Cresce número de bebés natimortos em Gaza devido a desnutrição e stress das grávidas
O número de bebés natimortos em Gaza tem aumentado nas últimas semanas devido à desnutrição e ao stress das grávidas, denunciou hoje um responsável da ONU, alertando que já não nascem “bebés de tamanho normal” no enclave.
“Estamos a ver, em termos de cuidados maternos, um grande aumento de casos complicados de nascimento, (…) devido à desnutrição, da fome, da desidratação e do stress causado pelo grande medo que continua a prevalecer em todo o lado”, contou Dominic Allen, representante do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) para a Palestina, num ‘briefing’ virtual à imprensa a partir de Jerusalém, sobre a sua recente visita a Gaza.
“O medo está por toda parte em Gaza, mas especialmente para as mulheres grávidas. Os médicos relatam que já não veem bebés de tamanho normal. Tragicamente, veem mais nados-mortos e mais mortes neonatais. E isso é causado, em parte, pela desnutrição, desidratação e complicações”, acrescentou, sublinhando que cerca de 180 mulheres dão à luz todos os dias em Gaza e passam por esta situação.
Descrevendo o dramático cenário que encontrou no terreno, com grávidas “exaustas pelo medo, por terem sido deslocadas diversas vezes, pela fome”, Allen frisou que “essas mães deveriam embrulhar os seus filhos nos braços, não em sacos para cadáveres”.
De acordo com Dominic Allen, essa situação afetará definitivamente o futuro de Gaza.
O representante da UNFPA também destacou a falta de produtos anestésicos para cesarianas e denunciou a recusa pelas autoridades israelitas do envio de certos produtos essenciais para partos.
“Se consigo pintar um quadro do que vi, senti, ouvi enquanto estive em Gaza (…) é que é um pesadelo maior do que uma crise humanitária, é uma crise de humanidade”, lamentou.
“Posso assegurar-vos que é pior do que posso descrever, ou do que as imagens podem mostrar, ou do que podem imaginar”, reforçou.
Durante a viagem ao norte da Faixa de Gaza, a zona mais afetada pela guerra de Israel no enclave, “o que vi partiu-me o coração”, insistiu Allen, referindo-se à “emoção indescritível” nos olhos da população.
“Todas as pessoas que vimos, com quem falámos, estavam esqueléticas, tinham fome, estavam todas a fazer este sinal para pedir comida”, descreveu, levando as mãos à boca.
“É por isso que todos os dias, especialmente no norte, são uma batalha pela sobrevivência”, salientou Allen.
A maior parte dos hospitais de Gaza já não funciona e a ONU tem alertado repetidamente que o norte, em particular, enfrenta a maior ameaça de fome iminente.
Allen, que defendeu a necessidade de a ajuda ser entregue sem restrições e em grande escala ao enclave, mencionou ainda ter visto lançamentos aéreos de ajuda que falharam o alvo ou com fraco aproveitamento.
Israel e o Hamas estão em guerra desde 07 de outubro de 2023, quando operacionais do grupo islamita palestiniano fizeram um ataque sem precedentes em solo israelita, matando cerca de 1.200 pessoas e sequestrando cerca de 240 outras.
Em resposta, Israel lançou uma ofensiva militar na Faixa de Gaza que já causou cerca de 31.500 mortos, segundo o governo do Hamas.
MYMM // RBF
By Impala News / Lusa
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