Pinto Da Costa Escreveu o comunicado da própria morte: “Estava convencido que ia morrer”

Pinto da Costa não se deixa assustar pela morte, tal como o seu irmão. Mas, quando foi operado ao coração, deixou um comunicado escrito, uma carta a um dirigente do Porto e outra aos filhos

Demorou 15 anos, mas aconteceu. Pinto da Costa acedeu ao convite – que durante anos foi adiando – e foi o convidado desta semana do Alta Definição, da SIC.

O presidente do FC Porto esteve como é e, fiel à sua imagem, não deixou nada por dizer ou contar. Da infância até à sua própria morte, Pinto da Costa falou de tudo…

“Pensa muito na morte?”, questionou Daniel Oliveira.

“Não, não. Eu só penso naquilo que posso alterar. Como eu acredito que o dia está marcado… o meu irmão quando faleceu estava doente e eu em fins de outubro fui visitá-lo (…) eu disse-lhe ‘este ano vou passar o natal contigo’. E ele diz-me assim: ‘Não, este ano não vais’. E eu: ‘Então não queres que eu vá?’. ‘Não vais porque eu vou morrer até ao dia 15 de dezembro’. Eu fiquei chocado e ele disse-me assim ‘oh, Jorge não fiques chocado, todos nós temos de morrer. E se fores perguntar a qualquer jovem de 18 anos, se quer assinar um contrato a dizer que chega aos 80, não há ninguém que não assine. Nós chegamos e fizemos a vida que quisemos, portanto, não há problema quando chegar a nossa hora, a minha é a 15 de dezembro’. Sabe em que dia morreu? Dia 8 de dezembro”, contou, acrescentando: “A nossa hora está marcada, não há que lutar contra isso. Há é que aproveitar a vida…”

Pinto da Costa recordou, por exemplo, a altura em que foi operado ao coração, altura em que chegou mesmo a pensar que ia morrer. “Olhe eu fui operado ao coração, estava convencido que ia morrer, porque eu andava há dois anos a adiar uma operação (…) Eu adiava sempre por causa do Porto. Um dia levei os exames ao meu irmão e disse: ‘oh, Zé tenho aqui um amigo que está na dúvida se deve ou não ser operado ao coração ou não, podes dar a tua opinião? Ele olhou e disse: ‘O teu amigo já devia ter sido autopsiado. Essa aorta vai explodir qualquer dia’”.

Depois, Jorge Nuno disse-lhe: “O meu amigo sou eu. Ele insultou-me, ‘tu és maluco, como é que andas nessa vida’”. Isso fez Pintio da Costa submeter-se à operação necessária.

“Deixei um anúncio, que veio a ser publicado, a dizer que fui operado ao coração e correu tudo bem, voltará brevemente e tal e outro a comunicar a minha morte. Se me safar ponho este, se não me safar está aqui”, disse acrescentando: “Encarei com naturalidade… sem medo”.

“Como foi o despertar da operação?”, perguntou Daniel Oliveira. “Foi engraçado, estava há 24 horas a dormir… e conta a enfermeira que estava ao meu lado que eu abri os olhos e disse assim, ‘porra, estou vivo’ e adormeci outras 24 horas. Porque eles tinham-me dado uma dose para eu não me mexer, o coração dura 12 horas e o meu esteve cá fora oito”.

Mas o comunicado da morte entregue no FC Porto, não foi a única coisa que Jorge Nuno escreveu, antecipando a sua morte. Pinto da Costa escreveu uma carta para os filhos, a dar-lhes conselhos “para que fossem rigorosos e para se darem bem”. Mas não só, escreveu também uma carta ao presidente da assembleia geral do clube a explicar-lhe a sua visão do que ele devia fazer no caso dele “ter ido de vela”.

“Mas, felizmente, quando cheguei ao escritório rasguei as cartas todas”, atirou o Presidente do FC Porto.
 

A morte do pai

O pai de Pinto da Costa foi , tal como contou, inesperada. “Ele saiu para ir comprar os doces a uma confeitaria na Foz e tocaram-nos à porta a dizer que ele estava no carro, dentro do carro, com a cabeça no voltante. Estava morto, nem chegou a por o carro a trabalhar”.

“Porque é que uma pessoa nova vai morrer num carro com uma sincope? É a realidade, há coisas que a gente pode tentar mudar, agora, a nossa hora de morrer não se pode mudar”.

Texto: Tiago Miguel Simões; Fotos: Impala

 

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