Custódia Gallego “Depois da morte do meu filho, tornei-me mais amarga”

Tem 65 anos e uma vida cheia. Diz-se amarga, mas é doce no trato e intensa na gargalhada. Fala de tudo e sem medo de expor as emoções. Viu um filho partir há seis anos, revoltou-se com a morte do pai e lidou com a “eutanásia natural” da mãe, uns meses mais tarde.

A graça da tua profissão é a capacidade de teres ao mesmo tempo duas personagens opostas. Fizeste a irritantemente maravilhosa Lurdes na novela A Promessa e ao mesmo tempo esta médica. Em algum momento pensaste que preferias trocar de vida com alguma delas?

[pausa] Oh, é evidente que se me surgisse essa hipótese, eu escolheria qualquer uma que não tivesse tido a experiência que eu tive. Não é a Custódia, que eu gosto dela, mas já gostei mais [risos]. Sempre fui sarcástica e achava graça a isso.

Continuas a ser sarcástica?

Um bocadinho, mas sei que me tornei uma mulher amarga [pausa]. Antes da morte do meu filho, entusiasmava-me por tudo.

Mas quando pensamos numa pessoa amarga, pensamos num tipo de pessoa diferente daquela que tu te revelas ser.

[risos] Mas eu não deixo de ser a Custódia. A grande diferença é a maneira como encaro as coisas agora [pausa]. Continuo entusiasmada, adoro fazer isto e sinto-me privilegiada por ter feito esses dois textos. Mas, por exemplo, se eu tiver obrigações, ou coisas que tenho de fazer, pesa-me tudo.

Conversaste com outras mães?

Não. Na minha opinião, partilhar com os outros este tipo de experiências apenas mitiga a dor durante uns minutos. Depois, volta tudo ao mesmo.

Disseste agora mesmo que escolheste viver. Foi uma escolha?

[longa pausa] Foi. Podia não ter escolhido.

Leia esta entrevista na íntegra na sua NOVA GENTE desta semana. Já nas bancas.

Texto: Nuno Azinheira; Fotos: Zito Colaço

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