Num caos de opções: como escolher os melhores produtos alimentares?

Engenheira de Saúde Humana na Universidade de Antuérpia, Elke Deus explica, num autêntico caos de opções, como acabam os consumidores por escolher os melhores produtos alimentares.

Num caos de opções: como escolher os melhores produtos alimentares?

Elke Deus, engenheira de Saúde Humana doutorada em Ciências Económicas Aplicadas da Universidade de Antuérpia, explica como os consumidores escolhem os produtos alimentares, no meio de um autêntico caos de opções.

“Todas as famílias precisam de mantimentos e a maioria aventura-se regularmente no supermercado para adquirir suprimentos. Se os os investigadores puderem ajudar os consumidores a fazer escolhas mais saudáveis, podemos melhorar o problema da obesidade de forma simples, mas eficaz”, garante a engenheira alimentar.

“Até há muito pouco tempo, ninguém entendia realmente o que motivava as pessoas a escolher determinados produtos”, diz. Sabia-se o que compravam, “mas não o porquê”. “Portanto, investigámos as estratégias de escolha dos consumidores, na esperança de usar as informações para ajudá-los a escolherem produtos mais saudáveis.”

“Imagine que está no seu supermercado habitual. Ao colocar-se em frente à prateleira de cereais, qualquer um pode ficar sobrecarregado pelas inúmeras alternativas – alguns produtos dizem que são ‘sem gordura’, outros que são ‘totalmente naturais’ e a marca branca do supermercado está ao lado da marca principal que é costume escolher-se. Sabe o que escolher? Mais importante: sabe por que faria essa escolha em particular?”

Não se sabia até há pouco tempo o que motivava decisões de compra como esta. Por isso, na Universidade de Antuérpia “realizámos um estudo em que repetidamente deixámos as pessoas escolherem entre dois produtos e analisámos as suas decisões”. “Descobrimos que existem três tipos de compradores:

1. O primeiro grupo escolhe consistentemente o produto mais saudável disponível;
2. O segundo escolhe sempre a marca favorita;
3. O terceiro, infelizmente, escolhe propositadamente a opção de produto menos saudável.”

Saudável não é tão saboroso?

As decisões do terceiro grupo – que escolhe propositadamente a opção menos saudável – “podem parecer estranhas, mas o seu raciocínio é baseado na intuição de que ‘coisas saudáveis ​​não são tão saborosas'”. As consequências desta mentalidade “exigem atenção urgente”, considera Elke Deus. “Principalmente porque a União Europeia vive atualmente um debate acirrado sobre se um rótulo nutricional deve tornar-se obrigatório”.

Se uma proporção significativa de compradores acredita que produtos saudáveis ​​não são saborosos, “introduzir uma nota de salubridade na embalagem pode levá-los a escolher opções menos saudáveis”. “Portanto, está claro que temos de aprender mais sobre este grupo e descobrir como podemos alcançá-los efetivamente antes de implementar um rótulo que possa prejudicar-lhes a saúde”, considera Deus.

O que é e como funciona o rótulo nutricional

“O principal interesse do nosso estudo foi o efeito de um novo selo, chamado Nutri-Score, desenvolvido para ajudar-nos nas escolhas de compras. Debate-se agora se o selo deve tornar-se oficial.” O rótulo nutricional, no entanto, “não pode referir nada sobre o preço de um produto, mas, pelo menos, fica a saber-se pelo que estamos a pagar: informa-nos sobre a salubridade daquele alimento.”

Embora possa parecer um ‘golpe de marketing’, “o Nutri-Score foi de facto desenvolvido por cientistas”. O processo levou quatro anos de cooperação, design, cálculo, teste e refinamento para chegar-se a este rótulo, “que ainda passa por avaliações e atualizações regulamentares”. Em contraste com as “alegações vazias” em muitas embalagens de alimentos e comerciais e nomes de produtos enganosos, o Nutri-Score “não mente”. “Não há ‘lavagem de saúde’ para vender um produto.” O selo atribui notas com base “na relativa salubridade do produto”. A melhor nota Nutri-Score é ‘A’ e a pior é ‘E’.

Vamos às compras

O rigor e a objetividade do Nutri-Score podem ser uma surpresa, “principalmente se já viu certos artigos de jornal com manchetes sensacionalistas afirmando que ‘batatas fritas são mais saudáveis do que salmão'”. “Estas histórias foram o resultado infeliz de reportagens intencionalmente sensacionalistas e também de um mal-entendido básico de como o rótulo funciona. O Nutri-Score é projetado para comparar alternativas dentro de uma categoria de produto. A forma mais fácil de demonstrá-lo é “através de um exemplo de compra”.

“Vamos a uma hipotética viagem de compras! Primeiro passo: tem de decidir o que quer comer. É importante sublinhar que este passo vem antes de ver qualquer rótulo. Toma pequeno-almoço ou janta, por exemplo? Carne ou vegetariano? Depois de decidir a categoria ampla, pode começar a usar o Nutri-Score a seu favor. Digamos que queira comprar comida para o pequeno-almoço e esteja com vontade de iogurte de morango. Na prateleira do supermercado, há um copo de iogurte integral com muito açúcar adicionado. Ao lado, há um iogurte de morango semelhante, mas sem gordura ou açúcar adicionado.

“Antes do Nutri-Score, tinha de virar cada iogurte e encontrar o seu caminho através da selva de números e termos no verso de cada embalagem. Agora, pode ver rapidamente que o Nutri-Score do primeiro iogurte é ‘grau C’ e o do segundo é ‘grau A’. A escolha ainda é sua, mas, pelo menos, agora pode facilmente tomar uma decisão informada. É para isso que o Nutri-score foi criado: avaliar opções comparáveis ​​dentro de uma categoria de alimentos.

“Comparar o Nutri-score de iogurte e salmão não é provavelmente relevante, porque é improvável que substitua o iogurte do pequeno almoço por uma posta de salmão”, explica Elke Deus.

Conselhos para os três grupos de compradores

Se faz parte do primeiro grupo de compradores – que “escolhe consistentemente o produto mais saudável disponível” – e quer fazer escolhas mais saudáveis, “tenho boas notícias: o Nutri-Score não é um golpe de marketing e pode ser uma ferramenta muito eficaz se usá-lo dentro de uma categoria de produto”. Antes de olhar para o rótulo, “escolha que tipo de alimento quer comer e compare as alternativas com o Nutri-Score”.

Se está no segundo grupo e tende a escolher a sua marca favorita não importa o que aconteça, “quero que pare por um momento e considere o seguinte: a qualidade inferior das marcas próprias é história; hoje em dia, algumas são produzidas nas mesmas fábricas que as principais concorrentes”. Sendo assim, pelo que estamos afinal a pagar? A resposta é, geralmente, “apenas o nome da marca e os anúncios na televisão”. “Se quer realmente saber o que é mais saudável, deixe o Nutri-Score guiar as suas escolhas.”

“Se é uma das pessoas do grupo três – que acredita que alimentos mais saudáveis ​​são menos saborosos –, faça um teste de sabor às cegas. Estudos mostram que esta crença antiga nem sempre é verdadeira, mas não acredite na nossa palavra: experimente você mesmo. Deixe o seu paladar decidir porque, se escolher simplesmente a opção menos saudável, pode ficar pior em termos de saúde e prazer.”

Todos fazemos escolhas com base nas prioridades pessoais, mas “também com base no que achamos que sabemos sobre os produtos”. “Infelizmente, marketing, crenças preexistentes e ‘intuições’ – por mais razoáveis ​​que pareçam – têm o potencial de nos levar ao erro. Como investigadores, estamos a trabalhar arduamente para fornecer informações fáceis de interpretar a todos sobre os alimentos nas prateleiras dos supermercados, para que cada consumidor possa tomar uma decisão informada sobre os alimentos que está a adquirir e, com sorte, melhorar a sua saúde enquanto o faz”, diz Elke Deus, engenheira de Saúde Humana doutorada em Ciências Económicas Aplicadas da Universidade de Antuérpia.

The Conversation

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