Investigadores manifestam-se no Porto pelo fim da precarização
Cerca de três dezenas de trabalhadores da ciência concentraram-se hoje junto ao edifício da Alfândega do Porto para exigir ao Governo o fim da precarização na ciência e pela sua integração nas carreiras.
Na Alfândega do Porto decorre o encontro “Ciência 2024”, que conta com investigadores, reitores e membros do Governo da área do Ensino Superior, nomeadamente o ministro da Educação, Ciência e Inovação, Fernando Alexandre.
À chegada, o ministro foi interpelado pelos manifestantes, mas, sem parar para conversar, foi dizendo apenas: “Estamos a trabalha nisso”.
O protesto, que é organizado por um conjunto de associações e estruturas sindicais, visa acabar com a precarização dos investigadores – com bolsa, contrato a termo e outros vínculos laborais –, de docentes, dos gestores e comunicadores da ciência.
João Cruz, da Fenprof, disse aos jornalistas que o objetivo desta manifestação é “recordar que a ciência em Portugal está a ser feita em cima do trabalho de 4.000 pessoas, 3.500 com contrato a prazo, e, dentro destes, estão entre dois a três mil investigadores com contrato a prazo a terminar este ano e em 2025”.
“Não há perspetivas destas pessoas passarem a integrar um carreira e não são jovens, ao contrário do que se faz parecer, este exército de investigadores em cima do qual recai este trabalho todo, (que vai ser hoje apresentado), são pessoas que tem 10, 20, 30 anos de trabalho, sempre com contratos precários”, sublinhou João Cruz.
Em seu entender, esta é “uma situação indigna do século 21”.
“Não estamos aqui a pedir aumento de despesa pública, os salários destas pessoas já são pagos, o que pedimos é que estas pessoas passem e ser integradas nas carreiras, é tão elementar quanto isto. Dizer que acabar com a precariedade é prejudicial para a ciência é uma mentira redonda”, considerou.
De acordo com o dirigente da Fenprof, “está ao alcance deste ministro, em colaboração com os reitores das universidades e presidentes dos politécnicos, acabar com este problema. É por isso que estamos cá para lhe recordar que isto pode ser alterado, não é uma inevitabilidade”.
Salientou que “o atual Ministério aponta como solução para resolver a precariedade a apresentação do estatuto da carreira de investigador científico, que mais uma vez está para ser tratado durante o verão, ora para se resolver a precariedade desta gente toda não é preciso um estatuto nova, o que existe é suficiente”.
Por outro lado, sustentou, o Governo diz que “consegue resolver parte da precariedade utilizando um instrumento inventado pelo anterior Governo”, o “FCT-Tenure” que foi desenhado com o objetivo de promover o recrutamento de doutorados para posições permanentes.
“Este instrumento só permite que mil pessoas entrem no quadro, nós temos 3.500 com contratos a prazo, ora não se conseguem meter 3.500 dentro de mil. Este mecanismo que tem andado a ser publicitado como uma das soluções para a precariedade, na verdade não é. É um mero anúncio”, disse.
Questionado pelos jornalistas, Hugo Pereira, de 44 ano, investigador na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Nova Lisboa desde 2015, disse que o seu contrato “está a acabar no próximo junho de 2025” e que “não tem perspetivas” para continuar a carreira.
“Mesmo o concurso de estimulo ao emprego científico transforma-se numa lotaria em que não há qualquer tipo de critérios objetivos que permita avaliar as candidaturas dos investigadores e permite que investigadores com pouco currículo fiquem à frente de outros com currículos mais vastos e com mais qualidade. Porque os critérios utilizados são completamente subjetivos”, salientou.
Também Sofia Lisboa, dirigente da Associação dos Bolseiros de Investigação Científica, salientou que ao abrigo do FCT-Ternure será possível resolver a situação de mil investigadores, e numa segunda fase de mais 400, mas “representa menos de metade daquilo que se espera que sejam os contratos a terminar nos próximos anos.
“Entendemos que não se deve comprometer o desenvolvimento científico que está a decorrer, mas que estas pessoas devem ser integradas nas instituições onde trabalham, muitas delas há décadas e sempre com vínculos precários”, acrescentou.
PM// CMP
By Impala News / Lusa
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