Marco Costa “Sou duro, mas o primeiro a chorar lá em casa” (entrevista exclusiva)
A participação num reality show mudou-lhe a vida, mas ele não mudou. Aos 34 anos, continua a ser “apenas” um pasteleiro. Tem o que nunca sonhou ter e confessa que já não tinha necessidade de começar a trabalhar às cinco da manhã, mas fá-lo para dar o exemplo. Tem orgulho do que conseguiu, mas diz que vai continuar a ser uma “criança grande”.
Quando olhas para a frente e vês esta loja, e olhas para trás e pensas no que foi o teu percurso de vida, o que é que tu sentes?
Orgulho [sorriso]. E posso dizer que faço esse exercício muitas vezes. Sou uma pessoa que quer sempre mais, no sentido de poder dar mais também e partilhar. Quando sinto que as coisas não estão a andar para a frente, tenho a tendência de olhar para trás e pensar: “Calma, isto não está à velocidade do que queres, mas não estás onde começaste.”
E começaste num reality show. Ou, pelo menos, foi aí que os portugueses te conheceram. Ias com que objetivo?
Na altura, eu tinha uma namorada, que terminou comigo porque disse que eu não era ninguém, que era um simples pasteleiro. Entrei na Casa dos Segredos 2, e ela já se tinha inscrito para a Casa dos Segredos 1, mas não entrou. E eu disse: “Estás completamente enganada, não é porque eu não falo da minha vida que não tenho uma história.” Depois, curiosamente, entrámos os dois [pausa]. Para ser sincero, não fui à procura de fama, nem de dinheiro, entrei completamente para o desconhecido, nunca tinha visto a Casa dos Segredos e foi numa de mostrar que eu era alguém.
Mas percebeste que, dado o sucesso que os reality shows tinham em Portugal, a notoriedade que o programa te ia dar poderia mudar a tua vida?
Não posso dizer que sim, para te ser completamente honesto. Não sou aquele tipo de pessoa que aborda alguém conhecido na rua, portanto nunca pensei que fosse ser o que foi. No meu tempo, a final foi no Campo Pequeno. Lembro-me bem que, depois de três meses e meio na casa, tinha o Campo Pequeno a gritar por mim. Fiquei banzado. “O que é que é isto?” Não estava nada à espera. Pensei que ia sair, seguir a minha vida e ser pasteleiro.
Essa ideia de ser “só” pasteleiro – como a tua antiga namorada te dizia – marcou-te?
Até me deu força. Antigamente, mesmo as revistas escreviam “Marco, o pasteleiro”, e hoje em dia já dizem “o empresário”. Mas esquecem-se que é o empresário e o pasteleiro.
Dizes com orgulho.
Claro. Nunca nego o facto de ser um simples pasteleiro, porque sou um simples pasteleiro. E é curioso que, se antes gozavam, hoje respeitam-me, e eu continuo a ser um simples pasteleiro.
O que é que é ser um simples pasteleiro?
Não sei, mas também não sei o que é ser algo sem ser pasteleiro. Para mim, é uma profissão importante como as outras. E tento sempre ser simples, mas o melhor.
Quando pensas no que conquistaste, esse orgulho vem dessa tua ambição e certeza que foi do teu trabalho que conseguiste tudo o que tens?
Acho que sim. Confesso que sou um bocado criado à maneira antiga, em que o homem tem de ser o provedor. Tudo o que faço é com esse sentido. Saber que o meu percurso foi o que foi, que decidi arriscar em mim próprio, manter a minha profissão e abrir o meu negócio, é muito relevante para mim.
Porquê?
Porque é com esse trabalho, com esse percurso, com esse negócio que dou sustento à minha família. Sei que por causa deste negócio, se depender de mim, nunca vai faltar nada em minha casa [pausa]. Não sou machista, defendo a liberdade da mulher – aliás, a minha mulher trabalha também –, mas, como te disse, fui educado à moda antiga. É bom sentir que ela, se quisesse, podia não trabalhar e que, mesmo assim, não faltaria nada em casa, a nós e à nossa filha.
Alguma vez pensaste que chegavas aqui?
Nunca. Sempre trabalhei muito. A minha irmã é três anos mais velha do que eu, e andávamos os dois nos escuteiros. Eu, com nove anos, já pagava as viagens à minha irmã só a vender rifas. Nós não tínhamos dinheiro, então tínhamos de vender rifas [risos]. A primeira viagem que ela fez de avião foi com os escuteiros e fui eu que a paguei com o dinheiro do meu trabalho.
Vocês continuam muito unidos.
Claro, a minha família é o meu mundo. Ela trabalha aqui na loja. Se depender de mim, também nada lhe faltará.
Leia a entrevista completa na edição da NOVA GENTE que já está nas bancas.
Texto: Nuno Azinheira; Fotos: Nuno Moreira
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