Conflitos, desigualdades, crise climática e tecnologia são prioridades de Guterres para 2025
Os conflitos em curso no mundo, o combate às desigualdades e à crise climática e os perigos da tecnologia descontrolada são as prioridades para este ano do secretário-geral da ONU, António Guterres, apresentadas hoje perante a Assembleia-Geral.
Num ‘briefing’ na sede das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque, Guterres começou a apresentação das suas prioridades para 2025 com “boas notícias”, avaliando haver “sinais de esperança” apesar da “turbulência” do mundo atual.
O líder da ONU manifestou esperança com os recentes desenvolvimentos relacionados com um possível acordo de cessar-fogo e de libertação de reféns na Faixa de Gaza, com a recente eleição de um Presidente no Líbano ou, na frente climática, com o aumento dos investimentos em energia limpa.
“Sim, há progresso no nosso mundo tumultuado. Mas não tenhamos ilusões: este é um mundo em grande parte em turbulência e em grave incerteza. As nossas ações — ou inações — desencadearam uma moderna caixa de Pandora de males”, disse.
“Quatro desses males destacam-se porque representam, na melhor das hipóteses, ameaças que podem interromper todos os aspetos da nossa agenda e, na pior, derrubar a nossa própria existência: conflitos descontrolados, desigualdades desenfreadas, crise climática devastadora e tecnologia fora de controlo”, assinalou o ex-primeiro-ministro português.
Perante um amplo corpo diplomático presente na Assembleia-Geral da ONU, Guterres priorizou a necessidade de se alcançar a paz em conflitos cada vez mais “complicados e mortais”, agravados por divisões geopolíticas e desconfianças, com a ameaça nuclear “no seu ponto mais alto em décadas” e a impunidade a mostrar-se “endémica”.
Focando-se nos conflitos no Médio Oriente, Guterres falou numa reformulação regional, frisando não estar claro o que está por vir.
“Em Israel e na Palestina, veremos uma ação irreversível em direção a uma solução de dois Estados (…) como temos defendido constantemente? Ou, em vez disso, veremos uma firme anexação por Israel, a negação dos direitos e da dignidade do povo palestiniano e a destruição de qualquer hipótese de paz sustentável?”, questionou.
“Na Síria, após anos de derramamento de sangue, veremos um país que pode finalmente ser um farol de diferentes religiões, tradições e comunidades moldando um futuro inclusivo, livre e pacífico (…)? Ou veremos fragmentação, junto com o atropelo dos direitos de minorias, mulheres e meninas?”, continuou o representante, admitindo ainda incertezas sobre o futuro do Irão.
O secretário-geral da ONU não deixou de fora outras guerras e conflitos a precisarem de atenção da comunidade internacional, como na Ucrânia, Sahel, Sudão, Haiti, Somália, Myanmar (antiga Birmânia), República Democrática do Congo ou Iémen.
Em relação à sua segunda prioridade, Guterres defendeu que as desigualdades são um sinal inequívoco de que algo “está profundamente” errado com os sistemas sociais, económicos, políticos e financeiros em vigor.
Porém, defendeu que as desigualdades podem ser superadas se as autoridades se comprometerem com políticas que promovam a equidade em vez de se “apegarem às mesmas abordagens fracassadas”.
Para esse efeito, o líder da ONU defendeu uma maior ação para atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, com foco em áreas de alto impacto como erradicação da pobreza, segurança alimentar, educação de qualidade para todos, proteção social, cobertura universal de saúde, acesso à energia, digitalização e redução dos impactos climáticos.
“E devemos colocar um foco particular nas necessidades de África”, indicou, reiterando também a necessidade de modernização das instituições financeiras globais.
António Guterres, que elegeu a crise climática como uma das prioridades do seu mandato, apontou a abordagem desse mesmo problema como essencial para 2025, começando por fazer referência aos devastadores incêndios que estão a assolar Los Angeles, cidade norte-americana que “passou de lar de filmes de desastre para cenário de desastre”.
“Quem paga o preço pela destruição climática observada no mundo? Não é a indústria de combustíveis fósseis, que embolsa lucros e subsídios dos contribuintes enquanto os seus produtos causam estragos. São as pessoas comuns. (…) E, particularmente, sofrem os mais vulneráveis, que menos fizeram para desencadear essa devastação”, frisou.
Um dos objetivos da ONU é limitar o aumento da temperatura global a longo prazo a 1,5°C, com Guterres a defender que essa batalha não pode ser vencida sem uma eliminação rápida, justa e financiada dos combustíveis fósseis em todo o mundo.
Por fim, o secretário-geral focou-se na necessidade de uma administração cuidadosa da revolução tecnológica, especialmente em relação à Inteligência Artificial, cujo potencial deve beneficiar a humanidade e o acesso deve ser equitativo – “não apenas para alguns privilegiados”.
“O mundo precisa de uma Inteligência Artificial que seja ética, segura e protegida. (…) Juntos, vamos garantir que a Inteligência Artificial atenda ao seu propósito mais elevado: promover o progresso humano, a igualdade e a dignidade”, reforçou Guterres.
Assinalando o facto das Nações Unidas celebrarem em 2025 o seu 80.º aniversário, Guterres concluiu o seu ‘briefing’ com um apelo: “Vamos construir o mundo mais pacífico, justo e próspero que sabemos estar ao nosso alcance — apesar de tudo”.
O segundo mandato de Guterres na liderança da ONU dura até dezembro de 2026.
MYMM // SCA
By Impala News / Lusa
Siga a Impala no Instagram