Avenida Almirante Reis em Lisboa foi ocupada em protesto contra “destruição” da ciclovia
Mais de meia centena de pessoas ocuparam este domingo um troço descendente da avenida Almirante Reis, em Lisboa, onde estacionaram as bicicletas e fizeram um piquenique “pelo direito à cidade”, manifestando-se contra a solução provisória de retirar metade da ciclovia.
Avenida Almirante Reis em Lisboa foi ocupada em protesto contra “destruição” da ciclovia. “Menos automóveis, mais espaço para as pessoas”, defendeu Pedro Monteiro, que integra a iniciativa Massa Crítica, que celebra o uso da bicicleta e que decidiu, juntamente com associações pela justiça climática, organizar a manifestação após saber, na quarta-feira à noite, que parte da ciclovia da Almirante Reis estava a ser retirada.
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Promovido através das redes sociais, o protesto começou tímido, com cerca de três dezenas de pessoas pelas 17:00, com a polícia a questionar a legitimidade de ocupação da via, mas a organização recusou desmobilizar e a participação aumentou para cerca de 70 pelas 18:30.
Os manifestantes transformaram cerca de 30 metros do troço descendente da avenida Almirante Reis, entre a Alameda e a Praça do Chile, num espaço de piquenique, com toalhas estendidas no alcatrão e com lanches variados.
Inspirado na iniciativa “Pic Nic the Streets”, que surgiu em Bruxelas em defesa de mais espaço público para usufruto dos cidadãos em vez da preocupação com o fluxo de automóveis, o protesto juntou utilizadores de bicicleta, nomeadamente famílias com bebés e crianças que aproveitaram para brincar em plena avenida.
Contra a “destruição” da ciclovia da Almirante Reis e a ideia de “meter mais carros na avenida”, Pedro Monteiro considerou que a cidade tem que ser “mais para as pessoas, mais para a qualidade de vida e não tanto como via de atravessamento”, em que “as pessoas passam, nem param sequer, não usam o comércio, não conhecem a cidade por onde passam”.
O organizador da manifestação referiu que a solução provisória apresentada pelo presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas (PSD), para a ciclovia “corresponde à primeira versão” proposta pelo anterior presidente da autarquia, Fernando Medina (PS), e que levantava “imensas questões” ao nível da segurança, por se tratar “uma ciclovia bidirecional estreita”.
Apesar de reconhecer que “há imensos pontos de melhoria”, inclusive a continuidade dos trajetos cicláveis, Pedro Monteiro sugeriu que até ser estudada uma solução melhor a ciclovia deve continuar como está, porque “não faz sentido mudar para pior” e “os próprios automobilistas já se adaptaram e já estão habituados a esta situação”.
Relacionando a mobilidade com a questão da habitação, o responsável da iniciativa Massa Crítica reforçou que “é preciso que as pessoas consigam viver na cidade”, o que facilita a utilização da bicicleta, realçando que a avenida Almirante Reis “permite chegar praticamente a qualquer ponto de Lisboa em 15 minutos de bicicleta, por isso é que também a luta pela ciclovia é tão intensa e tão importante”.
Com a família sentada no alcatrão da avenida a lanchar, Bárbara Duque, de 39 anos, vive em Lisboa há quase duas décadas, já foi utilizadora de vários meios de transporte e, desde há seis anos, que usa a bicicleta para as deslocações do dia a dia, “mesmo com as crianças”, lembrando o tempo em que percorria a Almirante Reis sem existir ciclovia, ou seja, “sem uma via segura”.
“Esta avenida é muito bonita e será cada vez mais bonita se puder ser usada pelas pessoas”, apontou a ciclista, em declarações à Lusa, apoiando a ideia de uma cidade de proximidade em que “faz sentido dividir o espaço de uma maneira mais democrática”, inclusive com espaço para as crianças poderem estar livremente a brincar na rua.
Sobre a proposta de Carlos Moedas para a ciclovia, Bárbara Duque disse que ainda não sabe se é contra, porque sente que o presidente da câmara “cada dia diz uma coisa diferente”, mas ressalvou que o fundamental é “não tomar decisões e não começar a fazer obras sem a garantia de que existe uma ciclovia”, pelo que a solução “não pode passar por apagar uma ciclovia a meio da noite”.
Admitindo que a atual via ciclável “não é totalmente segura”, a ciclista reforçou que a mesma “tem que ser pensada, mas não pode ser retirar e depois pensar”, acrescentando que “não é necessário ter quatro vias para automóveis”.
A ler um livro enquanto protestava contra o plano de retirar metade da ciclovia, o lisboeta Artur Vasco, de 24 anos, estudante de ciência política, contou que já viveu na Almirante Reis antes da instalação da via ciclável e “era horrível a poluição e o ruído” e defendeu que a avenida não pode ser só para carros, é preciso mais espaço para o peão e para os meios suaves, como a bicicleta e a trotinete, e é necessário ter mais árvores.
“Temos que diminuir a velocidade máxima em Lisboa e incentivar o uso de bicicletas, andar, transportes públicos”, referiu o jovem, avisando que tal não se consegue com propostas para aumentar o fluxo de carros.
Como solução transitória, Carlos Moedas decidiu retirar a ciclovia do sentido ascendente e colocar duas faixas para automóveis. Toda a ciclovia ficará assim no sentido descendente, permitindo, segundo o autarca “que o trânsito escoe da cidade com maior fluxo”, ao mesmo tempo que os utilizadores da ciclovia também continuam “a percorrer a avenida”. O projeto de requalificação da ciclovia da avenida Almirante Reis inclui ainda alterações nos sentidos de tráfego junto ao mercado de Arroios e a eliminação do corredor ‘Bus’ da rua Carlos Mardel.
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