As «4 graves falhas» no estudo sobre aeroporto do Montijo
Risco de inundação devido à subida do nível do mar, perigosidade sísmica, suscetibilidade a inundação por tsunami e aumento das emissões dos gases de efeito estufa são os problemas.
Onze cientistas universitários anunciaram esta sexta-feira, 1 de novembro, uma contestação ao Estudo de Impacte Ambiental (EIA) sobre o novo aeroporto no Montijo, em que, durante a discussão pública, reclamaram a rejeição e não aprovação do estudo, devido a “quatro graves falhas”.
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O risco de inundação devido à subida do nível médio do mar, a perigosidade sísmica, a suscetibilidade a inundação por ‘tsunami’ e o aumento das emissões dos gases de efeito estufa da aviação foram os quatro problemas apontados pelos cientistas, identificados e fundamentados com base no conhecimento e convicção científica, no sentido de permitir “a correta e adequada avaliação de risco” do projeto do aeroporto complementar do Montijo e respetivas acessibilidades.
Considerando que houve um “claro incumprimento” do regime jurídico da avaliação de impacte ambiental dos projetos públicos e privados suscetíveis de produzirem efeitos significativos no ambiente, os signatários defenderam “a rejeição e a não aprovação do EIA”.
A contestação “EIA do aeroporto do Montijo e suas acessibilidades”, redigida e subscrita pelos onze cientistas da academia, com experiência nas áreas de geografia, física, geologia, geofísica, física da atmosfera, energia e ambiente e engenharia civil, foi submetida na plataforma de discussão pública em 18 de setembro.
Erros de cálculo e omissão de gases de efeito de estufa
Numa nota de imprensa enviada hoje, os onze cientistas, signatários do documento de contestação ao EIA alertaram para “a completa omissão do EIA sobre as emissões de gases de efeito estufa da aviação em fase de voo e seu impacto nas metas do Roteiro para a Neutralidade Carbónica (RNC2050), comprometendo o seu cumprimento”.
Outras das falhas apontadas são os erros de cálculo na análise de risco da subida do nível médio do mar e a omissão da análise de vários cenários face à situação de alterações climáticas, as lacunas e omissões da avaliação da ação sísmica, nomeadamente por esta ter sido avaliada à luz de um regulamento desatualizado (RSA de 1983), e a subestimação do risco elevado associado à inundação por ‘tsunami’ e ausência de avaliação da respetiva vulnerabilidade combinada com os cenários de subida do nível médio do mar.
Face à análise apresentada, os cientistas defendem que “os riscos associados deveriam ter sido avaliados ao nível dos impactos e das medidas de adaptação/mitigação, pelo que deveriam constar na análise de risco e, consequentemente, na matriz síntese de impactos do EIA com a respetiva caracterização dos impactos (com e sem medidas de mitigação)”.
Neste sentido, os académicos lembram que “faz hoje 264 anos que uma das maiores catástrofes atingiu a cidade de Lisboa, o terramoto de 1 de novembro de 1755”, em que a capital sofreu um abalo sísmico, seguido de ondas de ‘tsunami’, o que resultou em mais de 10 mil mortos, o que “à data terá representado uma percentagem significativa da população da cidade”.
“Manter esta memória viva é fundamental na definição de estratégias de ordenamento do território. Deve-se, pois, como estratégia de mitigação dos riscos, abandonar os locais mais vulneráveis e não os ocupar”, afirmaram os cientistas, em comunicado.
Os onze cientistas que subscreveram a contestação, todos professores ou investigadores universitários, são Carlos Antunes, Filipe Agostinho Lisboa, João Mata, João Cabral, Luis Matias, Maria da Graça Silveira, Nuno Afonso Dias, Pedro Costa, Pedro Soares, Pedro Nunes e Rui Ferreira.
Em 30 de outubro, a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) emitiu a proposta de Declaração de Impacte Ambiental (DIA) relativa ao aeroporto do Montijo e respetivas acessibilidades, tendo a decisão sido “favorável condicionada”, viabilizando o projeto.
“A DIA é favorável condicionada, viabilizando assim o projeto na vertente ambiental. A DIA inclui um pacote de medidas de minimização e compensação ambiental que ascende a cerca de 48 milhões de euros”, refere a APA em comunicado. Entre as principais preocupações ambientais estão a avifauna, ruído e mobilidade.
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