MAC/CCB inaugura nova exposição permanente que tem dentro mostra temporária
O MAC/CCB, em Lisboa, inaugura na quinta-feira “Uma deriva atlântica”, uma nova exposição permanente que faz uma leitura renovada da Coleção Berardo e tem dentro a mostra temporária “31 Mulheres. Uma exposição de Peggy Guggenheim”.
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“Uma deriva atlântica. As Artes do século XX” é “uma abordagem possível à Coleção Berardo e às coleções em depósito no museu, mas pode haver outras, como há múltiplas formas de arte de pensar o século XX”, disse hoje uma das curadoras da mostra e diretora artística do Museu de Arte Contemporânea do Centro Cultural de Belém (MAC/CCB), Nuria Enguita, no início de uma visita para a imprensa.
Nesta abordagem à coleção permanente, o Atlântico é visto como “um espaço físico, mas também afetivo”. “Um espaço simbólico, um espaço que foi lugar de idas e vindas, de grandes conflitos e migrações, desejadas e forçadas, que marcaram o mundo tal como o conhecemos. Um mundo complexo e baseado em fortes desequilíbrios, com repercussões até à atualidade”, referiu Nuria Enguita.
A mostra, que se estende ao longo de várias salas do 2.º piso do museu, inclui 270 obras de 170 artistas portugueses e estrangeiros, através de ligações “improváveis” entre Marcel Duchamp e Lourdes Castro ou Amadeo de Souza Cardoso e Giorgio Morandi.
As obras apresentadas vão da pintura e desenho à instalação e artes gráficas, incluindo fotografias e vídeos.
Em termos temporais, começa em 1909 com a pintura “Tête de femme”, de Pablo Picasso, e termina em 1977, com a iniciativa “Alternativa Zero”, de Ernesto de Sousa. A mostra inclui também obras mais recentes “que dialogam com o passado e foram escolhidas para fazer referência aos dias de hoje”, explicou à Lusa outra das curadoras, Marta Mestre.
A dada altura do percurso surge a mostra temporária “31 Mulheres. Uma exposição de Peggy Guggenheim”, que faz uma reinterpretação das peças incluídas numa exposição que a colecionadora de arte Peggy Guggenheim organizou na sua galeria em Nova Iorque em 1943, com obras de artistas mulheres, entre talentos consagrados e emergentes.
Nuria Enguita salientou tratar-se de uma homenagem e não uma recriação da mostra de 1943.
“31 Mulheres” ocupa duas salas, a primeira das quais inclui um diagrama que, através de pequenos textos e imagens, conta como as artistas chegaram à exposição.
Grande parte delas tinha emigrado para os Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial, havendo assim uma ligação à ‘deriva atlântica’, que fez com que o centro artístico das décadas de 1940/50 mudasse de Paris para Nova Iorque.
Outro cruzamento entre a exposição permanente e a temporária está numa das obras de Marcel Duchamp, que em “Uma deriva atlântica” tem, numa das salas, um “encontro imprevisível” com obras de Lourdes Castro.
A “La boîte-en-valise” exposta no MAC/CCB faz parte de uma série da qual o número 1 foi oferecido por Marcel Duchamp a Peggy Guggenheim, contou Marta Mestre.
Além disso, “31 Mulheres” “desdobra e traz novas perspetivas à ‘deriva atlântica'”, nomeadamente por surgir no percurso imediatamente após as salas dos “Surrealismos”, que são “muito masculinas”, com obras de artistas como Mário Cesariny, René Magritte, Fernando Lemos, Salvador Dali, Wolfgang Paalen ou Jacques Harold.
Entre os 11 núcleos de “Uma deriva atlântica” há um dedicado aos “Novos Realismos e Pop”, onde são apresentadas obras de Andy Warhol, como as ‘Brillo box’ e um retrato de Judy Garland, Jean-Michel Basquiat, Christo ou Roy Lichtenstein.
É neste núcleo que “As banhistas”, que José de Almada Negreiros pintou em 1925, surge em diálogo com “Baigneueses”, que Nikias Skapinakis criou em 1971, na série “Para o estudo da Melancolia em Portugal”, que terminou 1974, antes da revolução do 25 de Abril de 1974.
As “Revoluções” são o último núcleo da exposição, fazendo-se aqui uma “ligação direta às revoluções na Europa, entre as quais o Maio de 68 e o 25 de Abril, com as que levaram às independências africanas, através de obras de artistas como Malangatana, Bertina Lopes ou José de Guimarães”.
“Uma deriva atlântica. As Artes do século XX” conta também com curadoria da assessora científica Mariana Pinto dos Santos.
O novo presidente da Fundação CCB, Nuno Vassallo e Silva, presente no início da visita de imprensa, salientou o “momento decisivo na coleção MAC/CCB” que representa a inauguração da nova exposição permanente, com “uma leitura renovada da coleção bandeira do museu, enriquecida com outras coleções e empréstimos”.
“São estas leituras transnacionais, renovadoras, enriquecedoras, únicas, que permitem aos públicos o contacto com as grandes referências da pulsão artística, visual ou performativa, independentemente da nacionalidade, ou de se tratar de consagrados ou emergentes, que desejamos que todos os visitantes do CCB possam usufruir”, disse Vassalo e Silva, desejando que a instituição “seja sempre uma casa de descoberta”.
A exposição “31 Mulheres”, com curadoria de Patricia Mayo, estará patente até 29 de junho, estando previstas visitas guiadas e um ciclo de conversas, cujas datas e outras informações podem ser consultadas no ‘site’ oficial do MAC/CCB.
JRS // TDI
By Impala News / Lusa
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