Manuel Luís Goucha entrevista mãe de Rui Pedro: «A Filomena não é louca»
Filomena Teixeira concedeu uma entrevista a Manuel Luís Goucha no dia em que se assinalam os 23 anos do desaparecimento do filho. Perante o testemunho da mãe de Rui Pedro, o apresentador não conteve a emoção.
No dia em que se assinala o 23.º ano do desaparecimento de Rui Pedro, a mãe, Filomena Teixeira, concedeu uma entrevista ao vespertino da TVI, “Goucha“. Em conversa com Manuel Luís Goucha, Filomena não perde a esperança de reencontrar o filho volvidas mais de duas décadas. Rui Pedro, recorde-se, desapareceu no dia 4 de março de 1998, em Lousada. Tinha, na altura, 11 anos.
Após a emissão da entrevista, e já em estúdio, o apresentador não conteve a comoção perante o testemunho de Filomena. “Apeteceu-me tanto abraçá-la, mas não se pode agora”, começou por dizer o rosto da TVI, de lágrimas nos olhos, para depois defendê-la das críticas que recebeu. “A Filomena não é louca. A Filomena é uma mãe a querer saber de um filho que desapareceu há 23 anos”, afirmou com a voz embargada.
Durante a entrevista, é perante uma mulher uma mulher “frágil”, “vulnerável” e com “uma vida suspensa”, como o próprio anfitrião das tarde da estação de Queluz de Baixo a descreve, que Filomena abriu o seu coração e continua a acreditar que o filho vai, um dia, aparecer à porta de sua casa. “Espero por ele até morrer. Só não queria morrer sem saber dele”, disse a mãe de Rui Pedro. Para sobreviver, conta, agarra-se à “memória” do filho e à sua outra filha, Carina. “A minha filha dá-me tantas alegrias. Nunca me deu problemas […]. A minha filha é a luz dos meus olhos. Costumo dizer-lhe que a adoro mais do que tudo”, confessou.
Filomena: “Podem chamar-me de louca mas ainda não perdi a esperança”
“Disseram de mim todo o tipo de barbaridades. Desde que eu vendi para as drogas até que o Rui Pedro era filho do Afonso [Dias]… enfim”, rememorou Filomena durante a conversa, afiançando também que, ao início, essas acusações não abalaram, mas que depois estas imputações a “perturbaram”. “Se a Judiciária acreditou no que estavam a dizer, eles não estavam a fazer um [bom] trabalho”, exprimiu Filomena com alguma revolta.
A presença de Rui Pedro, segundo Filomena, é diária e recordada em todos os momentos da sua vida. “Podem chamar-me de louca, mas ainda não perdi a esperança de pelo menos saber o que aconteceu. Tenho dúvidas, sabe? Há alturas em que acho que está morto, mas há outras em que penso que está vivo e é isso que me alimenta, a esperança de um dia o encontrar”, relatou, embora reconhecendo que viver desta forma é, para ela, uma tortura. “É viver sempre com aquela ambivalência. Torturo-me a mim e à minha família toda. Tive quatro internamentos. No primeiro ia mais morta do que viva, já nem conhecia a minha filha. Fui ao fundo do poço.”
Mãe de Rui Pedro não desiste do filho: “O meu coração diz-me que tenho de continuar”
Passaram-se 23 anos. Um dia após o outro, Filomena mantém a esperança de encontrar o filho e desistir não é opção, até porque quer que a sua história sirva de exemplo para outros pais com filhos desaparecidos. “O meu coração diz-me que tenho de continuar, que não posso desistir. Se desistir vou demonstrar às outras pessoas que têm filhos desaparecidos que se desiste de um filho como se desiste de um objeto. Um filho é nosso para sempre”, contou.
“Se o visse na rua, reconhecê-lo-ia?”, questionou Manuel Luís Goucha. Quanto a isso, Filomena Teixeira respondeu de forma perentória. “Sim. Não tenho dúvidas”, afirmou, imaginando-o como um homem “alto” e “magro”. “Eu sou suspeita, porque sou mãe, mas ele tem uns olhos maravilhosos. Tem uns olhos rasgados com umas pestanas (…)”, evocou com um saudosismo latente.
Filomena Teixeira sobre Afonso Dias: “Ele sabe mais do que aquilo que disse”
Ainda durante a entrevista, Filomena Teixeira abordou a condenação de Afonso Dias, considerado culpado pelo crime de rapto de Rui Pedro e condenado em Segunda Instância a 3 anos de prisão efetiva. Apesar de Afonso Dias já ter cumprido dois terços da pena, Filomena acredita que este “sabe mais do que aquilo que disse” e que nunca mais voltou a falar com ele. “Não, graças a Deus. Nem tenho vontade. Eu vi-o depois de o meu filho ter desaparecido. Disse-lhe se não estava na altura de ele dizer alguma coisa. E ele disse-me, com cara de cínico, que não tinha nada para dizer. Nem a mim, nem à minha família”, contou a mãe de Rui Pedro, que considera ter sido “mais do que uma mãe para ele”. “Eu é que o ensinei a tomar banho, a ter cuidado com a higiene. Dei-lhe muita roupa… vesti-o e alimentei-o muitas vezes”, acrescentou.
Filomena considera que a chave para o desaparecimento de Rui Pedro reside, precisamente, em Afonso Dias. “Eu acho que ele não agiu sozinho, mas que ele sabe mais do que aquilo que disse. No último julgamento remeteu-se ao silêncio”, referiu, admitindo que precisa de encontrar o corpo do filho para fazer o devido luto.
Texto: Alexandre Oliveira Vaz; Fotos: Redes Sociais
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