Agricultura intensiva tem influenciado declínio de sobreiros e azinheiras no País
Um estudo do Instituto Superior de Agronomia (ISA) analisou o “enorme declínio” de sobreirais e azinheirais no país nos últimos 50 anos e concluiu que a agricultura intensiva tem tido influência no decréscimo de ambas as espécies.
A equipa identificou também uma relação entre o aumento da temperatura média anual e a perda de coberto de sobreiros, e um decréscimo de azinheiras em áreas onde há uma maior exploração de gado bovino, afirm a investigadora do Centro de Ecologia Aplicada do ISA responsável pelo estudo, Vanda Acácio, que deteta os problemas provocados pela agricultura intensiva em Portugal.
O estudo analisa o período de 1965 a 2015 e demonstra que há perdas enormes das duas espécies ao longo dos últimos 50 anos, com declínio ainda mais acentuado a partir dos anos 1990.
O artigo, publicado recentemente, centra-se na evolução das áreas onde sobreiros e azinheiras são as espécies florestais dominantes e cruza a perda com diversas variantes, como a densidade de gado bovino, densidade populacional, declive do terreno e indicadores relacionados com o clima, como o índice de secas, temperatura média anual ou intensidade de precipitação na primavera e no verão.
Entre 1990 e 2015, em mais de 70% das áreas analisadas registou-se uma redução das duas espécies, podendo esta aceleração de perda ser explicada em parte pela entrada de Portugal na União Europeia e o consequente incremento de intensificação do gado, face aos subsídios na altura disponíveis, e pelo aumento da temperatura motivado pelas alterações climáticas, aclara.
“Verificámos que, em relação às duas espécies, o declive era importante para as duas. Há mais declínio em zonas mais planas, que são zonas com mais agricultura e onde o montado é explorado de forma mais intensiva”, salienta Vanda Acácio.
Relativamente ao gado bovino, a sua influência é particularmente relevante para a azinheira, que “tem sido gerida muito mais como um montado aberto, com muita utilização do subcoberto para a agricultura”.
“Há um limite em relação à intensidade de gado que se pode pôr numa determinada área. A partir desse limite, são demasiadas cabeças e o pisoteio compacta e estraga o solo”, explica, realçando que o declínio dos montados de azinho vem desde a segunda metade do século XX, em que a árvore deixou de ter importância económica face à peste suína que dizimou a população de porco preto no Alentejo, que se alimentava da bolota da azinheira.
Em relação às variáveis climáticas, o estudo notou que “o sobreiro diminuiu com o efeito do aumento da temperatura média anual”, ao passo que com a azinheira passou-se “o oposto”.
“Pensámos que era muito estranho e corremos os modelos várias vezes e os dados são robustos. A explicação para que haja mais azinheiras em zonas com maior temperatura e mais secas é a de que nessas zonas o ambiente é mais difícil para a agricultura. Em todas as outras zonas, ela desaparece, porque a agricultura instala-se. É como se fosse empurrada para a zona mais difícil para a agricultura”, frisa a investigadora.
Segundo Vanda Acácio, apesar de a proteção destas duas espécies de árvores ter aumentado ao longo dos anos, “elas estão a morrer” e continuam a perder terreno no País.
“Faltam políticas que permitam ao pequeno proprietário ter algum investimento para o restauro ecológico. Era importante haver investimento público também associado ao pagamento de serviços de ecossistemas, porque os ecossistemas são muito importantes em termos de biodiversidade, mas também economicamente, culturalmente e socialmente”, realça.
A investigadora aponta ainda para a necessidade de se avançar com a certificação de florestas e com a aposta na investigação das duas espécies, nomeadamente em relação a agentes patogénicos que poderão estar relacionados com a mortalidade das árvores.
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