A verdade sobre a pandemia: 5 perguntas sobre covid-19 e gripe

Robert Webster, Richard Webby e James Downing reúnem-se para discutir a covid-19 e a gripe e para revelarem cinco questões sobre a pandemia.

Robert Webster, doutorado em Filosofia e docente emérito, é responsável por encontrar a ligação entre o reservatório mundial do vírus da gripe e as aves aquáticas migratórias. Dedicou a carreira a caçar os vírus da gripe e a ajudar o mundo a preparar-se melhor para a próxima pandemia. Webster e Richard Webby, membro do Departamento de Doenças Infecciosas da Organização Mundial de Saúde para Estudos sobre Ecologia da Gripe em Animais e Aves, também filósofo, conversam com James Downing, presidente e CEO da St. Jude, para discutir covid-19 e gripe. Desta conversa, resultaram cinco explicações sobre a questão da pandemia.

1. De onde vem o coronavírus que provoca a covid-19?

Richard Webby
“O SARS-CoV-2, vírus que causa a covid-19, “é apenas mais um”, diz Richard Webby

Richard Webby explica que “existem quatro coronavírus que já circulam em humanos” e que “todos eles começaram como vírus de outros animais que se transmitiram aos humanos”. O SARS-CoV-2, vírus que causa a covid-19, “é apenas mais um”. “Escapou da vida selvagem na China, mudou-se para os mercados de animais vivos e saltou para os humanos naquele ambiente. É esta a nossa melhor tese, o nosso melhor palpite.”

2. Que papel desempenharam nesta pandemia os mercados de animais vivos da China?

“Os mercados de animais da Ásia remontam aos tempos antigos”, situa Robert Webster. “Sem refrigeração, especialmente no sul da China, é impossível manter a carne fresca. Para resolver esse problema, desde há séculos atrás que introduziram nos mercados os animais vivos, particularmente os de aves.

“Com o tempo – desenvolve o estudioso Webster –, os mercados de aves vivas continham não apenas galinhas, patos e gansos, mas também animais selvagens. A carne de animais selvagens é considerada uma iguaria. O surto de SARS-CoV-1 de 2003 veio de um morcego-ferradura e passou por um hospedeiro intermediário, um gato civeta.

Robert Webster
“Sabemos como isto ocorreu. Estudos com morcegos na China nos últimos meses isolaram 10 coronavírus em apenas uma única caverna”, explica Robert Webster

“Colegas a quem passei o meu conhecimento, aqui em St. Jude, regressaram a Hong Kong e caracterizaram não apenas o hospedeiro intermediário, mas determinaram que esses vírus eram coronavírus.

“Nesses mercados, os animais não são mantidos separadamente. E essa é a dificuldade. São empilhados em seis a oito gaiolas, às vezes com galinhas e patos na mesma gaiola, um cão num canto e um gato civeta noutro. E este é o terreno fértil perfeito para os vírus”, adverte Webster.

“Normalmente, são as mulheres que fazem as compras – e levam os filhos com elas aos mercados. Às vezes, mexem nos pássaros da gaiola para sentirem se é bom e gordo. Se decidirem que é, o pássaro é abatido ali mesmo. Trata-se de facto do lugar perfeito para a transmissão. A própria ideia de que a covid-19 surgiu de um laboratório – e não naturalmente – é abominável para mim. Isto ocorreu muitas e muitas vezes na Natureza. Sabemos como isto ocorreu. Estudos com morcegos na China nos últimos meses isolaram 10 coronavírus em apenas uma única caverna. Há uma grande quantidade de vírus em morcegos dos quais pouco ou nada sabemos.”

3. E a imunidade? Esse vírus ficará connosco para sempre?

Richard Webby
“Este vírus ficará connosco para sempre”, acredita Richard Webby

Richard Webby considera a resposta extremamente complicada e sugere apenas, e por enquanto, o palpite de que “este vírus ficará connosco para sempre”. Acha, porém, “que teremos um período a atravessar” até que o “vírus se torne mais parecido com uma constipação comum”. Ou, “na pior das hipóteses, talvez com uma gripe”. “Foi o que aconteceu com todos estes vírus. Passam de animais para humanos e os seres humanos não têm qualquer imunidade. Portanto, há sempre um período de doença galopante até que se transforme em algo com o qual podemos viver.”

4. O que podemos esperar nesta temporada de gripe?

Robert Webster
“É extremamente importante tomar vacinas contra a gripe este ano. Se estes dois vírus circularem ao mesmo tempo, haverá realmente complicações acrescidas”, adverte Robert Webster

“A minha resposta vai ser completamente insatisfatória”, avisa Webby. “Simplesmente, não sabemos. Essencialmente, temos duas hipóteses. Primeiro, teremos dois vírus respiratórios graves a circularem ao mesmo – o que talvez complique os diagnósticos. Segundo, a atividade da gripe tem sido incrivelmente baixa no hemisfério Sul. Muito provavelmente porque as pessoas usam máscaras e se distanciam socialmente – e isso funciona muito bem contra a gripe e outros vírus respiratórios também. Portanto, podemos estar em qualquer uma das extremidades do espectro. Mas, na realidade, não sabemos o que esperar” desta temporada de gripe, diz. “E esse é o problema.

“É extremamente importante tomar vacinas contra a gripe este ano. Se estes dois vírus circularem ao mesmo tempo, haverá realmente complicações acrescidas. Mas se pudermos vacinar-nos e, pelo menos, tirar o máximo possível a gripe da equação, melhor. Webster reforça a importância da vacinação, exatamente porque “não podemos prever a gravidade da gripe”, o que é mais “uma das perguntas sem resposta para o futuro”.

5. Quanto tempo vai demorar a pandemia, para que possamos voltar para à praia ou assistir a eventos desportivos?

James Downing
A imunidade de grupo e o fim da pandemia, assegura James Downing, “está nas mãos da população”

“Quando uma vacina é aprovada, é importante que a tomemos”, aconselha Webster. “Temos o poder de decidir se vamos voltar ou não a ter público nas bancadas no próximo verão. Se conseguirmos aumentar a imunidade para mais de 70%, estaremos de volta aos recintos desportivos com segurança. Se você não atingirmos a imunidade de grupo, não voltaremos aos estádios”, adverte. “Tomem a vacina – não apenas a vacina contra a gripe, mas a vacina contra a covid-19. É uma necessidade absoluta”, alerta. “A vacina pode não proteger-nos por mais do que que alguns meses, mas teremos memória imunológica para o resto da vida”, explica. Se tomarmos a vacina contra a covid-19, “deixaremos de morrer se formos atingidos por este vírus”, assegura Webster.

A imunidade de grupo e o fim da pandemia, assegura Downing, “está nas mãos da população”. “Conforme as vacinas estiverem disponíveis, é nossa obrigação tomá-las. Só vacinando-nos poderemos voltar a ter uma vida normal. Vai exigir que todos nós trabalhemos juntos para o conseguirmos.”

E se o Plano de Vacinação da covid-19 não cumprir os requisitos científicos?

Plano de vacinação da covid-19 está errado: os vulneráveis podem esperar

Para acabar com a transmissão maciça da covid-19, fica mais claro que é necessário abrir ‘fogo’ aos supercontagiadores e não aos confinados, como os que estão em lares, em prisões e noutros ambientes ‘herméticos’. É mais lógico vacinar primeiro as borboletas sociais. Elas são o alvo ideal da nova arma da pandemia: a vacina. Elas são as pessoas com muitos contactos em diferentes ambientes, elas são as que têm famílias numerosas, multigeracionais, elas são as que têm empregos que obrigam a conviver com muitos estranhos, elas são as que têm uma vida social agitada.

A Wired explica como dever-se-ia contestar atual política de vacinação contra a covid-19, segundo a qual os idosos e os mais vulneráveis serão os primeiros a receber as vacina, depois de inoculados os profissionais de Saúde e da Segurança. A reportagem inicia-se com a história de um social butterfly – borboleta social, em Português – termo usado para descrever os supercontagiadores. [… continue a ler aqui]

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