Especialista alerta para possibilidade de surtos epidémicos de dengue e zika em Portugal

O presidente do Instituto de Medicina Tropical alertou hoje para a possibilidade de surtos epidémicos de dengue e zika em Portugal e apelou aos profissionais de saúde para que não confundam eventuais casos com gripe.

Especialista alerta para possibilidade de surtos epidémicos de dengue e zika em Portugal

Em declarações à agência Lusa a propósito do 6.º Congresso de Medicina Tropical, que arranca hoje em Lisboa, Filomeno Fortes lembrou que já foi identificado em Portugal o mosquito ‘aedes albopictus’ – que pode transmitir zika, dengue e chikungunya – e que os ovos podem permanecer em estado de hibernação mais de um ano. “Basta entrar em contacto com a água para o mosquito eclodir. E este mosquito tem uma característica: Infeta-se uma vez e é para toda a vida”, explicou o responsável, considerando que a probabilidade de Portugal ter ovos infetados “é grande”.

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Este alerta do presidente do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT) surge depois de, no início do mês, a Organização Mundial de Saúde ter avisado que a Europa corre o risco de ter surtos de dengue e zika no verão, chamando a atenção para a necessidade de as autoridades aumentarem a vigilância. Filomeno Fortes lembrou que já foi encontrado o mosquito ‘aedes albopictus’ na Madeira e no norte (Penafiel) e sul (Mértola) de Portugal Continental, considerando que isto aumenta a probabilidade de surtos de dengue, zika e chikungunya, doenças que provocam hemorragias e podem ser fatais. “O sistema nacional de saúde tem de estar preparado para a possibilidade de haver casos suspeitos”, disse o responsável, recordando que há testes rápidos para detetar estas três síndromes hemorrágicas.

“O sistema nacional de saúde tem de estar preparado para a possibilidade de haver casos suspeitos”

Em situação de alerta — considerou -, estes testes “devem estar disponíveis a nível nacional para que qualquer profissional de saúde que suspeite de um caso de dengue, chikungunya ou zika possa recorrer imediatamente” e obter um diagnóstico preliminar. O especialista insistiu que os profissionais de saúde devem estar atentos e lembrou: “Estes casos, normalmente, são confundidos com gripe”. “São quadros típicos em que a pessoa vem com febre, com dores no corpo, com arrepios frio e a tendência é dizer que é uma gripe. Quando se pede os exames, como não se pede exatamente a nenhum destes três exames, o teste vem dizer que está tudo bem, que deve ser uma gripe”, explicou. Defendeu ainda que, numa situação de casos confirmados, “os especialistas em cuidados intensivos têm de saber como gerir casos graves”.

“Estes doentes são salvos, normalmente, nas primeiras 24 a 48 horas”, caso contrário, “o risco de morrerem é grande”

Exemplificou com a dengue, que pode resultar em falência de vários órgãos, mas como se trata de uma falência muito específica, “os médicos intensivistas têm de saber quais são as medidas imediatas”. “Estes doentes são salvos, normalmente, nas primeiras 24 a 48 horas”, caso contrário, “o risco de morrerem é grande”, disse Filomeno Fortes, frisando que, das três doenças, a que mais progride a nível mundial é a dengue, sendo, por isso, aquela que “deve merecer maior atenção”. O responsável do IHMT chamou ainda a atenção para a necessidade de um programa de vigilância e controlo perante a possibilidade de uma destas epidemias acontecer na Europa, sobretudo em Portugal.

Além da vigilância epidemiológica, Filomeno Fortes apontou a necessidade de vigilância entomológica (dos mosquitos) nas áreas onde os mosquitos foram identificados: “Tem de haver equipas a deslocarem-se com regularidade a essas áreas, a procurarem fazer captura de vetores e a identificar eventualmente os possam estar infetados”. O especialista lembrou igualmente que os movimentos migratórios podem aumentar a possibilidade de entrarem na Europa pessoas infetadas. Disse que o que mais contribui para a possibilidade de haver surtos na Europa são as alterações climáticas, a destruição de florestas, a poluição das terras, água e ar e a alteração de biodiversidade, “que obriga a que os parasitas, os vetores e os vírus se adaptem em áreas e circunstâncias em que anteriormente não conseguiriam sobreviver”.

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