Em Campo Maior, o segredo das flores de papel está nas mãos das crianças
O segredo de transformar o papel em flores está a ser revelado a cerca de 800 crianças de Campo Maior (Portalegre), para garantir o futuro da tradição das Festas do Povo, classificadas Património Mundial pela UNESCO.
Desde o início deste ano letivo, no Centro Escolar Comendador Rui Nabeiro, naquela vila alentejana, os alunos do pré-escolar e até ao 6.º ano de escolaridade aprendem esta tradição secular, reconhecida, em 2021, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) como Património Cultural Imaterial da Humanidade. As Festas do Povo de Campo Maior, conhecidas por apresentarem dezenas de ruas, sobretudo no centro histórico, ‘engalanadas’, com milhares de flores de papel, feitas pela população de forma voluntária, realizaram-se pela última vez em 2015, mas o seu futuro parece assegurado, graças ao ‘empenho’ na aprendizagem dos mais novos.
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É o caso de Nádia Teodoro, de 09 anos, que, numa das aulas, revela à agência Lusa o seu gosto por aprender esta arte. Para si, a confeção das flores de papel já não era desconhecida e até já tinha apreendido “alguns truques” com pessoas que costumam participar na realização das festas, conta. Para esta jovem, que realça gostar de “tudo” o que envolve as Festas do Povo de Campo Maior, que apenas acontecem quando a população assim o decide, o mais “importante” desta iniciativa popular é “celebrar” junto da comunidade a união e alegria do povo. Afonso Lavadinho, da mesma idade, é um estreante nesta aprendizagem. O aluno confessa à Lusa que, “antes, fazia um bocadinho mal” as flores, mas, nesta altura, depois de algumas lições, já está a “começar a aprender” os “truques” inerentes à arte.
Projeto “Oficina da Flor de Papel e da Pandeireta”, é da responsabilidade da câmara e está a “correr muito bem” neste primeiro ano de implementação
A vereadora com os pelouros da Educação e Cultura na Câmara de Campo Maior, São Silveirinha, explica à Lusa que este projeto, intitulado “Oficina da Flor de Papel e da Pandeireta”, é da responsabilidade da câmara e está a “correr muito bem” neste primeiro ano de implementação. “As crianças estão a ser muito recetivas, gostam imenso da vinda das nossas monitoras”, relata, precisando que “são cerca de 10 monitoras do município” que ensinam no centro escolar. Segundo a autarca, a arte de transformar o papel em flores é ministrada na disciplina de Educação Tecnológica (ET), enquanto a arte de decorar e tocar com as pandeiretas as Saias de Campo Maior, género musical típico daquela região, fazem parte da área de Educação Musical. “A pandeireta é um instrumento que tem um papel preponderante nas Saias de Campo Maior. Numa primeira abordagem far-se-á a decoração das pandeiretas para, depois, se ensinar a tocar e a cantar as saias”, refere. O projeto, segundo a autarca, pretende continuar a ser desenvolvido nos próximos anos letivos, para que, dessa forma, se possa “assegurar a continuidade” daquela tradição.
“A pandeireta é um instrumento que tem um papel preponderante nas Saias de Campo Maior”
Maria do Céu é uma das formadoras que ensina às crianças os ‘segredos’ das flores criadas a partir do papel, que podem ter as mais diversas formas e cores, e considera à Lusa que o projeto está “a correr lindamente”, graças à “motivação” das crianças. “Como campomaiorense, sinceramente, esperava [esta motivação], porque as crianças nascem logo a ouvir falar das nossas flores e têm qualquer sensibilidade lá dentro” delas, frisa. A UNESCO classificou, a 15 de dezembro de 2021, as Festas do Povo de Campo Maior como Património Cultural Imaterial da Humanidade e, desde dessa altura até hoje, o presidente do município, Luís Rosinha, destaca o “reconhecimento” a nível mundial de que foi alvo o povo daquela vila raiana.
A criação da Oficina da Flor de Papel e da Pandeireta e a inauguração, em agosto de 2022, de um centro interpretativo dedicado às Festas do Povo, no antigo edifício do Assento Militar, num investimento superior a 1,2 milhões de euros, são dois dos projetos que avançaram desde a classificação. Quanto ao centro interpretativo das Festas do Povo, está “altamente dinamizado” e tem recebido “bastantes visitas” desde a sua inauguração, afirma Luís Rosinha. “Conseguimos pôr aqui à mostra [no centro] aquilo que são as Festas do Povo, mesmo quando as festas não existem, porque acho que esta também era uma falha que existia”, acrescenta, referindo que, agora, em permanência, é possível dar a conhecer esta tradição secular a quem visita o concelho.
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