Internados que não têm para onde ir custam 100 milhões ao Estado

Cerca de mil camas dos hospitais públicos estão diariamente ocupadas por pessoas que não precisariam de estar internadas, mas que não tinham alternativa, segundo um barómetro.

Internados que não têm para onde ir custam 100 milhões ao Estado

Cerca de mil camas dos hospitais públicos estão diariamente ocupadas por internamentos sociais, pessoas que não precisariam de estar internadas, mas que não tinham alternativa, segundo dados da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares. A terceira edição do barómetro de internamentos sociais promovida pela Associação de Administradores hospitalares, a que a agência Lusa teve acesso, detetou num só dia de fevereiro deste ano 829 camas ocupadas com internamentos inapropriados, num universo de 33 unidades, quase 70% dos hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS).

Falta de resposta dos cuidados continuados para os internados sociais é principal motivo

Em declarações à agência Lusa, o presidente da Associação dos Administradores Hospitalares, Alexandre Lourenço, refere que os números reais de todos os hospitais facilmente ultrapassam os mil doentes em internamentos sociais por dia. A falta de resposta da rede nacional de cuidados continuados integrados e a incapacidade dos familiares ou cuidadores receberem o doente são as principais razões para estes internamentos. São pessoas sobretudo a partir dos 65 anos, com grande predominância para pessoas com mais de 80 anos.

Camas com internamentos por motivos sociais são 5% de todas as disponíveis no SNS

As camas ocupadas com internamentos por motivos sociais correspondem a cerca de 5% de todas as camas disponíveis no SNS, tendo um impacto financeiro estimado de mais de 83 milhões de euros por ano, podendo mesmo chegar aos 100 milhões de euros. As 829 camas detetadas este ano em 33 hospitais ocupadas por motivos sociais são menos do que na anterior edição do barómetro, em 2018, mas em relação à proporção de doentes internados o valor mantém-se praticamente na mesma. Alexandre Lourenço indica que os dados deste ano «vêm em linha com as duas edições anteriores do barómetro de internamentos sociais», o que mostra que «não houve uma evolução favorável nesta problemática dos internamentos apropriados».

100 milhões de encargos e «um desperdício do sistema de saúde»

Apesar de mais camas nos cuidados continuados, continuam a ser insuficientes e há problemas de ligação entre os hospitais e as respostas no exterior. O presidente da Associação dos Administradores Hospitalares sublinha o impacto financeiro destes internamentos, avisando que os cerca de 100 milhões que representam de encargos para o Estado são «na prática um desperdício do sistema de saúde». «Podíamos usar esse dinheiro em respostas extra-hospitalares e a dar melhor qualidade de cuidados às pessoas», sustentou. Mais de metade dos casos de internamentos sociais concentram-se nas regiões do Norte (com 37%) e em Lisboa e Vale do Tejo (41%). O barómetro de internamentos sociais, que vai na terceira edição, é uma iniciativa da Associação dos Administradores Hospitalares, com apoio da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna e de uma consultora.

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