Detetados dois novos casos de Mpox em Portugal

Dois novos casos de mpox foram reportados em Portugal, segundo a Direção-Geral da Saúde, reforçando a necessidade de vacinação com duas doses em grupos de risco e das medidas de prevenção e controlo no contexto transfronteiriço da infeção.

Detetados dois novos casos de Mpox em Portugal

A Direção-Geral da Saúde (DGS) adianta numa nota publicada no ‘site’ que os dois novos casos da mpox – a chamada varíola dos macacos – foram reportados na segunda-feira em homens, “sem história de viagens e referindo contactos sexuais esporádicos”.

“Estes dois casos agora reportados em Portugal vêm reforçar as medidas de prevenção e controlo no contexto transfronteiriço da infeção, pelo que a Direção-Geral da Saúde recomenda o cumprimento de medidas de isolamento de casos até queda de crostas das lesões e vacinação de contactos, fundamentais para quebrar as cadeias de transmissão e evitar surtos”, adianta na nota.

Desde o dia 27 de março que não tinham sido reportados novos casos em Portugal, embora se tenha mantido o envio regular de amostras de casos suspeitos para o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), o laboratório de referência nacional.

Segundo dados da DGS, foram confirmados laboratorialmente para o vírus mpox 955 casos em Portugal desde o dia 03 de maio de 2022.

Todas as regiões de Portugal continental e a Madeira reportaram casos, dos quais 687 (77%) em Lisboa e Vale do Tejo, onde foi vacinado o maior número de pessoas. Em abril, foi confirmada a morte de um jovem com 23 anos, “VIH positivo, não aderente à terapêutica antirretroviral e com imunossupressão avançada, que apresentou um quadro raro de doença progressiva e disseminada”, refere a DGS.

A DGS acrescenta que, “embora desde o final do inverno se venha a verificar o decréscimo do número de casos a nível europeu, novos casos foram reportados no Reino Unido (10 casos a 15 de maio de 2023) e França (um caso a 29 de maio de 2023)”.

A 23 de julho de 2022, a OMS declarou o surto como Emergência de Saúde Pública de Âmbito Internacional (PHEIC) com base nas decisões do Comité de Emergência da OMS, uma situação que foi revertida no passado 10 de maio devido ao “declínio significativo” no número de casos e a não haver alterações na gravidade e manifestação clínica da doença, bem como a disponibilidade de vacinas.

A OMS reforça, no entanto, a necessidade de os países manterem as suas capacidades de vigilância e de prevenção e controlo, com enfoque para respostas adequadas ao grupo de maior risco.

O que é a mpox, varíola dos macacos?

“A varíola dos macacos é uma doença que se está a propagar rapidamente, com sintomas ligeiros, transmitida sobretudo através do contacto direto com lesões cutâneas”, explica Rui Castro, médico do Hospital Lusíadas.

Endémica em certas partes de África — florestas tropicais da África, principalmente na África Ocidental e Central — já tinham sido detetados casos fora de África, sempre ligados a viagens internacionais ou animais importados. Em maio de 2022, foi registado um surto de varíola dos macacos em regiões não endémicas e, até agosto de 2022, foram infetadas mais de 16 mil pessoas espalhadas por 74 países.

Tratando-se de uma infeção zoonótica vírica, é provocada por um vírus do género Orthopoxvirus, que costuma estar presente em roedores, da família do vírus da varíola comum.

Sintomas mais comuns

Os sintomas associados à varíola dos macacos são, normalmente, ligeiros, sem necessidade de internamento hospitalar e com uma taxa de mortalidade associada à infeção praticamente nula. “No surto atual, a nível mundial, há apenas a relatar um caso de morte. Esta aconteceu numa pessoa gravemente doente e imunossuprimida por outras patologias severas”, refere Rui Castro, especialista em Medicina Interna, no Hospital Lusíadas Braga.

. Arrepios de frio
. Dores musculares e nas costas
. Cansaço excessivo
. Aparecimento de lesões cutâneas, pruriginosas e por vezes dolorosas
. Por vezes, aparecimento também de adenopatias

Estes sintomas costumam surgir cerca de cinco a 21 dias após o contacto com o vírus, e duram entre 14 e 21 dias. “A contagiosidade mantém-se até que todas as lesões cutâneas estejam totalmente secas”, diz Rui Castro. “As lesões cutâneas costumam surgir primeiro no rosto e mucosa oral, espalhando-se depois para o resto do corpo e atingindo, principalmente, as extremidades, como a palma das mãos. Em alguns casos, podem também surgir na região genital”, continua o especialista.

Como se transmite

De pessoa para pessoa

“Apesar de, até agora, não ter sido descrita como uma infeção sexualmente transmissível, o meio de transmissão mais frequente são as relações sexuais, fruto da proximidade entre as pessoas envolvidas”, diz Rui Castro, que explica estar relacionado com “o contacto direto com lesões cutâneas, que pode ocorrer, por exemplo, durante o contacto sexual”.

Além disso, declara o especialista, “a transmissão também pode acontecer através do contacto com grandes gotículas respiratórias, ainda que este meio seja muito menos frequente, exigindo contacto muito próximo e de grande duração, ou por meio do contacto com objetos pessoais contaminados”.

De animal para pessoa

A transmissão deste tipo de vírus de animais para pessoas também pode acontecer, através de:

. Mordida de roedores infetados
. Consumo de carne mal cozida de animais infetados
. Contacto com secreções ou sangue de animais infetados

O que fazer em caso de exposição ao vírus

Após o contacto com pessoas com infeção confirmada ou suspeita de varíola dos macacos

. Vigiar os sintomas durante 21 dias
. Manter-se em isolamento
. Não partilhar objetos pessoais

Em determinados casos, em que tenha havido, por exemplo, uma exposição de alto risco, a vacinação pós-exposição também é justificada. As pessoas infetadas devem manter os cuidados de isolamento até as lesões cutâneas se apresentarem secas na sua totalidade.

Há fatores de risco?

Rui Castro diz que não há propriamente fatores de risco associados à infeção em si. Apesar disso, os casos mais severos de varíola dos macacos “acontecem com mais frequência em crianças e têm que ver habitualmente com a condição prévia de saúde da criança e com uma maior exposição ao vírus”.

Para além disso, pessoas com doenças graves e imunossuprimidas podem também ter formas mais agressivas da doença que, em última análise, podem levar a pneumonias, encefalite (inflamação do cérebro) e infeção ocular.

Geralmente, pessoas com mais de 40 ou 50 anos parecem estar mais protegidas, “dado que foram vacinadas contra a varíola comum no passado, o que lhes confere também algum grau de proteção contra a varíola dos macacos”.
O tratamento da varíola dos macacos

Uma vez perante a presença de sinais e sintomas suspeitos de varíola dos macacos, há que recorrer a um especialista para confirmar o diagnóstico, prevenir a transmissão para outras pessoas e iniciar o tratamento. A confirmação diagnóstica é normalmente realizada através de uma colheita de conteúdo das lesões cutâneas e, por meio de testes genéticos, identifica-se o vírus.

Já o tratamento baseia-se normalmente no alívio dos sintomas — dor, prurido, desidratação em caso de diarreia e vómitos — uma vez que estes costumam desaparecer após algumas semanas e que o vírus costuma ser eliminado pelo próprio sistema imunitário em cerca de quatro semanas.

De que forma pode ser prevenida?

A prevenção assenta basicamente em

. Evitar o contato próximo com pessoas diagnosticadas com varíola dos macacos
. Evitar contacto com lesões cutâneas ou objetos pessoais de pessoas infetadas ou com suspeita de infeção
. Desinfetar e lavar bem as mãos com água e sabão
. Usar máscaras de proteção sempre que esteja em contacto com alguém com suspeita ou doença confirmada

Além disso, como a doença também pode ser transmitida de animais para pessoas, apesar de raro e quase circunscrita a países endémicos, “é recomendado consumir apenas carnes que foram bem cozidas e evitar o contato com animais selvagens, principalmente roedores, já que podem estar infetados com o vírus da varíola dos macacos ou outros agentes infeciosos”.

A prevenção da doença também pode ser feita através da vacina. “A 6 de julho de 2022, a Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed) concedeu uma autorização de utilização excecional em Portugal para a vacina da varíola comum também para a varíola dos macacos. Esta vacina, é composta por uma estirpe atenuada e não replicativa do vírus, e está aprovada na União Europeia desde julho de 2013 para proteção contra a varíola comum em adultos”, diz Rui Castro. Portugal recebeu no início de julho de 2022 as primeiras 2.700 doses destas vacinas, adquiridas pela Comissão Europeia para serem distribuídas entre os Estados-membros mais afetados pelo surto.

A Direção-Geral da Saúde recomenda a vacinação para pessoas identificadas como contactos próximos de casos confirmados, de modo a prevenir ou atenuar as manifestações clínicas da infeção.

Como tudo começou

Em 1958, foram identificados os primeiros casos de varíola dos macacos num grupo de macacos, daí nascendo o nome da doença, apesar de o vírus ser mais comum em roedores. Por outro lado, em 1970, foi identificado o primeiro caso em pessoas.

A maioria dos casos notificados ocorreu na República Democrática do Congo. Desde 2016, registaram-se casos em países como Serra Leoa, Libéria, República Centro-Africana, República do Congo e Nigéria, que sofreu o maior surto recente. “Acredita-se que um aumento recente de 20 vezes na incidência seja decorrente da interrupção da vacinação contra a varíola, desde 1980”, diz Rui Castro.

Nos EUA, em 2003, ocorreu uma epidemia de varíola dos macacos quando roedores infetados, importados de África como animais de estimação, disseminaram o vírus para cães de estimação que, então, infetaram humanos. Essa epidemia teve 35 casos confirmados, 13 prováveis e 22 suspeitos, sem nenhum caso de morte. Em maio de 2022, foi registado um surto de varíola dos macacos em regiões não endémicas.

Impala Instagram


RELACIONADOS