Exposição de João Fiadeiro em Lisboa viaja por 35 anos de percurso artístico
A exposição “Restos, Rastros e Traços” vai levar os visitantes do Museu de Arte Contemporânea – Centro Cultural de Belém (MAC/CCB), em Lisboa, a atravessar 35 anos do percurso artístico do coreógrafo João Fiadeiro, a partir de quarta-feira.
Trata-se do segundo momento do projeto “Introspetiva” – resultado de um convite do CCB ao criador para revisitar mais de três décadas de trabalho – iniciado em maio com um “estaleiro” que proporcionou a Fiadeiro “a experiência mais enriquecedora de sempre”, disse aos jornalistas durante uma visita guiada à exposição.
No decurso do “estaleiro” os visitantes puderam assistir diariamente a performances, composições em tempo real, filmes, participar em aulas e assistir ao vivo à construção da exposição: “Foi uma experiência muito rara em que pudemos relacionar-nos com a figura do visitante e não do espectador”, avaliou o artista, figura de referência da dança contemporânea portuguesa.
“Fizemos um esforço enorme durante mais de 30 anos para romper com os protocolos dos espaços de espetáculos, e conseguimos aqui condições para obter momentos muito especiais e delicados com o público”, sublinhou o coreógrafo de 58 anos que, em 2021, doou o seu arquivo pessoal, com cerca de 4.000 títulos, entre vídeos, artefactos e textos, à Fundação de Serralves, no Porto.
Fiadeiro, nascido em 1965, fundou o Atelier|RE.AL em 1990, início de uma década fundamental para a dança portuguesa, vindo a decidir pelo seu encerramento em 2019, mas continuou a atividade, nomeadamente como formador.
“Introspetiva” é apresentada como “uma retrospetiva do corpo de (e no) trabalho” de João Fiadeiro, que está a decorrer até setembro nas galerias do MAC/CCB e nos teatros do CCB.
Nuria Enguita, na primeira apresentação de uma exposição como diretora do museu, sublinhou a importância da forma “poética e política” do trabalho de João Fiadeiro, “um dos grandes nomes da dança portuguesa”: “Nesta exposição, o tempo, o corpo e o espaço são colocados ao serviço da imaginação e da improvisação em tempo real, desfazem o presente, incorporando gestos, memórias e tempos não lineares”.
Com uma prática que reúne várias disciplinas, desde a dança, artes visuais, performance e teatro, Fiadeiro “transforma o ambiente e também a posição do espectador, ganhando uma posição ativa, fazendo a sua própria coreografia de tempos, gestos, olhares e ações”, descreveu, sobre o criador que, nas últimas décadas, tem apresentado os seus espetáculos um pouco por toda a Europa, Estados Unidos, Canadá, Austrália e América do Sul, ao mesmo tempo que acompanha e apresenta artistas emergentes, acolhendo residências de artistas, e promove eventos transdisciplinares.
“Desfazer o presente e mostrar as suas linhas de fuga, e os seus anacronismos é também uma missão dos museus que trabalham o contemporâneo, além de abrir os processos e discursos”, afirmou Nuria Enquita.
João Fiadeiro – que criou e desenvolveu o método de Composição em Tempo Real, cruzando a sua investigação com áreas científicas como as neurociências e as ciências dos sistemas complexos – tem orientado com regularidade oficinas em diversas escolas e universidades portuguesas e estrangeiras.
A inauguração da exposição, na quarta-feira, às 19:00, incluirá a confere^ncia-performance “(body) OF/AT (work)”, de Joa~o Fiadeiro e da artista-investigadora convidada Liliana Coutinho.
Entre sexta-feira e 06 de julho decorrerá ainda a programação “Dar corpo”, que consiste na apresentação de uma seleção de peças do repertório de João Fiadeiro a ser dançada pelo próprio, por artistas convidados e por intérpretes de novas gerações.
AG // TDI
By Impala News / Lusa
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