Covid-19: Mutação do coronavírus descoberta no Reino Unido não é razão para alarme
Nova variante do coronavírus descoberta no Reino Unido, que provoca a covid-19, parece ser capaz de se transmitir 70% mais rapidamente, o que não significa que seja mais perigosa.
De acordo com o ministro da Saúde britânico, Matt Hancock, a nova mutação do novo coronavírus – confirmada no sul do Reino Unido e que já se encontra noutros países europeus – espalha-se 70% mais rapidamente do que a variante anterior. “Identificámos uma nova variante do coronavírus que pode estar associada à disseminação mais rápida no sudeste da Inglaterra”, disse, numa declaração na Câmara dos Comuns, durante esclarecimentos relativos à situação da covid-19 no país. Hancock afirma contudo que isto não quer dizer que a nova variante seja mais perigosa.
Mutações como a que se se descobriu na semana passada são comuns. Na China, onde a pandemia teve origem, surgiu uma nova variante que circulou durante seis meses. Neste verão, em plena Europa, outra variante, com origem na vizinha Espanha, também veio a espalhar-se por metade da Europa. Na verdade, os vírus estão em constante mutação, mas os efeitos são normalmente mínimos. O exemplo mais mais comum entre a nossa comunidade é a do vírus da gripe, que obriga a novas tomas de vacina anualmente.
A reação do corpo às novas mutações
Por norma, o corpo humano protege-se dos vírus. Os nossos sistemas de defesa produzem anticorpos que nos defendem de ataques e nos tornam imunes. Caso o vírus já tenha sofrido mutações e os anticorpos tenham ficado programados para uma variante mais antiga, os anticorpos serão menos eficazes. De novo o exemplo da gripe – ficamos frequentemente engripados porque o corpo já produziu os anticorpos contra a gripe anterior, mas não para a variante mutada. As mutações não são motivo de pânico, porque um vírus não se fica obrigatoriamente mais forte a cada mutação. Muitas delas enfraquecem o vírus.
Como ocorrem as mutações nos vírus e porquê?
Depois de o corpo humano desenvolver anticorpos, tornando-se capaz de evitar o ressurgimento a doença, o vírus muda a sua membrana protetora para voltar a deixar reconhecido pelos anticorpos e pelas células que constituem o sistema imunológico. Ou seja, o vírus disfarça-se para sobreviver, alterando as proteínas externas. Desta alteração, o vírus desenvolve novas cepas – é o mesmo vírus, mas disfarçado.
Para poderem multiplicar-se, os vírus precisam de uma célula hospedeira. Ao atacarem, transmitem a informação genética do seu núcleo para a célula infectada. É este o esquema usado pelos vírus que leva as células do corpo gerarem milhões e milhões de cópias virais. Com estas reproduções, porém, acontecem pequenos erros de cópia e cada erro altera o código genético do próprio vírus – ou seja, sofre uma mutação.
Por que é que a nova variante se espalha de forma mais rápida?
Como todos os coronavírus – e este é já o sétimo conhecido –, o Sars-Cov-2, responsável pela covid-19, é um vírus de mutação baixa, quase mensal. Estas diferentes variantes ajudam a explicar os motivos por que ondas de infecções nas diferentes zonas no Planeta são de gravidade diferente e por que as infecções podem se desenvolvem de forma distinta de pessoa para pessoa.
A nova variante descoberta no Reino Unido tem várias mutações na proteína do coronavírus e esta deleção – a parcial remoção de um cromossoma ou até de um gene – perdeu dois aminoácidos, o que é – como já se viu – meio caminho andado uma propagação mais veloz. Se esta não é uma novidade em qualquer vírus, no que provoca a covid-19 também não. De facto, já fora encontrada no Leste Asiático uma deleção idêntica, que até provocou infecções mais leves; aparentemente, a mutação enfraqueceu o coronavírus.
As novas vacinas para nos protegermos da covid-19 tornam-se menos ineficazes?
O Reino Unido foi o primeiro país da Europa a iniciar a vacinação em grande escala. A nova mutação não torna as novas vacinas ineficazes, porque codificam a informação da proteína central do coronavírus de tal forma que o nosso sistema imunológico não perde estímulo no combate, apesar das mutações.
Sabe-se que os vírus da gripe, por exemplo, sofrem mutações de forma bastante veloz e é por esse motivo que as vacinas são reajustadas anualmente para continuarem eficazes na resposta para que foram desenhadas. Para o novo coronavírus, é igualmente certo que tenhamos de reajustar as vacinas de tempos a tempos, faltando saber com que intervalo. As informações recolhidas e trabalhadas até ao momento e a capacidade de responder de forma rapidíssima e global à criação e distribuição de vacinas são o garante de que o futuro não é negro, não havendo, por isso, razões para alarme.
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