Simone De Oliveira Cantora e atriz desabafa: “Tenho medo da morte”

Na entrega dos Prémios Cinco Estrelas, a artista recordou a sua mudança do apartamento onde viveu cerca de 50 anos para a residência da Casa do Artista. Um ano e meio depois, diz ser “uma mulher feliz”.

De sorriso rasgado e “feliz com mais uma distinção”. Foi assim que Simone de Oliveira saiu da gala de entrega dos Prémios Cinco Estrelas, que se realizaram a 7 de fevereiro no Pátio da Galé, em Lisboa, e a distinguiram na categoria Carreira. À margem da cerimónia, conversou com os jornalistas presentes no local sobre a mais recente fase da sua vida: a de residente da Casa do Artista, para onde se mudou no final de 2023, e sobre o avançar da idade, ela que completou 87 anos no passado dia 11.

“Gosto muito de  fazer anos. É sempre um dia bom. Eu tenho filhos, tenho netos, tenho bisnetos, tenho os meus amigos da Casa do Artista. Não me importo nada dos cabelos brancos, não me importo nada das rugas. Nada, nada. Gosto muito de ser o que sou e como sou”, conta. E até sabe o que gostaria de receber de presente de aniversário. “Quando eu tinha quatro anos, lembro-me perfeitamente porque ainda não havia a minha irmã – que morreu há três semanas –, eu tinha um serviço de café, de porcelana. Tinha uma boneca vestida de azul, loira, e tinha também um boneco típico da Bélgica – o meu pai era belga. Se eu pudesse ter alguma coisa, era esse boneco”, declara.

Leia mais: Simone de Oliveira revela que mensagem quer ter na sua lápide

A artista diz deseja apenas “chegar aos 90”. Quando olha para o passado, adianta, sente aquilo a que chama de “saudade lavada”. “Quando me vejo na televisão, por exemplo, digo ‘olhem que aquela mulher nem estava nada mal! Não tinha rugas e usava sapatos de salto alto. Agora, tem rugas e não usa sapatos de salto alto’. Mas isso não me aflige, não me magoa, não me deixa a chorar. Aquela foi uma, esta é outra. Aquela foi dando lugar a várias: aos 50 anos, aos 60 anos, aos 70, aos 80… Até aos 90, deixem-me cá estar”, ri-se.

Simone de Oliveira só hesita quando se fala de morte. “Tenho medo”, diz. “Porque não sei o que há do outro lado. Se eu tivesse uma vaga ideia… apenas uma ideia…”, desabafa, para questionar de seguida: “Foi Deus que fez tudo? Qual Deus?”

“Sou uma mulher feliz. Muito feliz”

Desde que se mudou para a Casa do Artista que a cantora e atriz deixou de estar sozinha. Simone viveu perto de 50 anos num apartamento na zona do Príncipe Real, em Lisboa, e decidiu deixá-lo no final de 2023, depois de uma conversa com o filho, António, e a filha, Maria Eduarda. “Falámos os três e eu estive de acordo com eles. Estava em casa sozinha, o Varela [Silva, o marido] já tinha partido há mais de vinte anos [morreu em 1995], e eu concordei. Não houve drama nem tragédia. Não estou a dizer que não tive alguma saudade de casa durante um mês, se tanto, mas os meus filhos fizeram-me um quarto com tudo o que eu tinha em casa: as fotografias, com o meu maple, com as minhas recordações”, lembra.

Entre os restantes cerca de 70 que aí vivem, a artista conhece “uns dez”. Um deles é Nuno Nazareth Fernandes, compositor de Desfolhada Portuguesa, a canção vencedora do Festival RTP da Canção, em 1969, e uma das mais emblemáticas da música portuguesa. “Conversamos de vez em quando sobre isso, mas é mais normal falarmos sobre a atualidade, como, por exemplo, o [Donald] Trump [Presidente dos EUA] querer comprar o Canadá. Coitadinho (…) Ele nem sequer sabe onde é o Canadá, muito menos a Gronelândia. Eu acho que ele nem sequer sabe onde é o apartamento dele“, remata.

Simone de Oliveira abre o coração à NOVA GENTE

Texto: Ana Filipe Silveira; Fotos: Zito Colaço

Impala Instagram


RELACIONADOS