Excesso de mortalidade deve-se a vários fatores mas “grande problema ainda vem aí”, diz bastonário
O bastonário da Ordem dos Médicos (OM) atribuiu hoje o excesso de mortalidade em 2020 a uma conjugação de fatores, mas alertou que o “grande problema ainda vem aí” devido ao agravamento de doenças não diagnosticadas durante a pandemia.
O bastonário da Ordem dos Médicos (OM) atribuiu hoje o excesso de mortalidade em 2020 a uma conjugação de fatores, mas alertou que o “grande problema ainda vem aí” devido ao agravamento de doenças não diagnosticadas durante a pandemia. “Eu julgo que em 2020 tivemos uma conjugação de muitos fatores que levaram a que muitos doentes perdessem a oportunidade de serem observados”, salientou Miguel Guimarães, numa audição parlamentar requerida pelo PSD sobre a mortalidade por todas as causas registada em Portugal.
O deputado social-democrata Rui Cristina salientou que em maio a mortalidade por todas as causas registou o nível mais elevado das últimas décadas para esse mês do ano, pelo menos desde 1980.
O ano de 2020 teve excesso de mortalidade em Portugal, mas a pandemia não “explica tudo”, adiantou o parlamentar do PSD, ao salientar que a covid-19 foi a quarta causa mais frequente de morte no primeiro ano da pandemia. “O PSD considera que é imperativo que se estudem as causas destes aumentos, porque não podemos ficar sem respostas, razão pela qual requeremos essa audição, assim como a da DGS e do Instituto Ricardo Jorge”, referiu Rui Cristina.
O bastonário da OM salientou que, no primeiro ano da pandemia, muitos doentes com sintomas de doenças, como enfarte agudo do miocárdio ou acidente vascular cerebral, “deixaram de recorrer” por “medo da covid-19” às urgências, apontando o exemplo do acesso às unidades de AVC que, “durante períodos alargados de 2020, caiu quase 50%”. “Por outro lado, vários serviços acabaram por não funcionar como deveriam funcionar”, caso dos cuidados de saúde primários, onde cerca de 4,8 milhões de consultas ficaram por fazer, sublinhou Miguel Guimarães. “É natural que durante 2020 tenha acontecido mais mortalidade e mais agravamento de doenças. Eu acho que o grande problema ainda vem aí”, alertou o médico perante os deputados da Comissão de Saúde.
De acordo com o bastonário da OM, ainda sem os dados de 2022, o Serviço Nacional de Saúde tem por recuperar cerca de 500 mil primeiras consultas nos hospitais, cerca de 116 mil cirurgias e “uns milhões” de exames complementares de diagnóstico e terapêutica. “Apesar de em 2022 já estarmos a nível do que se fazia em 2019, e em alguns casos até acima, a verdade é que muitos números ficaram por recuperar. Quando pensamos em doenças crónicas, como a diabetes, a insuficiência cardíaca e a hipertensão arterial, é óbvio que os doentes começam a aparecer nos serviços de urgência com descompensações destas doenças e eventualmente sem diagnóstico primário”, salientou.
Na audição parlamentar, o bastonário citou ainda dados europeus para referir que Portugal “foi o segundo pior país da Europa” ao nível das necessidades de saúde não satisfeitas em 2020, com 34%, apenas atrás da Hungria, que apresentou 35% neste indicador. “Durante a pandemia houve algumas falhas que considero importantes”, avançou o bastonário da OM, ao apontar o caso da comunicação, que “podia e devia ter sido mais eficaz” a transmitir as mensagens aos portugueses. “Na verdade, demoramos muito tempo a dizer às pessoas de forma clara que, se tivessem sintomas que potencialmente pudessem ser um enfarte ou um AVC, que não tivessem medo de ir às urgências”, disse Miguel Guimarães.
Outro aspeto que o bastonário considerou como uma “falha” teve a ver com a “saturação dos cuidados primários”, através da decisão de manter os médicos de família a seguir “todos os doentes que tinham tido covid-19, mesmo sem sintomas”, numa altura em que já não se justificava essa medida.
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