Condições sociais e familiares dos ratinhos de laboratório determinam elevada mortalidade

O primeiro estudo de larga escala sobre a mortalidade precoce em ratinhos de laboratório, hoje publicado, revelou que as condições sociais e familiares destes animais determinam a elevada mortalidade pré-desmame.

Condições sociais e familiares dos ratinhos de laboratório determinam elevada mortalidade

O primeiro estudo de larga escala sobre a mortalidade precoce em ratinhos de laboratório, hoje publicado, revelou que as condições sociais e familiares destes animais determinam a elevada mortalidade pré-desmame.

A equipa de investigadores internacionais, liderada pelo Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S), analisou detalhadamente o percurso de 35 mil ninhadas de ratinhos de dois dos maiores biotérios europeus, cobrindo cerca de 10 anos de atividade.

Segundo o i3S, o artigo, publicado na revista PlosOne, escrutina as práticas de criação em instalações com condições e regras de elevada qualidade para determinar os fatores de risco associados à mortalidade.

Em comunicado, o i3S refere que na União Europeia são utilizados, a cada ano, cerca de 5,7 milhões de ratinhos de laboratório em trabalhos de investigação, nomeadamente na investigação biomédica para estudos de doenças, medicamentos e vacinas, entre outros.

“Estes números são bem conhecidos e registados, pois há regras muito rigorosas e restritivas na utilização de animais em experimentação, bem como uma vigilância muito apertada do seu bem-estar em todo o processo”, sublinha.

Contudo, “o número de animais que nascem para estes fins é bastante superior porque a taxa de mortalidade na fase pré-desmame dos ratinhos é muito alta. Os veterinários e investigadores estão cientes deste problema, mas não existem muitos estudos que permitam perceber a sua magnitude nem quais os fatores que condicionam esta perda precoce que acarreta custos elevadíssimos”, acrescenta.

Com base nestes dados, num projeto financiado pela FCT a equipa internacional liderada por Anna Olsson, coordenadora do grupo “Ciência de Animais de Laboratório” do i3S, analisou dados referentes a 35 mil ninhadas produzidas por duas instalações do Reino Unido, líderes em investigação biomédica.

Isto significa que “a equipa seguiu o registo e percurso de cerca de 220 mil ratinhos, assim como todas as circunstâncias que os rodeavam, desde o nascimento até ao desmame. Os registos cobrem quase 10 anos de atividade de uma das instalações e quatro anos da outra”, explica Anna Olsson.

“O objetivo foi determinar a taxa de mortalidade pré-desmame e identificar fatores que aumentam a probabilidade de mortalidade de cada ratinho nascido”, refere a investigadora.

Os investigadores verificaram que as taxas médias de mortalidade em pré-desmame variavam entre as instalações (14% e 39%) para a mesma estirpe de ratinho em reprodução, muito superior à taxa de mortalidade de referência estabelecida (8%).

Ou seja, explica Gabriela Morello, primeira autora do artigo, “o número teórico de referência é muito subestimado e muitas instalações de animais não estão cientes que enfrentam um problema de sobrevivência dos animais mais agravado mesmo em animais saudáveis e em instalações bem cuidadas”.

“Foi necessário analisar outras condicionantes”, explica Gabriela Morello.

Os ratinhos são animais sociais, vivem em pequenas colónias (em cada gaiola) constituídas por um macho, uma ou duas fêmeas e por vezes ninhadas nascidas em datas mais ou menos próximas. Por isso, a estrutura de cada colónia foi um dos pontos chave no estudo.

“A sobreposição de ninhadas, ou seja, a presença de irmãos mais velhos na gaiola quando nascem novos filhotes, parece condicionar a sobrevivência dos recém-nascidos. A este fator de risco acresce ainda a idade avançada da mãe, o tamanho da ninhada, e um alto número e idade de irmãos mais velhos na gaiola”, esclarece a investigadora.

“Sem dúvida que, para um ratinho, nascer numa gaiola onde já existe uma ninhada mais velha é perigoso. No entanto, quão mais velha é a outra ninhada também é crucial. Se as idades são próximas, no nosso estudo até uma semana de diferença, não há aumento do risco. Tudo piora quando existem outras condições de risco, como ser de uma mãe mais velha, ou fazer parte de uma ninhada mais pequena”, refere ainda Anna Olsson.

A equipa chegou a estas conclusões através da compilação e análise cruzada de muitos dados, incluindo informações sobre o número de ratinhos nascidos e desmamados por ninhada, idade e identificação dos pais, datas de nascimento, entre outros. Estes resultados, sublinham as duas investigadoras, “apresentam um conjunto de dados que poderão ajudar a reduzir a mortalidade de ratinhos de laboratório na fase pré-desmame”.

 

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