Us
Em The Last of Us, tal como no jogo, o fungo zombie domina o cérebro. De início, leva lentamente o hospedeiro a perder a racionalidade, depois os sentidos e, na fase final, deixa de ser um humano. (… continue a ler aqui)

Para comentar o tema nada melhor do que o neurocientista Fabiano de Abreu e a bióloga Dalila Suterio. Como elucida a também mestre em infectologia, “Existem mais de 600 espécies já descritas que infectam insetos e outros artrópodes, como escorpiões e aranhas, transformando-os em ‘zombies‘. Estes fungos são capazes de controlar as funções motoras para a sua propagação, através de alterações no comportamento do hospedeiro. A infeção em humanos, como retratada na série, seria improvável e seriam necessárias grandes alterações e alguns milhões de anos. Mas não é impossível!”.

“A humanidade está a criar condições perfeitas”

Os dois investigadores alertam que infeções por fungos matam 1,7 milhões de pessoas todos os anos em todo o mundo. Além disso, evoluem rapidamente e tornam-se infecções mais difíceis de tratar. “Apesar de não existirem evidências de que estamos próximos do cenário retratado na série, a humanidade está a criar condições perfeitas para surgirem fungos capazes […] cada vez mais resistentes que nos deixam mais suscetíveis a infeções”, alerta Dalila. O aquecimento global e o uso de fungicidas na agricultura pode-se acelerar este processo.

Mas até que ponto a presença de fungos no sistema nervoso central pode nos tornar verdadeiros ‘zombies’? Fabiano de Abreu esclarece que “os corpos podem tornar-se uma extensão do próprio fenótipo do fungo já que o fungo é conhecido por secretar metabólitos específicos no tecido e causar alterações na expressão genética, o que resulta no comportamento alterado do hospedeiro.

As células fúngicas estão ligadas e formam uma rede para controlar o comportamento do hospedeiro coletivamente. Até então, como exemplo das formigas ‘zombies’, as células fúngicas controlam o sistema nervoso periférico, preservando o cérebro para a sobrevivência do animal enquanto o fungo projeta o objetivo final que é se propagar. No primeiro episódio da série vemos que a forma de propagação é através da mordida.”

“O improvável não é impossível”

Falando mais especificamente em como a neurociência e a neuroanatomia podem ajudar a compreender a questão, o neurocientista explica-nos que “os cérebros das formigas manipuladas apresentam alterações em substâncias neuromoduladoras, sinais de neurodegeneração, alterações no uso de energia e compostos antioxidantes que sinalizam reações de stress por parte do hospedeiro. No caso dos seres humanos, é mais improvável que tal fungo tenha capacidade para nos transformar em zombies, devido às diferenças entre a biologia humana e a dos insetos.” Ainda assim, alerta que “o improvável não é impossível…”.

Fotos: Reprodução IMDb

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Lavatórios escondem muitos perigos mortais
“Passamos 90% do nosso tempo dentro de quatro paredes, por isso estamos expostos a fungos casa e no local de trabalho”. Para certas pessoas, podem mesmo revelar-se fatais. (… continue a ler aqui)

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