Ucrânia: As diferenças entre forças bélicas e as implicações do conflito
Compare o poderio bélico das partes envolvidas no regresso da guerra no leste da Europa – NATO, Rússia e Ucrânia – e que implicações económicas está a ter o fim da paz na Euroásia?
A tensão militar e diplomática entre a Rússia e a Ucrânia intensificou-se no outono de 2021, quando autoridades ucranianas informaram que o governo russo colocou 100 mil soldados perto da fronteira entre os dois países. Em fevereiro de 2022, a contagem foi declarada ter dobrado. Em 21 de fevereiro de 2022, o presidente russo, Vladimir Putin, anunciou que a Rússia reconheceu a independência das repúblicas separatistas de Donetsk e Luhansk (DPR e LPR). Três dias depois, lançou uma operação militar na Ucrânia, supostamente para proteger os moradores da região de Donbas do governo ucraniano.
Em dezembro de 2021, o governo russo divulgou uma lista de reivindicações aos países ocidentais, uma das quais a garantia legalmente vinculativa de que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) não se expandiria mais para o leste. EUA e NATO pediram o uso de meios diplomáticos para resolver o conflito. Em fevereiro de 2022, o Ministério das Relações Exteriores da Rússia sugeriu que os EUA retirassem tropas do leste e sudeste da Europa e dos estados bálticos.
Grandes diferenças entre as partes em conflito
Em 2022, a NATO tinha aproximadamente 3,37 milhões de militares ativos em comparação com 1,35 milhões de militares ativos nas forças armadas russas. As capacidades militares coletivas dos 30 países que compõem a NATO superam a Rússia em termos de aeronaves, de 20.723 para 4.173, e em poder naval, com 2.049 navios militares contra 605. A capacidade de blindados da Rússia é, porém, mais competitiva, com 12.420 unidades terrestres contra 14.682. O arsenal nuclear combinado de Estados Unidos, Reino Unido e França totaliza 6.065 ogivas nucleares, em comparação com as 6.255 da Rússia.
A reação internacional aos eventos
Dado o desequilíbrio militar entre Rússia e Ucrânia, vários países ocidentais ofereceram apoio militar à Ucrânia. Vários membros da NATO enviaram tropas adicionais aos aliados na Europa Oriental. EUA, Reino Unido e União Europeia (UE) impuseram sanções à Rússia, que visavam o setor financeiro, indivíduos afiliados ao governo e exportações de produtos de alta tecnologia para a Rússia, entre outros. A UE também impôs restrições ao comércio com o DPR e o LPR, enquanto os EUA proibiram transações com o Banco Central da Rússia e sancionaram indivíduos na Bielorrússia por ajudar na invasão. A Alemanha suspendeu a certificação do gasoduto Nord Stream 2.
Outras sanções foram anunciadas por Austrália, Canadá, Japão e Suíça. China e Índia assumiram posição neutra no conflito, enquanto os governos de Bielorrússia, Cuba, Irão, Mianmar, Síria e Venezuela apoiaram oficialmente a Rússia.
Implicações económicas do conflito na Ucrânia
Após o anúncio de Putin da operação militar na Ucrânia, o valor do rublo russo em relação ao dólar norte-americano e ao euro caiu para um mínimo histórico. O Banco Central da Rússia interveio nos mercados de câmbio para administrar a moeda. Além disso, em 24 de fevereiro de 2022, os preços dos barris de petróleo West Texas Intermediate (WTI) e Brent ultrapassaram 100 dólares norte-americanos, devido ao papel da indústria petrolífera russa na oferta global. O fato de a Ucrânia transportar gás russo para a Europa, juntamente com o congelamento do Nord Stream 2, levou os futuros de gás TTF holandeses a crescerem até 125 euros por megawatt-hora. O fornecimento de gás russo pela rota de trânsito da Ucrânia representou, sozinho, 11% das importações líquidas de gás extra-UE da UE no terceiro trimestre de 2021. Os preços de outras commodities de exportação da Rússia, como trigo (cujo outro grande exportador é a Ucrânia), alumínio e paládio, também foram impactados pelo conflito.
Relações russo-ucranianas após 2014
Os eventos de 2021 e 2022 fazem parte de um conflito maior entre os dois estados vizinhos, com raízes em 2013. Após os protestos do Euromaidan na Ucrânia em novembro de 2013, a Rússia anexou Crimeia e Sebastopol da Ucrânia, justificando o movimento com os resultados de um referendo, não reconhecido como legal pela maioria dos países do mundo. Além disso, a partir de 2014, ações militares têm ocorrido entre o DPR e o LPR, apoiados pela Rússia, e o governo ucraniano. O Acordo de Minsk (Minsk II), que inclui um conjunto de medidas para alcançar um cessar-fogo no leste da Ucrânia, foi assinado por representantes da Rússia, da Ucrânia, da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), o DPR e o LPR, em 2015, mas que continua por implementar.
Luís Martins
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