Há uma escola que espera ficar e uma junta que se quer mudar no lisboeta Beato
A escola que funciona na antiga Manutenção Militar, na freguesia lisboeta do Beato, espera poder ali continuar, enquanto a junta local reafirma a necessidade de se mudar, mas o Governo continua sem dizer o que vai fazer no complexo.
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Em causa está um terreno de sete hectares e 15 edifícios, para o qual o anterior executivo socialista deixou um projeto de requalificação, apresentado por uma equipa liderada por José Sá Fernandes, coordenador da Jornada Mundial da Juventude 2023, que teve ali a sede.
Findo o seu mandato, em 31 de dezembro de 2024, Sá Fernandes entregou o projeto “Bairro do Grilo” ao atual Governo (PSD-CDS/PP), que não respondeu às perguntas da Lusa sobre os planos para o espaço.
O que mudou, entretanto, é que a chave do complexo (que José Sá Fernandes entregara à Junta de Freguesia do Beato) passou da Secretaria Geral da Presidência do Conselho de Ministros (atualmente Secretaria-Geral do Governo) para a Estamo, gestora do património imobiliário público.
Em 27 de janeiro, a Estamo confirmou à Lusa que os imóveis da antiga Manutenção Militar ainda não estavam nas suas mãos e que aguardava “decisão quanto aos termos e condições de futura gestão”.
Em 06 de fevereiro, um dia depois de a Lusa ter publicado um texto sobre a ausência de respostas do Governo, a Estamo foi buscar a chave do complexo, entregue pelo presidente da Junta de Freguesia do Beato.
A Lusa voltou no final da semana a questionar a Estamo sobre o que está previsto para aquela área, mas ainda não obteve resposta. Já o Ministério da Presidência continua sem responder aos esclarecimentos pedidos há mais de um mês.
Entretanto, a maioria dos edifícios da antiga Manutenção Militar estão fechados, com exceção do Centro de Acolhimento de Emergência Municipal e de uma escola básica pública (EB1/JI do Beato), com cerca de 150 crianças, do pré-escolar ao 4.º ano.
O espaço serve ainda de estacionamento para viaturas do Regimento de Sapadores Bombeiros de Lisboa, ao abrigo de um protocolo entre a Câmara Municipal de Lisboa e o Ministério da Defesa.
São onze da manhã e o recreio da EB1/JI do Beato está prestes a terminar. Dali a pouco, uma turma terá aula de coro numa sala e ouvir-se-ão xilofones e metalofones noutra, paredes meias com o cineteatro de 500 lugares usado pelos militares quando ali estavam instalados.
A escola é antiga e precisa de obras “de profundidade”, cujo início está prometido pela Câmara Municipal de Lisboa “para muito em breve”, adianta a professora Annette Alves, guiando a Lusa.
A promessa — reconhece o diretor do Agrupamento Luís António Verney — leva a escola a confiar que permanecerá no complexo, sejam quais forem os planos do Governo para a antiga Manutenção Militar.
Valdemar Rente considera que o projeto proposto por José Sá Fernandes “se coaduna muito” com o projeto educativo do Agrupamento de Escolas Luís António Verney, que oferece ensino artístico integrado.
A convivência no mesmo espaço resultaria em sinergias entre profissionais e estudantes e permitiria alargar a formação profissional a áreas artísticas menos desenvolvidas.
“Juntar no mesmo espaço a escola e um ‘hub’ [centro] artístico e também de residências” faria daquele “um espaço singular”, acredita o diretor.
“Penso que seria algo inovador para a cidade de Lisboa e depois também a nível social”, algo que “há tantos anos se tenta construir” naquele território.
Toda a comunidade — afiança — é favorável ao projeto, que oferece “dignidade” num contexto de crianças “com muitas necessidades” e “muitos migrantes” e onde a escola “é a primeira resposta para muitas famílias”.
Segundo a proposta entregue por José Sá Fernandes, a reconversão do complexo seria feita faseadamente, ao longo de quatro anos, com um custo total de 50 milhões de euros.
O projeto inclui 200 habitações com renda acessível, duas residências para estudantes e instalações para diversas casas artísticas, bem como um espaço para acolher a nova sede da Junta de Freguesia do Beato.
“As instalações são pequenas para as nossas necessidades e […] estão, de facto, com alguns problemas de infiltração de humidade, portanto não reúnem as condições que deviam para estarem aqui pessoas, muitas horas durante o dia, a trabalhar”, descreve o presidente da junta, realçando que “o problema mais grave” são os obstáculos à acessibilidade da população.
“Estamos no primeiro andar de um edifício com uma escada”, refere Silvino Correia, que pede uma nova sede para a junta desde que tomou posse, em 2017, era presidente da Câmara de Lisboa o socialista Fernando Medina.
Chegaram a ser identificados dois possíveis locais, mas nenhum foi concretizado e Silvino Correia já vai no final do segundo mandato.
O atual autarca da capital, Carlos Moedas (PSD), visitou o espaço e ficou “quase que chocado”, conta o presidente da junta, tendo mesmo perguntado onde devia assinar, no sentido de aprovar a mudança para outras instalações.
“Até estou arrependido de não o ter posto a assinar um papel”, confessa Silvino Correia.
Mas, não é só pela possibilidade de uma nova sede que é um defensor do “Bairro do Grilo”, mas “muito mais” por ser um “sonho, ao fim e ao cabo”, que geraria “uma alteração positiva” na antiga Manutenção Militar.
José Sá Fernandes desconhece o que o Governo vai fazer com o projeto que entregou, resultado de um ano de estudos técnicos, e decidiu lançar uma petição pública, assinada por mais de 2.600 pessoas, para pedir a concretização do projeto de requalificação.
*** Sofia Branco (texto), Tiago Petinga (fotos) e Rui Filipe Pereira (vídeo), agência Lusa ***
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By Impala News / Lusa
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