A reflexão sobre o trabalho operário veste termotebe no palco do Teatro D. Maria II
Uma reflexão sobre o trabalho operário e a sua emancipação, até à atualidade, define a peça “Eu uso termotebe e o meu pai também”, que se estreia na quinta-feira, no Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa.
Uma reflexão sobre o trabalho operário e a sua emancipação, até à atualidade, define a peça “Eu uso termotebe e o meu pai também”, que se estreia na quinta-feira, no Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa.
Integrada no ciclo “Portugal em vias de extinção”, a peça usa no título o nome de uma camisola interior fabricada nos anos de 1980 numa fábrica têxtil de Barcelos, há muito encerrada.
Testemunhos de perto de 20 pessoas – operários fabris, empresários, sindicalistas e sociólogos –, gravados e passados para papel foram a base desta peça que a Casa da Esquina, companhia de Coimbra, apresenta em Lisboa, num gesto de “desenterrar o passado e trazê-lo para a memória dos nossos dias”, explicou hoje à imprensa Ricardo Correia, autor do texto e da encenação.
Natural de Barcelos, filho, neto, primo e sobrinho de operários, há seis, sete anos que Ricardo Correia queria fazer uma peça sobre as memórias das indústrias do Vale do Ave, muitas delas já encerradas.
O convite de Tiago Rodrigues foi, assim, a ‘cereja no topo do bolo’, já que lhe permitiu trabalhar sobre aquela realidade, tornando-se quase num “memorial” que, além de ficar fixado nas entrevistas recolhidas, é também exposto e partilhado com o público, adiantou.
“Desenterrar e voltar a mostrar [aquela realidade industrial] para que continue viva”, é como Ricardo Correia define o “gesto artístico” da peça que serve também para investigar os processos de transmissão do trabalho em Portugal, em que, muitas vezes, as profissões passam de pais para filhos.
“De certa forma, essa realidade continua viva, porque as pessoas vivem ao lado das fábricas que faliram, vivem à volta desses monstros abandonados e quase não fazem o luto disso, porque é o quotidiano”, sublinhou Ricardo Correia.
Alguns móveis tapados com panos brancos, uma piscina insuflável, que servirá para simular tempos de férias de operários, e um ecrã onde, de quando em vez, são projetadas imagens de trabalhadores ou de fábricas já extintas, compõem o cenário da peça em que cinco atores vão debitando os testemunhos recolhidos junto dos inquiridos.
O Vale do Ave e o declínio da indústria têxtil são assim pano de fundo de “Eu uso termotebe e o meu pai também”, uma peça que acaba por desenhar a história e as contradições do operariado, e invocar as lutas por melhores condições de trabalho.
Trata-se da terceira de cinco peças integradas no ciclo “Portugal em vias de extinção”, e tem dramaturgia de Jorge Louraço, sucedendo a “Jornalismo, Amadorismo, Hipnotismo”, de Rui Catalão, “Canas 44”, de Vitor Hugo Pontes.
Interpretada por Beatriz Wellenkamp, Celso Pedro, Hugo Inácio, Joana Pupo e Sara Jobard, “Eu uso termotebe e o meu pai também” tem espaço cénico e figurinos de Filipa Malva e movimento de Rita Grade.
Além dos intérpretes e do encenador, a investigação e documentação mobilizou também Celso Pedro Emanuel Botelho, Filipa Malva, Joana Brites e Rita Grade.
A peça é uma coprodução do Nacional D. Maria II com o Teatro Académico Gil Vicente, de Coimbra, o Teatro Aveirense e o Centro Cultural Vila Flor, onde será representada após a saída de cartaz, em Lisboa.
Nesta sala da capital, vai estar em cena na sala Estúdio, até domingo.
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