Câmara de Ovar quer demolir cineteatro que comprou por 375 mil euros

A Câmara de Ovar quer demolir o antigo edifício do Cineteatro de Ovar, que a própria autarquia adquiriu por 375.000 euros para converter em novos usos, e já foi lançada uma petição contra essa medida.

Câmara de Ovar quer demolir cineteatro que comprou por 375 mil euros

Em causa está um edifício que, no centro daquela cidade do distrito de Aveiro, foi inaugurado em 1944 no estilo arquitetónico do Estado Novo e esteve em funcionamento até aos anos 90, após o que entrou num processo de degradação que, em 2016, culminou na derrocada de parte da fachada principal.

Para evitar riscos de segurança, a Câmara tomou então posse administrativa do prédio e disponibilizou-se a adquiri-lo aos seus vários proprietários, o que se concretizou em 2018, quando o então presidente da autarquia, o social-democrata Salvador Malheiro, defendia a adaptação do imóvel a novas valências.

Pondo de parte que o prédio viesse a ser transformado em mais uma casa de espetáculos, o autarca anunciava nessa altura à Lusa: “Este é um dia simbólico porque o Cineteatro de Ovar é um dos edifícios mais carismáticos para a comunidade vareira, faz parte do legado do Município e, apesar do seu avançado estado de degradação, vai entrar numa nova fase”.

Agora que a câmara é liderada por Domingos Silva, que era vice-presidente de Salvador Malheiro por altura da aquisição, a autarquia defende que “o Cineteatro já se encontra demolido desde 2016” e confirma a intenção de derrubar o que resta do prédio para construção no local de uma futura “Praça Cineteatro”.

“Pode adiantar-se que o conceito passa pela requalificação do espaço, garantindo mais uma praça no centro da cidade de Ovar, com uma entrada privilegiada para o Parque Urbano e permitindo polivalência no uso do local, também para fins culturais”, informa fonte oficial da câmara.

O conceito definitivo ainda não está, contudo, acabado e o projeto encontra-se “numa fase inicial, pelo que não é possível apontar, com rigor, uma data para a intervenção”.

O membro da Assembleia Municipal de Ovar, eleito pelo CDS-PP mas entretanto desvinculou-se do partido, Fernando Camelo de Almeida, considera que “a possibilidade de a Câmara Municipal ter a intenção de demolir a fachada e o que resta do edifício do Cineteatro é inaceitável”.

“Este executivo não tem qualquer legitimidade política para tomar uma decisão desta natureza sem, pelo menos, fazer uma consulta pública, pois não constava do programa eleitoral do PSD a demolição do imóvel”, acrescentando que o edifício pode ser reabilitado de forma a “ter uma utilidade que seja benéfica para a cidade, sem se destruir mais um elemento da sua memória coletiva”.

No mesmo sentido, este fim de semana apareceu nas redes sociais a petição “Demolição do Cineteatro de Ovar NÃO”, que contava esta manhã com mais de 160 assinaturas contra “a demolição total e definitiva do histórico edifício” e a consequente “perda irreversível de património edificado com um importante valor sentimental para muitas gerações de ovarenses”.

Os subscritores da petição reivindicam “a conservação e reabilitação do edificado existente, enquanto símbolo maior da identidade da cidade e do município de Ovar”.

Argumentam que “o que resta do saudoso Cineteatro de Ovar permanece esteticamente relevante, pelo seu princípio de funcionalidade, simplicidade, elegância intemporal e beleza singular, e deve ser protegido”, até porque, apesar do aspeto “pouco digno do edifício subsistente, não se pode resumir este imóvel a um mero conjunto de pedras e tijolos”, porque “a sua relevância reside na história riquíssima, nas memórias que guarda e nas histórias que ainda poderá contar”.

“Tal como outros municípios do nosso país têm compreendido o potencial de edifícios equiparados ao Cineteatro de Ovar, avançando com obras de reabilitação, revitalizando-os e adaptando-os a novos usos com assinalável sucesso, promovendo a regeneração urbana e a sustentabilidade, também este imóvel deve ser merecedor de uma segunda vida”, propõem.

AYC // JAP

Lusa/Fim

By Impala News / Lusa

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