Herpes genital está a aumentar: o que deve saber sobre esta infeção

OMS estima que prevalência de herpes genital tenha duplicado em todo o mundo num período de apenas quatro anos. Saiba o que é, como se previne e como se trata esta infeção.

Herpes genital está a aumentar: o que deve saber sobre esta infeção

A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou novas estimativas, de acordo com as quais cerca de 846 milhões de pessoas com idades entre 15 e 49 anos vivem com uma infeção por herpes genital. Os dados equivalem a uma em cada cinco pessoas nesta faixa etária. Pelo menos uma pessoa por segundo (42 milhões de pessoas em cada ano) contrai uma nova infeção por herpes genital. O que é e por que estão os casos de herpes genital a aumentar?

A causa do herpes genital

“O herpes genital é uma infeção sexualmente transmissível (IST) causada pelo vírus herpes simplex, que provoca igualmente também herpes labial. Há dois tipos de vírus do herpes simples, o HSV-1 e o HSV-2 (e é possível ser infetado por ambos em simultâneo)”, começa por explicar Charlotte Phelps, professora de Medicina da Universidade de Bond. O HSV-1 “espalha-se mais habitualmente por contacto oral, como beijos ou a partilha de objetos infetados, como protetor labial, copos ou outro utensílios, e apresenta-se como herpes labial (ou oral) em torno da boca”. “Mas pode também ser sexualmente transmitido e causar uma infeção por herpes genital.”

Estima-se que, em todo o mundo, 3,8 mil milhões de pessoas com menos de 50 anos de idade (64%) tenham HSV-1. O HSV-2 é “menos prevalente, mas causa quase sempre uma infeção por herpes genital”. Acredita-se que cerca de 520 milhões de pessoas com idade entre 15 e 49 anos (13%) em todo o mundo tenham HSV-2.

O episódio inicial de herpes genital “pode ser bastante doloroso, com bolhas, úlceras e descamação da pele em redor dos órgãos genitais durante sete a dez dias“, indica Charlotte Phelps. “Nem todas as pessoas apresentam sintomas iniciais graves (ou nenhum). Significa isto que “uma pessoa pode não saber que foi infetada”. “O herpes é uma infeção vitalícia, o que significa que uma vez contraído, ficaremos infetados para sempre. Após um episódio inicial, podem ocorrer episódios subsequentes, mas, geralmente, são menos dolorosos ou até nem apresentarem sintomas.”

Tanto o herpes oral quanto o genital são “particularmente fáceis de se disseminar quando há lesões ativas (herpes labial ou úlceras genitais)”. Mas, mesmo sem sintomas, “continua a poder ser transmitido a um parceiro”. O herpes oral também “pode ser transmitido para a área genital”, e o “genital pode ser transmitido para a boca, por via do sexo oral”. Se uma gestante apresentar uma infeção por herpes genital perto do parto, “há riscos para o bebé”. Uma infeção por herpes pode ser “muito grave num feto ou num recém-nascido e, quanto mais jovem for, mais vulnerável o bebé é“. Este é também um dos motivos pelos quais deve evitar-se beijar um bebé na boca.

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Mudança de tendências

herpes genital
Número estimado de infeções genitais por HSV-1 em todo o mundo praticamente duplicou em quatro anos

Os números mais recentes da OMS reuniram dados de todo o mundo para estimar a prevalência de herpes genital, em 2020, em comparação com as estimativas anteriores, de 2012 e de 2016. Os dados não mostram diferença significativa na prevalência do herpes causado pelo HSV-2 desde 2016, mas destacam aumentos nas infeções por herpes genital causadas pelo HSV-1.

O número estimado de infeções genitais por HSV-1 em todo o mundo foi quase duas vezes maior em 2020 em comparação com 2016 (376 milhões em comparação com 192 milhões). Um estudo de 2022 que analisou Austrália, Nova Zelândia e Canadá constatou que mais de 60% das infeções por herpes genital ainda são causadas pelo HSV-2. Mas isto “está diminuir em cerca de 2% por ano, enquanto as novas infeções genitais resultantes do HSV-1 estão a aumentar“.

Não há solução simples, mas o sexo seguro é importante

O herpes genital “causa uma carga substancial de doenças e custos económicos para os serviços de saúde”. “Com uma proporção tão grande da população mundial infetada pelo HSV-1, a evidência de que este vírus está a causar cada vez mais herpes genital é preocupante”, assinala Charlotte Phelps. “Não há cura para o herpes genital, mas alguns medicamentos, como os antivirais, podem ajudar a reduzir a quantidade de vírus presente no nosso sistema. Embora isto não o elimine completamente, ajuda a evitar recorrências sintomáticas do herpes genital, melhora a qualidade de vida e atenua o risco de transmissão.”

Para evitar a disseminação do herpes genital e de outras DST (Doenças Sexualmente Transmissíveis), “pratique sexo seguro, principalmente se não tiver certeza da saúde sexual do parceiro”. “Deve usar-se um ‘método de barreira’, como preservativos, para nos protegermos contra as DST (um contracetivo, como a pílula, não funciona) e muito menos o sexo oral.”

“Como o herpes agora é tão comum, os exames não fazem por norma parte dos check-ups de saúde sexual regulares, exceto em circunstâncias específicas, como durante a gravidez ou em episódios graves.” Por esse motivo, “é aconselhável não baixar a guarda, mesmo que o parceiro insista que estar ‘limpo’ após um ‘check-up’ recente”. “Se houver lesões de herpes em redor dos órgãos genitais, evite o sexo totalmente. Nem os preservativos são totalmente eficazes nestes momentos, pois as áreas expostas ainda podem transmitir a infeção” alerta Phelps.

Saúde imunológica

Se estiver infetado com HSV-1 ou HSV-2, “é mais provável que os sintomas surjam quando se sentir em stresse, com cansaço ou em algum momento de sobrecarga”. “Durante estes períodos, o nosso sistema imunológico pode não estar tão funcional e vírus dormentes, como o herpes, podem começar a desenvolver-se aceleradamente nos nossos corpos.”

Para reduzir o risco de infeções recorrentes por herpes, “tente comer de forma saudável, faça pelo menos sete horas de sono por noite, se possível, e preste atenção aos momentos em que o seu corpo pode estar a ‘dizer-lhe’ para dar um passo atrás e relaxar“. “Este autocuidado pode ajudar muito a manter vírus latentes afastados.”

Embora a prevalência tenha aumentado significativamente nos últimos anos, “ainda não perdemos a guerra contra o herpes genital”. Práticas sexuais seguras, educação e consciencialização “podem ajudar a reduzir a sua disseminação e o estigma em torno dela”. Se tiver preocupações pessoais, “deve discuti-las com um profissional de saúde”, aconselha Charlotte Phelps, professora de Medicina da Universidade de Bond.

The Conversation

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