Mãe de Rui Pedro acredita que filho “está vivo” e que se o vir reconhece-o
Filomena Teixeira, mãe de Rui Pedro, deu nesta semana uma entrevista ao jornal Expresso. Diz acreditar que o filho está vivo e que se o vir reconhece-o.
O filme Sombra, que chega no dia 14 de outubro às salas de cinema, é inspirado no desaparecimento de Rui Pedro, em 4 de março de 1998. O realizador, Bruno Gascon, falou com Filomena Teixeira, mãe de Rui Pedro, e com outras famílias cujos filhos desapareceram. Filomena é, no entanto, “a inspiração maior do filme”. Sombra é “um filme duro”. “Mas é, mas é, acima de tudo, uma história de amor, um amor incondicional de uma mãe pelo filho”, considera Gascon. A longa-metragem é dedicada a “todos os desaparecidos e a todos os que esperam pelo seu regresso”, disse ao Expresso.
Ao semanário da Impresa, em entrevista publicada nesta semana, Filomena Teixeira sente-se “amputada” – “Quando levaram o meu filho, levaram uma parte de mim.” –, mas garante que “jamais” pensou em desistir da luta em a vida se transformou, a de procurar o filho, Rui Pedro, que não vê faz para o ano 24 anos. Na conversa, garante que nunca vai desistir de procurar Rui Pedro, que tinha 11 anos quando desapareceu perto de casa, na Lousada (Porto), há quase 24 anos, e que na altura a Polícia Judiciária “não estava preparada para investigar o desaparecimento de uma criança”. “Havia falta de preparação e de meios. Passados muitos anos, a PJ reabriu a investigação, mas já era tarde de mais. Se se tivessem interessado pelo caso mais cedo, não tenho dúvidas de que os resultados seriam outros”, acusa.
Mãe de Rui Pedro considera ter sido mais ajudada pela polícia francesa do que pela portuguesa
Além de estar certa de que a investigação falhou por desleixo, a mãe de Rui Pedro revela que o caso foi desvalorizado. “A polícia não acreditava em mim. Quando lhes mostrei a fotografia em que o Rui Pedro aparece na Disneyland (atrás de Nuno Rogeiro), depois de ele ter desaparecido, eles disseram-me: ‘E agora o que é que a senhora quer que eu faça’. Respondi-lhes: ‘Que façam o vosso trabalho, que procurem o meu filho e saibam quem é este homem que está com o Rui Pedro’. Mas nunca ligaram à pista”, aponta, admitindo que as polícias francesa e suíça ajudaram-na “muito mais do que a portuguesa”.
Em 4 de março de 2022, estarão completos 24 anos de uma amputação emocional. Rui Pedro terá hoje 35 anos. Um homem feito que Filomena Teixeira reconheceria num piscar-de-olhos. “Acho que, se o vir, o reconheço. No filme [Sombra] há aquela ideia de que a vida foi continuando para toda a gente, mas a da Filomena ficou por ali”, compara, admitindo sonhar recorrentemente com o filho. “Sonho não só a dormir como acordada. Quando vejo um jovem da idade que ele teria hoje, comparo-o sempre com ele. E pergunto-me: como é que ele estaria agora? Quando vejo um bebé, lembro-me dele quando era bebé. Quando vejo um menino maior, lembro-me dele quando tinha aquela idade. Eu respiro o ar que ele respira. Tenho-o sempre no coração. […] Há um sonho recorrente, de um episódio real: numa altura em que estava muito cansada e trabalhava na escola de condução, ele disse-me: ‘Senta-te aqui que eu vou fazer-te uns carinhos”. Foi à dispensa e pegou numa máscara de Carnaval e cantou uma música dos Excesso. Fazia-me tantas surpresas.”
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