Cientistas tentam explicar morte prematura de Beethoven através do seu ADN
Um dos mais influentes compositores da música clássica, Ludwig van Beethoven, morreu há quase dois séculos em Viena, aos 56 anos, e atualmente os cientistas utilizaram uma técnica sem precedentes para tentar perceber a sua morte prematura.
Cientistas tentam explicar morte prematura de Beethoven através do seu ADN a partir de mechas de cabelo. O compositor alemão morreu a 26 de março de 1827.
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O estudo, publicado esta quarta-feira na revista científica Current Biology, revelou fortes predisposições genéticas para doenças do fígado, bem como infeção pelo vírus da hepatite B no final da vida, dois fatores que provavelmente contribuíram para a sua morte, certamente por cirrose, agravada pelo consumo de álcool.
No entanto, os investigadores não souberam explicar a causa da sua surdez progressiva, que tanto sofrimento causou ao autor da 9.ª sinfonia.
Em 1802, o compositor tinha manifestado o seu desejo, numa carta aos irmãos escrita num momento de desespero, que a sua doença fosse descrita após sua morte e tornada pública.
“Procuramos realizar esse desejo”, referiu Tristan Begg, investigador da Universidade de Cambridge e principal autor do estudo, durante uma conferência de imprensa.
Cientistas analisaram 8 mechas de cabelo de Beethoven
Apesar de ainda persistir o mistério em torno de algumas das muitas patologias de que padeceu Beethoven, os cientistas tiveram “muita sorte (…) em obter resultados tão fascinantes”, frisou Begg, que está na origem deste projeto iniciado em 2014.
Até agora, as investigações sobre a saúde de Beethoven eram baseadas principalmente na sua correspondência, no seu diário, em notas dos seus médicos ou mesmo no relatório de autópsia.
Desta vez, os cientistas analisaram oito mechas de cabelo apresentadas como pertencentes a Beethoven e provenientes de coleções públicas ou particulares.
A investigação permitiu determinar que cinco destas mechas de cabelos eram do mesmo indivíduo do sexo masculino, com alterações que datavam do início do século XIX.
Estes cinco pedaços de cabelo, que abrangem os últimos sete anos da vida de Beethoven, quase certamente são autênticas, de acordo com os investigadores.
Outros três, por outro lado, foram desclassificados, inclusive um que tinha sido utilizado para sustentar a hipótese da morte por envenenamento por chumbo, mas que na verdade pertencia a uma mulher.
O sequenciamento do ADN ocorreu na Alemanha, no laboratório do Instituto Max-Plank de Antropologia, em Leipzig, onde costumam ser estudados os humanos pré-históricos.
Beethoven bebia muito
Ao contrário da análise óssea, “no cabelo, o ADN está muito degradado”, explicou Johannes Krause, responsável do departamento de genética deste instituto e coautor do estudo. “Foi difícil colher ADN suficiente para montar o genoma”, explicou. Vários metros de cabelo foram utilizados e, finalmente, três quartos do genoma (todos os genes de um ser vivo) puderam ser mapeados.
Beethoven, que teve pelo menos dois episódios de icterícia, o primeiro dos quais em 1821, tinha “uma predisposição genética considerável” para doenças do fígado, concluiu o estudo.
Também revelou que Beethoven teve uma infeção pelo vírus da hepatite B, pelo menos durante os últimos meses da sua vida, mas que poderia ter sido antes. No entanto, uma infeção crónica é uma das principais causas de cirrose, sendo conhecido que Beethoven bebia muito.
“Acreditamos, portanto, que a sua doença vem de uma interação” entre esses três fatores, explicou Markus Nöthen, também coautor do estudo.
Por outro lado, os investigadores não puderam emitir uma conclusão definitiva para os problemas intestinais do compositor, sendo que a intolerância à lactose está excluída, nem especialmente para a sua surdez, que pode ter sido causada por otosclerose ou doença de Paget.
Para concluir o trabalho, os cientistas compararam o ADN de Beethoven com o de cinco belgas que partilhavam com o compositor um parente distante que viveu no século XVI, Aert van Beethoven.
Para surpresa destes, o cromossoma Y desses cinco homens não coincide com o do músico.
Segundo os investigadores, a única explicação possível é um caso extraconjugal, em algum lugar entre as sete gerações que separam este ancestral comum e o nascimento de Beethoven, em Bonn, em 1770.
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