Companhia Olga Roriz celebra 30 anos no CCB com versão em dança de peça de Peter Handke

A Companhia Olga Roriz assinala 30 anos com a reposição de “A hora em que não sabíamos nada uns dos outros”, a partir da obra de Peter Handke, sexta-feira e sábado, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.

Companhia Olga Roriz celebra 30 anos no CCB com versão em dança de peça de Peter Handke

Com direção de Olga Roriz e elenco de 32 intérpretes — entre antigos e atuais membros da companhia –, esta nova versão do espetáculo, originalmente estreado pela companhia em 2023, retoma a estrutura da peça original do escritor austríaco, Nobel da Literatura em 2019, composta por 450 personagens que atravessam uma praça, sem palavras, construindo um retrato coreográfico e visual da condição humana.

Na visão de Olga Roriz, a obra continua a oferecer uma poderosa reflexão sobre a comunicação e o anonimato na vida urbana: “O que sabemos uns dos outros e de nós próprios é um poço cada vez mais escuro e é urgente abrir canais à transformação, à criação da utopia”, defende a coreógrafa.

Os personagens são de diversas profissões ou figuras do quotidiano, como o varredor, o empregado da pastelaria, o louco, a noiva, o atleta, as beldades, o agente secreto, a pessoa em situação de sem-abrigo, que entram num rol ampliado pela criatividade da coreógrafa a partir da peça de teatro de Peter Handke, de 1992.

Olga Roriz viu a representação original de “A hora em que não sabíamos nada uns dos outros” em Portugal, como relatou em entrevista à agência Lusa em 2023, antes da estreia, em Loulé.

“Eu tinha visto esta peça há muitos anos num festival do Teatro Nacional Dona Maria, e lembro-me de ter sentido uma estranheza”, recordou a coreógrafa, na altura, apontando que já então gostava do dramaturgo Peter Handke.

Mais tarde, a peça surgiu-lhe no pensamento “com a força desta grandiosidade, centenas de personagens”, adaptada à linguagem da dança que é a sua natureza.

Olga Roriz decidiu avançar para a criação com o propósito de colocar a obra na modernidade de um mundo muito alterado desde os anos 1990: “A peça tem a visão do escritor, daquilo que se estava a passar à frente dele. Quando a escreveu, ele observava a vida normal da praça de uma cidade”, em Itália.

“O detonador da peça foi uma tarde de vários anos atrás. Tinha passado o dia inteiro numa pequena praça em Muggia, perto de Trieste. Sentei-me no terraço de um café, e vi a vida a passar. Cada pequena coisa tornou-se significativa (sem ser simbólica). Os procedimentos mais minúsculos pareciam significativos do mundo”, escreveu Peter Handke, em 1992.

“Obviamente que aquela não é a nossa praça. Nós já não vamos fazer encontros, convívio ou negócios à praça, que agora é apenas um local de passagem”, observou a coreógrafa, acrescentando, no entanto, que o texto “é totalmente intemporal”.

Foi com o pensamento na contemporaneidade que Olga Roriz pediu os direitos de autor da peça, convicta de que a dança daria “mais abertura a outras leituras diferentes do teatro”.

“Poder ir além da imaginação das palavras” deu grande entusiasmo à autora de peças como “A Sagração da Primavera”, “Antes que Matem os Elefantes”, “Síndrome” e “Seis Meses Depois”.

Em “A hora em que não sabíamos nada uns dos outros”, nascida no mundo da dança, “não há palavras, nem diálogo, mas um dar corpo à imaginação”, sublinhou Olga Roriz, recordando que, quando lhe foram cedidos os direitos de autor para fazer estas adaptações, exigiram apenas que respeitasse a estrutura, ambiência e conteúdo da peça.

Peter Handke “dá liberdade a quem vai encenar, de dar a sua visão do mundo, que pode ser o momento presente, o passado, ou projetada no futuro”, disse a criadora à Lusa, na altura.

O repertório de Olga Roriz na área da dança, teatro e filme é constituído por mais de 30 obras.

Nascida em Viana do Castelo, em 1955, Olga Roriz teve como formação artística o curso da Escola de Dança do Teatro Nacional de São Carlos, com Ana Ivanova, e o curso da Escola de Dança do Conservatório Nacional de Lisboa, tornando-se primeira bailarina do Ballet Gulbenkian, dirigido na altura por Jorge Salavisa, onde foi depois convidada para coreógrafa principal.

Em 1992, assumiu a direção artística da Companhia de Dança de Lisboa e, em fevereiro de 1995, viria a criar a Companhia Olga Roriz, atualmente instalada no Palácio Pancas Palha, cedido pela Câmara Municipal de Lisboa. Este ano celebra três décadas de existência.

Com tradução de João Barrento e cenografia de Eric Costa, o espetáculo “A hora em que não sabíamos nada uns dos outros” conta ainda com banda sonora de João Rapozo e Olga Roriz, figurinos da Companhia Olga Roriz, desenho de luz de Cristina Piedade e assistência de direção de André de Campos.

AG // MAG

By Impala News / Lusa

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