Leite e derivados podem ou não ser maus para a nossa saúde?
A nossa longa relação com o leite e os laticínios é cada vez mais questionada. O que diz a ciência, afinal, sobre se este alimento é bom ou mau para a nossa saúde?

Desde que domesticou os animais, há milhares de anos, o ser humano passou a consumir leite, hábito que atravessou civilizações. No entanto, esta longa relação com os laticínios tem sido cada vez mais questionada, com discursos a apontarem-nos como inimigos da saúde. Terá esta condenação base científica?
Estudos recentes sugerem que a exclusão indiscriminada dos laticínios pode ser um erro. Um estudo publicado na Clinical Nutrition apresenta novas perspetivas sobre o impacto do leite e dos seus derivados no metabolismo da glicose. Ao analisar dados de 7.521 participantes do estudo britânico Fenland, os cientistas observaram que o consumo de leite desnatado pode, na verdade, reduzir o risco da diabetes. Por outro lado, o consumo excessivo de laticínios ricos em gordura pode ser prejudicial.
Leite em excesso pode levar à diabetes?
Não sendo controlada, a pré-diabetes, que se caracteriza pelos níveis elevados de glicose no sangue, pode evoluir para a diabetes tipo 2. Alterações no estilo de vida, contudo, como alimentação equilibrada e prática regular de exercício, podem reverter o quadro. Os lacticínios foram acusados de aumentar o risco de doenças cardíacas, mas os mais estudos desafiam esta crença. O Elsa-Brasil, um dos maiores levantamentos sobre saúde, sugere que o consumo equilibrado de laticínios pode, na verdade, trazer benefícios às artérias. Além do mais, a alegada ligação entre leite e inflamação carece de comprovação científica sólida.
Quem tem alergia ou intolerância precisa no entanto, de estar atento. Daniela Boulos, nutricionista do Hospital Israelita Albert Einstein, explica – citada pela Imprensa brasileira – que “a caseína, principal proteína do leite, pode causar desconforto digestivo em algumas pessoas”. “Pode ser de difícil digestão, especialmente para organismos mais sensíveis”, confirma. Acrescenta ainda que é importante “distinguir alergia à proteína do leite e intolerância à lactose”. No primeiro caso, “o sistema imunológico reage de forma exacerbada, desencadeando sintomas como vómitos, diarreia e dificuldades respiratórias”. A intolerância ocorre “quando o organismo produz pouca lactase, enzima responsável pela digestão da lactose” – que pode levar à “distensão abdominal, gases e desconforto intestinal”.
‘Cortar’ os lacticínios pela ‘raiz’ pode ser um erro
Antes de eliminarmos os laticínios da dieta, o ideal é obter um diagnóstico preciso, pois “a restrição desnecessária pode trazer prejuízos à saúde”, destaca Carla Muroya, nutricionista também do Hospital Albert Einstein. Leite e derivados são autênticos ‘pacotes’ nutricionais. Rico em cálcio, é essencial para a saúde óssea e desempenha um papel importante na contração muscular e na regulação da pressão arterial. Fornece também proteínas de alto valor biológico, vitaminas A e do complexo B, além de pequenas quantidades de vitamina D, “fundamentais para a imunidade”.
A moderação, todavia, é a melhor estratégia. “Os laticínios também contêm gorduras saturadas, que, consumidas em excesso, podem elevar o colesterol e ter impacto na saúde cardiovascular”, alerta Boulos. A recomendação para os adultos é “dar preferência a versões mais leves, como leite desnatado, queijo fresco, cottage e ricota” e “manter um olhar atento aos rótulos, evitando produtos ultraprocessados e ricos em aditivos”.
Em conclusão, o leite e os seus derivados não são apenas bons nem apenas maus. O ‘segredo’ está no “consumo consciente, alinhado às necessidades individuais”. Para quem não apresenta restrições, os laticínios continuam a ser “uma excelente fonte de nutrientes”.
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