Por que razão alguns ricos pensam que são intocáveis
O filósofo Fabiano de Abreu explica alguns dos motivos que levam ricos e poderosos a terem esta falsa sensação de omnipotência e de eternidade.
Pertencer à lista dos mais ricos do mundo ou fazer parte do alto círculo social é algo para poucos. Fama, dinheiro e poder, seja ele político, económico ou de influência, podem dar a volta à cabeça de algumas pessoas e dar a falsa sensação de imunidade total e até mesmo fazer com que se esqueçam de que somos finitos e mortais.
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O filósofo Fabiano de Abreu explica alguns dos motivos que levam ricos e poderosos a terem esta falsa sensação de omnipotência e de eternidade, com base em seus estudos do comportamento humano e observações.
Quem tem poder na sociedade pensa ser um Deus
Segundo o filósofo, uma mente dominada pelo ego e vaidade procura igualar-se a Deus: «O poder motiva a falsa sensação de eternidade, pois vincula-se a Deus que seria eterno e soberano, o maior de todos os poderosos. Isso é dito porque quanto mais poder e dinheiro a pessoa tem, mais ela acredita que sua posição é uma concessão de Deus. E por isso, mais perto do todo poderoso ela está, portanto, poderoso é! Mas isso tudo é só uma ilusão da sua mente perturbada, dominada pelo ego e pela vaidade extrema».
Sentir-se um Deus também pode ser consequência da consciência de saber que tem poder financeiro. «Muitos ricos vivem como se fossem eternos porque o poder que possuem é tão grande que se sentem um pouco como deuses. Ao saberem e serem conscientes de que são poderosos, se esquecem de sua natureza finita e da verdadeira realidade da vida, que um dia vamos todos morrer».
Viver pela lei do Mais Forte é um instinto humano
Para Fabiano de Abreu, sentir-se superior é uma necessidade e um instinto de muitos de nós, que nos acompanha desde o berço. «Nascemos e crescemos em uma sociedade competitiva, onde é necessário muita luta e esforço para se conquistar um lugar ao sol. Numa sociedade em que para cada profissão há extrema competição e concorrentes para seus postos de trabalho; o melhor e mais bem preparado, vence. A partir destes princípios, a ideia de ter que ser o melhor move o mundo, em meio à competitividade insistente que determina quem detêm o poder. A ‘lei do mais forte’ existe desde a pré-história e ela faz parte da evolução. O problema que gira em torno do poder não é a competitividade em si, mas a necessidade de se sentir superior e de poder controlar a tudo e a todos».
No centro da questão está o dinheiro
Será o amor ao dinheiro a raiz de todos os males? O filósofo esclarece que há mais questões para além do financeiro. «Há um jogo de poder que tem em seu cerne o dinheiro. Quem tem mais riquezas tem maior poder na sociedade. Os bilionários do mundo controlam a economia, os acordos e negociações governamentais mundiais, e determinam o nosso futuro. Os governos do mundo estão nas mãos dos endinheirados e poderosos, que mandam e desmandam nos principais chefes de estado do mundo. Esse poder pode estar na mão dos fortes, dos fracos, dos inteligentes e dos pouco inteligentes, mas sobre tudo, estão nas mãos dos oportunistas. Isto é, aqueles que souberam aproveitar o melhor momento, a sorte, que apostaram em algo certo na hora certa, e se aliaram às pessoas certas».
A Imortalidade não nos pertence
O filósofo apoia o seu raciocínio ao remontar desde as primeiras civilizações. «Nos primórdios, quando as civilizações adoravam vários deuses, todos eles eram poderosos e eternos. Tempos depois, a grande maioria passou a acreditar em um único Deus onipotente que também é eterno. No entanto muitas destas civilizações endeusavam homens, imperadores, reis e grandes vultos do passado. Não é tão diferente assim hoje. Muitos ricos e poderosos se comportam de forma extravagante, praticam atividades radicais, de alto risco, brincando com a vida. Outros extrapolam ostentando uma vida luxuosa, alimentando a arrogância são engolidos pela ganancia, agindo de forma autoritária, mandando e desmandando em tudo e em todos, enquanto a desigualdade rola solta. Dizem que o poder ‘sobe à cabeça’. E que se quisermos conhecer alguém de verdade é só darmos poder e ela».
Contudo, Fabiano de Abreu acredita que a imortalidade não nos pertence. «Muitos não se dão conta da finitude. Passam a acreditar, inconscientemente, que como Deus, também serão eternos. Mera ilusão, já que a morte é a coisa mais democrática que existe e chega para todos. Esses ‘poderosos’ que se esquecem que não são eternos não são nem um pouco inteligentes. Pessoas inteligentes pensam na vida, portanto, pensam na morte».
Dinheiro não pode livrar da morte
Fabiano de Abreu ressalva uma verdade inevitável: independentemente do seu estatuto social e económico, não há como evitar a própria morte. «É preciso saber que possuir bens materiais ou muito dinheiro não é sinônimo de poder e que o dinheiro é só um papel, que pode comprar ‘quase’ tudo, mas não compra saúde e muito menos é capaz de nos comprar a eternidade.Ou seja, dinheiro algum, e poder nenhum nos livrará da morte. No caixão fúnebre, cabe apenas o corpo inerte e sem vida».
O filósofo também ressalva que o acumular de riquezas não é desfrutado após a vida. «Seja o que nos espera após a vida, a riqueza acumulada e conquistada não vai conosco. Ela fica aqui para os herdeiros, que na grande maioria das vezes nada fizeram por merecer e vão apenas usufruir de bens que, possivelmente, nem darão o devido valor. Logo, o poder que advém do dinheiro é uma mera ilusão do nosso ego e da nossa vaidade. Ele acaba dando àqueles que os detêm, uma falsa sensação de eternidade, de que nada poderá os atingir, e de que eles podem tudo pois serão eternos, mas tudo isso não passa de uma ilusão que a vaidade cega impõe. Uma farsa que o ego insiste em alimentar, até que a morte vem, arrebatadora, e mostra que de eternos, não temos nada».
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