Crise já se sente nas escolhas nas farmácias e estas queixam-se do aumento das despesas

A crise já se sente na escolha dos portugueses nas farmácias, que optam pelos produtos comparticipados e essenciais, enquanto estes estabelecimentos se queixam de enfrentarem o aumento das despesas, como da eletricidade, disseram à Lusa profissionais do setor.

Crise já se sente nas escolhas nas farmácias e estas queixam-se do aumento das despesas

O aumento dos preços faz-se sentir nos produtos de venda livre nas farmácias, como os dermocosméticos, vitaminas, probióticos, situação que leva os utentes a retraírem-se na hora de os comprar.

“As pessoas não compram hoje com a mesma facilidade um champô, um creme de corpo”, muitas vezes necessários para o tratamento de problemas de pele, “ou vitaminas e tudo isso faz parte da nossa saúde e bem-estar”, disse à Lusa Isabel Cortez, presidente da Associação de Farmácias de Portugal (AFP).

Segundo a farmacêutica, o aumento do preço de produtos e medicamentos não sujeitos a receita médica começou a sentir-se em junho. “Tudo o que comprávamos de novo vinha com um novo preço”, constatou.

“Com o aumento do preço de bens essenciais as pessoas perdem poder de compra e contraem-se mais para comprar algo que não é tido como estritamente essencial”, acabando muitas vezes apenas por levar os medicamentos comparticipados, cujos preços não foram alterados, para o tratamento da sua doença, explicou.

A presidente da Associação Nacional de Farmácias (ANF), Ema Paulino, alertou, por seu turno, para o aumento das despesas que estes estabelecimentos estão a sofrer com o aumento dos fornecimentos e serviços externos, como a eletricidade e o serviço de entrega de medicamentos devido à taxa aplicada pelos distribuidores farmacêuticos por causa da subida dos preços dos combustíveis.

Por outro lado, também tem sido difícil contratar farmacêuticos.

“Com a questão da crise pandémica e a tendência também para o trabalho remoto, sendo que na farmácia não existe essa possibilidade, o trabalho é presencial e muitas vezes com horários bastante difíceis, isso tem desencorajado os profissionais de saúde a trabalhar também nas farmácias comunitárias”, explicou.

O problema, segundo Ema Paulino, é que as farmácias não podem repercutir estes aumentos no custo dos seus serviços e nos medicamentos como acontece no comércio em geral em que os preços ao público vão acompanhando as flutuações dos custos.

“No caso das farmácias, isso não acontece. Nós temos de absorver todos esses custos porque não podemos mexer no preço dos medicamentos ao público”, uma situação que levanta “alguma preocupação” e que está a ser monitorizada com “algum cuidado”.

Questionada se há risco de algumas farmácias fecharem, Ema Paulino disse que pode chegar-se a essa situação, dependendo da inflação, nomeadamente em farmácias mais frágeis ou mais fragilizadas, que se situam em zonas mais interiores do país.

“São farmácias mais pequenas e, portanto, já têm custos fixos muito elevados e não têm um volume de trabalho tão elevado que possam de facto absorver esses custos. E portanto estamos preocupados com essas farmácias”, afirmou.

As farmácias também estão apreensivas por poder haver falta de medicamentos, principalmente os mais baratos.

“Já ouvimos por parte da indústria farmacêutica e dos distribuidores farmacêuticos que pode chegar-se a uma situação em que esses medicamentos mais baratos não tenham condições de se manter no mercado e, portanto, pode começar a haver faltas, o que vai afetar os utentes”, salientou Ema Paulino.

Sobre se os utentes estão a deixar de comprar os medicamentos que necessitam, a presidente da ANF, disse que, até ao momento, “não se tem observado dificuldades de acesso (…) ou, pelo menos, numa dimensão superior ao normal”.

Em casos extremos, existem mecanismos que permitem que as pessoas continuem a ter acesso ao medicamento de que necessitam como o apoio do “Programa abem: Rede Solidária do Medicamento” da Associação Dignitude.

Em Portugal, segundo os últimos dados havia em 2021 22,4% de pessoas em risco de pobreza ou exclusão social (20,0% em 2020), a oitava maior taxa entre os Estados-membros e acima da média da União Europeia (21,7%).

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