Rodrigo Pratas “Não deixo de fazer o que quero por medo do que possam pensar”
Quis ser bombeiro em criança, mas aos sete anos já sonhava ser jornalista. O rigor e a equidistância são essenciais, mas recusa-se a ser um autómato, até porque, acha, não há bom jornalista que não seja um bom cidadão. A caminho dos EUA, espera testemunhar terça-feira um momento histórico no Mundo. Ou não fosse ele um homem feminista.
Quando os leitores estiverem a ler esta entrevista, tu já estarás nos Estados Unidos, porque és um dos enviados especiais da SIC às eleições da próxima terça-feira, 5 de novembro. É mais uma reportagem ou é o jornalista no epicentro do Mundo?
Já estive em muitos cenários internacionais, na cobertura de assuntos importantes, mas este é especial, claro. Não só porque são as eleições mais taco a taco de que há memória, como estamos a falar da maior e mais importante democracia do Mundo. É a primeira eleição em que tens reais possibilidades de haver uma mulher a ser eleita Presidente.
Não vamos, obviamente, centrar esta entrevista na realidade política norte-americana, mas não deixa de ser relevante que em 2016, quando Donald Trump foi eleito, o contexto sociopolítico às portas da Europa era muito diferente. Hoje, em 2024, temos uma guerra como a da Ucrânia e outra no Médio Oriente.
E as eleições norte-americanas são absolutamente determinantes nesse sentido.
Com 24 anos de profissão, este é um desafio mais importante do que os outros?
[pausa] Não posso dizer que é o mais importante de todos, porque encaro sempre com seriedade todos os trabalhos que faço ou que me são propostos. Mas, claramente, esta ida para os Estados Unidos não é apenas “mais um momento”.
Trabalhos como estes obrigam a um estudo permanente por parte do jornalista.
Sim, claro. Tenho de ler muitas coisas para saber do que vou estar a falar. Muitas vezes, as pessoas pensam que há sempre alguém que nos sopra perguntas ao ouvido, através do auricular.
Como o primeiro-ministro, por exemplo. Sentiste-te ofendido enquanto jornalista quando ouviste essas declarações de Luís Montenegro?
Muito. Não é um primeiro-ministro que deve fazer esse género de considerações no exercício das suas funções. Claro que tem direito à opinião, toda a gente tem e é perfeitamente saudável, mas um primeiro-ministro não é apenas o Luís Montenegro.
Falávamos há pouco da importância da equidistância jornalística, mas tu não tens tido receio de expor a tua opinião nesta entrevista. Um jornalista tem espaço para isso?
Claro que tem. Antes de ser jornalista, sou cidadão e isso nunca deixarei de ser. Tenho direitos dos quais não abdico. Como há muitos anos uma colega nossa jornalista dizia, os jornalistas não podem ser autómatos. E não sou. Sou muito criticado nas redes sociais por ter determinadas formas de entrevistar. Somos todos diferentes. Obviamente que tenho um estilo mais aguerrido e sou adepto de um tipo de jornalismo que em inglês se chama watchdog journalism. Acho que o jornalista tem a obrigação cívica de chamar à pedra os titulares dos cargos políticos e que isso não se faz com entrevistas mansinhas e fofinhas. Os titulares dos cargos políticos têm a obrigação de dar respostas aos eleitores.
Há uma fatura a pagar-se por essa tua forma de perguntar?
Acho que sim. Sei que há pessoas que não gostam de ser entrevistadas por mim.
Seres jornalista, já o disseste, não condiciona a tua cidadania. E a tua vida diária?
Também não. Não é por ser jornalista que deixo de viver a minha vida. Claro que tenho sempre presentes as especiais responsabilidades que a minha atividade profissional obriga. Mas sempre vivi tudo o que tinha a viver. As coisas boas, as menos boas, os sonhos, os desgostos… [sorriso] Portanto, fazes as tuas escolhas na hora de ir a um restaurante, sair à noite a um bar, a uma discoteca, seja o que for, consoante aquilo que te apetece fazer naquele momento e não numa de “Ah, não sei se vai ficar bem se aparecer ali”.Ah não, quero lá saber disso. Se eu não me sentir e não agir de forma livre na minha vida, como é que eu posso ser um jornalista que exerce a liberdade de Imprensa? Não posso. Não deixo de fazer aquilo que quero fazer por medo daquilo que os outros possam pensar ou dizer.
Leia a entrevista na íntegra na sua NOVA GENTE desta semana. Já nas bancas.
Texto: Nuno azinheira; Fotos: Nuno moreira
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