Espanhol recuperou 640 músicas tradicionais do leste de Angola para preservação e valorização

Um projeto sobre a valorização do património musical recuperou e digitalizou 640 músicas tradicionais do acervo cultural da província angolana da Lunda Norte, bem como criou escolas de música e de instrumentos do folclore local.

Espanhol recuperou 640 músicas tradicionais do leste de Angola para preservação e valorização

Pesquisas desenvolvidas durante dois anos nas aldeias da província pelo musicólogo e compositor espanhol David López Sáez resultaram na recuperação das músicas tradicionais, trabalho que pode ser visto, até 19 de março, no Centro Cultural Camões, em Luanda.

“Thambwé: Recuperação, Valorização e Divulgação do Património Musical Cokwe” é o nome do projeto desenvolvido naquela província, que deu origem à escola de música tradicional Thambwé e de uma outra de instrumentos da música da região.

A digitalização do Fundo Fonográfico do Museu Regional do Dundo, capital da Lunda Norte, foi um dos resultados dos trabalhos desenvolvidos na região, no âmbito deste projeto, disse à Lusa David López Sáez, destacando a importância da pesquisa para a cultura angolana.

O espólio do museu é constituído por gravações realizadas em meados do século XX pela extinta Companhia de Diamantes de Angola (Diamang).

“Os objetivos do projeto são a recuperação, a transmissão e divulgação do património musical cokwe. Temos aqui uma exposição que explica tudo. Entre os resultados que alcançámos, temos a destacar a digitalização do Fundo Fonográfico do Museu Regional do Dundo”, disse Sáez.

De acordo com o coordenador do projeto, financiado pela União Europeia e cofinanciado pelo Camões Instituto de Cooperação, de Portugal, num montante de 40 mil euros, as 640 músicas folclóricas recuperadas foram já entregues em formato digital ao Ministério da Cultura e Turismo de Angola.

Likembe, kakholondondo e muyemba são alguns dos instrumentos tradicionais angolanos, vulgarmente conhecidos por quissanje (espécie de idiofones cujo som varia em função do seu formato e é provocado pela sua vibração), expostos até dia 19 na galeria do Camões em Luanda.

Os instrumentos foram produzidos por jovens da aldeia de Cambuaji, que recebem dos adultos/professores formação e capacitação contínua para a preservação e valorização da cultura musical da região.

“[A escola] é um pilar fundamental, no sentido de que um dos eixos do projeto é a transmissão. Então, a escola é para transmitir conhecimentos da música tradicional cokwe às novas gerações para maior valorização dessa cultura”, justificou David López Sáez.

O espanhol, da região de La Mancha e residente no Dundo há dois anos, disse que foi impulsionado a abraçar o projeto pelo diretor da Orquestra Angolana Kapossoca, onde é colaborador, e está feliz pelos resultados do projeto, apesar das dificuldades de transporte para as aldeias.

David López Sáez, 41 anos, responsável por toda a pesquisa, destacou o empenho das comunidades, que abraçaram e participaram no projeto, e o resultado positivo alcançado.

Findo o processo, o investigador pede agora às autoridades angolanas que assegurem o seu “bom uso”, apelando a que o material fonográfico, agora na posse do Ministério da Cultura e Turismo, não fique esquecido numa gaveta.

“Espero que façam um bom uso daquilo, quer dizer, seria uma pena que isso ficasse numa gaveta. As canções que eles estão a aprender na escola são as próprias músicas que foram digitalizadas, por isso a ideia [foi] resgatar e transmitir”, insistiu.

Para o musicólogo e compositor espanhol, o projeto deve impulsionar e despertar um maior interesse, sobretudo no seio da juventude, sobre o instrumento quissanje, recordando que este é visível no verso da nota de 1.000 kwanzas (moeda angolana).

A exposição, aberta ao público desde a passada terça-feira, 27 de fevereiro, retrata igualmente, com fotografias, o percurso do projeto e disponibiliza códigos de QR, permitindo que, através da câmara de um telemóvel, os visitantes possam escutar várias músicas do folclore cokwe.

*** Domingos Silvano Silva (texto), Rogério Ampe (vídeo), Marcos Focosso (fotos), da agência Lusa ***

DYAS // MLL

By Impala News / Lusa

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