Crianças que comem mais fruta e vegetais têm melhor saúde mental
Duas em cada dez crianças sofrem de um problema de saúde mental, segundo a OMS. Novo estudo conclui que se comessem fruta e vegetais podíamos proteger os nossos filhos de sofrerem, por exemplo, de ansiedade ou de depressão.
Cerca de 10 a 20% das crianças e dos adolescentes de todo o mundo sofrem de um problema de saúde mental, como ansiedade ou depressão, de acordo com a Organização Mundial de Saúde. Também está demonstrado que metade de todas as condições de saúde mental começam aos 14 anos. Dada a importância e a formação da adolescência na vida de um indivíduo, é de extrema importância encontrar formas de proteger ou de melhorar o bem-estar mental de crianças e de jovens. A introdução de fruta e vegetais na alimentação é um passo importante nessa direção.
Uma boa nutrição e dieta alimentar são trunfos valiosos para a saúde física – por isso os especialistas recomendam que tomemos cinco porções de fruta ou vegetais por dia. Recentemente, vários estudos vieram também sugerir que a nutrição pode influenciar a saúde mental. O estudo recente sobre a matéria permitiu concluir que ter uma dieta mais nutritiva, rica em frutos e vegetais, e tomar um pequeno-almoço e adotar hábitos de almoço mais saudáveis estão associados a um melhor bem-estar mental nas crianças.
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Para conduzir o estudo, foram usados dados da Pesquisa de Saúde e Bem-estar de Crianças e Jovens de Norfolk, que reuniu valores sobre o bem-estar mental e diferentes as coisas com impacto no humor – como estrato socioeconómico e a idade – em crianças em mais de 50 escolas de Norfolk, a Norte de Londres, na Inglaterra. As conclusões permitiram o estudo da importância do consumo de frutos e verduras e das escolhas alimentares – por exemplo, o que tomaram os alunos ao pequeno-almoço e ao almoço – com o bem-estar mental nesta faixa etária.
As análises reuniram questionários a 1.253 alunos do ensino primário com idades entre 8-11 anos e a 7.570 alunos do ensino secundário com idades entre 12-18 anos. Os questionários foram diferentes para ada grupo e permitiram observar e qualificar o bem-estar mental, pedindo-lhes que avaliassem quantas vezes tiveram os sentimentos descritos em afirmações como “Tenho-me sentido bem comigo mesmo” ou “Tenho-me sentido amado”. As pontuações de cada afirmação foram somadas para dar um resultado final. Quanto maior fosse a pontuação, maior seria o bem-estar mental da criança.
Foram ainda colocadas questões sobre a idade, o sexo, a saúde, a situação de vida e as experiências adversas (como ser intimidado, ou vivenciar brigas ou violência em casa) a par de perguntas sobre que tipos de alimentos costumavam comer. Isto foi importante para que, em vez de ser investigada apenas nutrição e o bem-estar por conta própria, pudesse ser levados em consideração outros fatores passíveis de afetar a pontuação de bem-estar de cada indivíduo. Foi possível demonstrar que a ligação entre uma dieta mais saudável e um melhor bem-estar mental ainda existia mesmo depois de considerados todos os outros fatores.
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Refeições nutritivas com fruta e vegetais
No grupo do ensino secundário, o maior consumo de frutas e vegetais foi associado a melhores resultados de bem-estar mental – cerca de 8% mais alto para aqueles que comeram cinco porções diárias em comparação com aqueles que não comeram nenhuma. Também foi possível provar que a pontuação de bem-estar variou, dependendo do tipo de pequeno-almoço ou almoço com que os participantes se alimentaram. Em comparação com crianças do ensino secundário que tomaram um pequeno-almoço convencional (cereais, torradas, leite), aqueles que não tomaram pequeno-almoço tiveram uma pontuação de bem-estar mental quase 6% inferior. Os que consumiram apenas uma bebida energética ao pequeno-almoço tiveram uma pontuação de bem-estar quase 7% mais baixa.
As pontuações foram igualmente baixas para os que não almoçaram, em comparação com aqueles que o fizeram. Estas associações também foram semelhantes nas crianças do ensino primário. O estudo revelou ainda que, em média, numa turma de 30 alunos do ensino secundário, quatro não comeriam ou beberiam antes da escola e três não comeriam ou beberiam durante a hora de almoço. Detetou-se também que apenas 25% das crianças do ensino secundário comiam cinco ou mais frutas e vegetais por dia – e um em cada dez não comia nada.
As estatísticas seriam preocupantes, mesmo sem o vínculo encontrado com a saúde mental, uma vez que uma nutrição deficiente provavelmente afetará o desempenho escolar, bem como o crescimento e o desenvolvimento. Continua contudo a existir crianças da primária que tomam pequeno-almoço e almoço, mas cuja ingestão de frutas e vegetais continua pobre.
Crianças elegíveis para refeições escolares gratuitas
Para colocar as descobertas em perspectiva, não tomar pequeno-almoço ou almoçar foi associado a um efeito prejudicial sobre o bem-estar mental de crianças que testemunham discussões regulares ou violência em casa. Mas, como o estudo foi apenas observacional, é difícil demonstrar com exatidão a causa do baixo bem-estar mental até que haja testes complementares que permitam entender completamente as causas e ter certeza de que uma melhor nutrição vai melhorar o bem-estar mental das crianças.
Os resultados mostram por último que uma nutrição de boa qualidade deve estar disponível para todas as crianças e jovens para melhorar o bem-estar mental e ajudá-los a atingir o potencial pleno. Para isso, é essencial garantir que todas as crianças elegíveis para refeições escolares gratuitas as usem e que as refeições fornecidas pela escola contenham, pelo menos, duas porções de fruta ou de vegetais. É essencial que estas abordagens tenham de ser apoiadas por políticas escolares associadas a estratégias de saúde pública.
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