Maria João Ruela não esquece o momento em que foi baleada no Iraque: «Corri risco de vida»
Maria João Ruela recordou o momento em que foi baleada no Iraque, em 2003, quando se encontrava a fazer reportagem
Maria João Ruela foi convidada de Cristina Ferreira, na manhã da passada quinta-feira, dia 30 de abril, n’O Programa da Cristina, da SIC. A assessora, de 50 anos, dedicada aos assuntos sociais, sociedade e comunidades portuguesas do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que foi jornalista na estação de Paço de Arcos durante 24 anos, recordou o momento em que foi baleada no Iraque, em 2003, quando se encontrava a fazer reportagem.
«Estava tranquila e feliz porque estava a fazer aquilo que eu queria fazer. Sem medo. Eu tive um acidente de trabalho, Cristina. É o mesmo se tu caíres aqui e partires uma perna. Fui vítima de um assalto, que, naquelas circunstâncias, foi um bocadinho mais bruto», começa por revelar.
«Recordas muitas vezes o que viste, o que sentiste?», pergunta a apresentadora do matutino da SIC.
«Durante uma fase, depois de ter saído do hospital, em que me sentia muito fragilizada… corri risco de vida… tudo me fazia muita impressão! Andar na estrada, um carro que ultrapassasse, porque o carro que nos assaltou fez assim uma ultrapassagem ligeira e eu recordo-me dessa imagem, de ver um senhor assim com um dente de ouro, dentro desse carro», responde.
«O Raleiras teve uma experiência mais alucinante, por ter estado raptado durante 36 horas»
Depois, Maria João Ruela apercebeu-se que «ia deixar de fazer muitas coisas que gostava de fazer, do ponto de vista físico». «Tive de me adaptar a esse registo. Deixei de poder correr… sou coxa. Não mexo uma perna do joelho para baixo. Tive de me reenquadrar na minha existência. Até mesmo na apresentação, por exemplo, os pivôs de informação andam sempre para trás e para a frente, então agora nos novos estúdios nem se fala. Isso para mim era impossível, porque eu ou olho para os pés ou para o teleponto. Não posso usar sapatos como os teus, todos bonitos, de salto alto. Deixei de poder fazer reportagens, como eu gostava, que exigissem a capacidade de fugir e de correr, mas continuei a fazer algumas reportagens e mudei o foco do meu trabalho. Passei a estar mais nos bastidores, a coordenar equipas, que também é um trabalho interessante», continua.
Na televisão da «sala» de Cristina Ferreira passaram as imagens do momento em que Paulo Camacho anunciou aos portugueses que Carlos Raleiras, da TSF, tinha sido raptado e que Maria João Ruela tinha sido baleada. A então repórter de guerra da SIC falou com a estação onde trabalhava uma hora depois de ter sido operada num hospital de campanha do exército britânico.
«Tenho muito orgulho nela»
Ao recordar este episódio, Maria João Ruela esboçou um sorriso repleto de emoção. «Por mais que nos contes, nunca vamos imaginar, sequer, o que vocês viveram», comenta a estrela da SIC.
«O Raleiras teve uma experiência mais alucinante, por ter estado raptado durante 36 horas, mais do que um dia e o Rui do Ó [o repórter de imagem da SIC que estava no Iraque] que, no fundo, tomou todas as decisões certas. A ele devo o facto de estar aqui hoje. Acho eu», afirma Maria João Ruela.
A convidada de Cristina Ferreira guarda a bala «lá em casa». «Nem sequer vou olhar para ela. Foi prática, já me ajudou. Por exemplo, eu sei que não posso fazer ressonâncias magnéticas porque uma vez ia-me meter numa máquina de ressonâncias, levaram a bala, o médico lembrou-se e, como tenho muitos estilhaços ainda, a bala ficou colada à máquina. Significava que se me pusesse lá dentro todos os estilhaços iam-se deslocar lá dentro. Há dez anos fiz uma radiografia e tinha muitos pontinhos», conta.
Maria João Ruela encara toda esta situação com um sorriso no rosto: «É uma realidade. Não tenho que estar a olhar para trás com tristeza. Sou assim e o melhor que tenho a fazer é continuar a ser assim!»
A certa altura, Maria da Luz Ruela surpreendeu a filha, entrando em direto via videochamada. «Tenho muito orgulho nela. Por detrás disto tudo, ela é doce. Não é para grandes lamechices, mas na altura certa está lá!»
O convite de Marcelo Rebelo de Sousa
A convidada de Cristina Ferreira fala ainda da mudança profissional. A convite do Presidente da República, deixou o cargo de jornalista da SIC, onde trabalhava há mais de duas décadas. «No jornalismo já tinha feito tudo. Temos sempre coisas para fazer e o dia-a-dia é sempre um grande desafio, mas eu já tinha experimentado ser repórter, repórter de guerra, ser apresentadora, ser pivô de informação, coordenadora. De repente, com 46 anos de idade, ter um convite que me voltava a desafiar enquanto profissional, noutra área…», atira.
«É uma experiência muito enriquecedora, com uma pessoa muito enriquecedora. Aprendi a ser mais diplomática e a lidar com uma equipa de outra maneira», remata.
Texto: Ivan Silva; Fotos: Impala
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