Enfermeira portuguesa em Londres: “As minhas mãos tremiam, suavam, as luvas não entravam”

O relato de uma enfermeira que está na linha da frente do combate ao Covid-19, em Londres

Enfermeira portuguesa em Londres:

Selma Rato, uma enfermeira portuguesa a viver e trabalhar em Londres recorreu às redes sociais para fazer um desabafo e mensagem de esperança tendo em conta os tempos que atravessamos com a ameaça do Covid-19.

“Hoje, depois deste fim de semana ter passado 25 horas fechada dentro de um hospital, ontem recebi na minha ala de gastroenterologia pacientes de respiratório para se criar espaço e condições para receberem pacientes com Covid-19. No sábado de manhã as minhas mãos tremiam, suavam, as luvas não entravam e ainda se rasgaram algumas. Na minha minha frente, olhos nos olhos estavam pacientes a ser testados. Formulários para ser preenchidos e transferência para ser feitas”, conta.

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“Horas depois 3 pacientes morreram de COVID-19. E uns tantos continuam interna dos. Sim no meu hospital, sim está nas notícias. Daqui a uma horas preparo-me para deixar o meu filho, para desta vez, estar na ala em que ninguém quer estar, mas que nós, não temos escolha quando o coração fala. E que neste momento eles precisam tanto de nós, como nós, precisamos que vocês, se o poderem fazer, fiquem em casa. Esta noite em vez de dormir junto do meu filho, vou estar a observar e motorizar pacientes que precisam de ajuda para respirar. Onde por baixo de luvas, batas de proteção, óculos, máscaras o meu corpo treme e transpira. Durante 12 horas”, refere a profissional de saúde.

Selma refere ainda não ter medo de ficar infetada pois acredita na  “higienização, no cuidado e nos procedimentos corretos”.

“E se eu acredito nisso que estou de olhos nos olhos com pessoas infetadas, mais vocês deveriam acreditar e tomar cuidados, tão mais simples que os meus. As minhas palmas vão para o pessoal das limpezas, quem limpa os hospitais. Que ganham quanto mesmo ? Sujeitos mais que eu a contraírem o vírus por falta de formação e informação”, lê-se.

“Hoje, e as 55 horas que vou fazer esta semana, vou estar cuidar da mãe de alguém, da avó de alguém. Um dia quem sabe, algum dos teus.
Não vivam com medo, aproveitem para ler, para estar e apreciar . Para cantar e dançar. Para conversar. Conversem muito e contém histórias ás crianças .
Vai tudo ficar bem”, termina.

Os números e a polémica no Reino unido

O País de Gales registou a primeira morte resultante da pandemia de Covid-19, elevando o número total de mortes no Reino Unido para 36, de acordo com as estatísticas oficiais hoje divulgadas.

Até agora foram diagnosticados 1.543 casos positivos entre 44.105 pessoas testadas ao coronavírus Covid-19 no Reino Unido, mais 171 infetados do que no domingo, de acordo com o balanço feito hoje pelo ministério da Saúde britânico.

A situação no Reino Unido relacionada com o Cofid-19 será tema de uma conferência de imprensa hoje à tarde, que vai passar a ser diária e vai ser liderada pelo primeiro-ministro, Boris Johnson, ou outros ministros.

As críticas ao governo britânico têm vindo a crescer de tom desde sexta-feira devido à abordagem menos severa para conter a pandemia de Covid-19 no Reino Unido, levando muitos especialistas a criticar a ideia de “imunidade em grupo”, alertando para a incerteza sobre se a imunidade pós-vírus é real e permanece a longo prazo.

O ministro da Saúde, Matt Hancock, deu várias entrevistas no domingo tentando desmistificar a ideia de que o governo não está a impor medidas de distanciamento social para deixar o novo coronavírus circular e imunizar a população.

“Temos um plano, baseado na experiência de cientistas líderes mundiais. A imunidade em grupo não faz parte disso. Esse é um conceito científico, não um objetivo ou uma estratégia”, garantiu, num texto publicado no Sunday Telegraph.

Um dos próximos passos, adiantou, será o conselho aos idosos com mais de 70 anos a auto-isolamento. Johnson reuniu esta manhã com especialistas e mais tarde com o ministro das Finanças e o Banco de Inglaterra, antes de participar numa teleconferência com outros líderes dos países do G7 para discutir a resposta internacional à pandemia.

À tarde, o primeiro-ministro vai conduzir uma reunião mais alargada com ministros e outras autoridades para discutir a proibição de grandes ajuntamentos, a qual até agora o governo e consultores científicos recusaram tomar por estarem convencidos de que não é muito eficaz na redução da propagação. Pelo contrário, o governo autónomo escocês iniciou hoje uma interdição de eventos superiores a 500 pessoas.

Pelo meio, Johnson tem conversas previstas com empresas britânicas para pedir que apoiem a produção de equipamentos médicos essenciais, como ventiladores, como parte de um “esforço nacional” para combater o vírus.

Em paralelo, o ministro do Ambiente, George Eustice, vai presidir uma reunião grupos retalhistas e redes de supermercados para discutir a continuidade do fornecimento de alimentos durante a crise, e o ministro da Educação, Gavin Williamson, vai reunir-se com organizações do setor para debater o potencial encerramento de escolas.

Na terça-feira, o ministro da Saúde, Matt Hancock, deverá dar a conhecer legislação de emergência, nomeadamente poderes para forçar pessoas a entrarem em quarentena se forem consideradas um risco para a saúde pública.

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