Mãe de vítima do Meco ataca Universidade: «A Lusófona não fez nada»
Mãe de Ana Catarina foi a primeira a ser ouvida. Explica que o ex-namorado da filha lhe “confiscou logo” o telemóvel e deixou vários ataques à Universidade Lusófona.
A manhã desta quarta-feira, 14 de abril, marcou o início da segunda sessão de julgamento sobre a denominada tragédia do Meco. No dia de ontem, foi a vez do Dux, João Gonçalves ser ouvido.
Hoje foi a vez dos pais das vítimas serem ouvidos em tribunal. Os pais de Ana Catarina, que em 2013 frequentava o terceiro ano do curso de Turismo na Lusófona, foram os primeiros a falar.
“Em termos de comissão de praxe só tive conhecimento após a tragédia”, refere Fernanda, a mãe. “Eu não sabia o que era o Copa, não sabia o que era o Dux, pensava que o Dux era o nome de um rapaz, uma alcunha. Em casa a Catarina não falava nisso. Só sabia que a menina trajava e que ia a jantares com os colegas, etc”, começa por explicar.
Telemóvel de Ana Catarina confiscado pelo ex
A mãe acrescenta que “sobre praxes, posso dizer que a menina quando disse que vai naquele fim de semana para uma casa perto de Sesimbra só disse que iam ter uma reunião para preparar um plano de praxes para o ano letivo seguinte. Nunca seria uma mãe que permitisse que ela fosse humilhada ou que humilhasse alguém”, prossegue.
Explica ainda que só teve acesso às mensagens que a filha recebeu naquele fim de semana passados vários meses. “Se há muitas SMS que a minha filha enviou, eu só soube muito tempo depois porque alguém me confiscou logo o telemóvel, pediu logo o telemóvel e eu dei (refere-se ao ex-namorado da jovem, João Maria).
Em causa estavam mensagens trocadas pelos dois. Era “estes filhos da p*** já me obrigaram a fazer 150 periquitos e a beber” e a resposta do namorado foi “aguenta que é mesmo assim“. Ele queria o telemóvel à força devido a estas mensagens”, alerta.
«Ela mentiu aos colegas, está nas mensagens»
Fernanda diz ainda que no dia 13, a jovem esteve a trabalhar em part time de um hotel em Lisboa por isso não foi logo para o Meco. Só se juntou aos colegas no sábado.
“Ela mentiu aos colegas, está nas mensagens. Enviou-lhes duas SMS a dizer que não tinha ido ainda para o Meco, porque tinha adormecido e mais tarde que ainda não tinha ido porque o telemóvel tinha caído. Era mentira porque ela estava a trabalhar. Como pais pensamos “porquê que ela mentiu aos colegas?! Estava com medo de represálias!?”, questiona.
Considera que a Universidade Lusófona não protegia os alunos de praxes e humilhações e que deveria ter conhecimento daquilo que acontecia aos alunos em nome da instituição. “Como professora, na minha escola, se houver violência e humilhação aos nossos alunos nós sabemos e intervimos“, diz.
Questionada pela advogada de João Gouveia em relação à participação da filha em atividades de praxe, Fernanda referiu rally tascas. “Ouvi falar em rally tascas mas só depois da tragédia é que percebi o que era“, diz.
«A minha filha amava a faculdade que não a protegeu»
“Foi numa atividade de fazer azevias onde íamos todos os anos para uma escola do Barreiro, onde vivemos. Foi comprar uma máquina de esticar massa para ajudar, levou-me a máquina, na sexta-feira, dia 13. No sábado eu fui para casa de amigas fazer as azevias, regressei e quando ia tomar banho a menina liga-me para saber como tinha corrido com a máquina nova”, conta a mãe e emociona-se.
“O meu marido disse liga lá à menina. Eu disse que não valeria a pena porque ela já estava cansada e deveria estar a dormir“, refere, explicando que já passava da 01h00 de domingo.
“Peço lhe por tudo Sra. Juíza, registe tudo o que eu disse, eu perdi uma filha. A minha filha amava a faculdade que não a protegeu. A doutora não sabe o que é estar uma semana voltada para aquele mar à espera do corpo da minha filha. A Lusófona não fez nada“.
“No dia em que vou ao computador da minha filha da aplicação da faculdade, escreva isto por favor, pus a senha da minha filha e estava a mensalidade por cobrar e a dizer desaparecida na praia do Meco. Faculdade essa que até dia 8 de Janeiro de 2014 nunca nos disse nada. Nem um telefonema“, refere a mãe de Catarina.
“Já esperava há muito por esta oportunidade de poder falar”, remata.
«Não tinha conhecimento do encontro»
Sílvia Guerreiro, mãe de Andreia Revez, é a segunda testemunha da sessão de julgamento deste quarta-feira. A filha frequentava o curso de engenharia biotecnológica desde 2010. A jovem vivia com os avós, por decisão dos pais que já estavam separados.
A mãe esclarece que durante a semana, nas aulas, a jovem vivia num apartamento partilhado com colegas da escola e ia ao Algarve, onde os pais vivem, de 15 em 15 dias.
“Sabia que realizava atividades no âmbito da praxe? Sabia que era representante do curso dela? A mãe responde que não. “Só tive mais conhecimento de tudo depois do falecimento dela, não tinha conhecimento do encontro daquele fim de semana”, diz Sílvia Guerreiro.
Mãe de Andreia Revez refere que a jovem tinha 21 anos e que “gostava de estar na universidade. Dizia que tinha de estudar mais“. “O tempo que passávamos juntas estávamos mais em família e não falávamos muito de escola”, refere Sílvia emocionada.
«Ela e o Duk não se estavam a entender»
É a vez de Mariana Barroso, mãe de Joana, ser ouvida. A filha tinha 22 anos quando morreu. A jovem já tinha terminado a licenciatura em serviço social e, na altura do acidente, fazia um mestrado em serviço social. Vivia num quarto em Lisboa. A família é de Santiago do Cacém.
Mariana afirma que sabia que a filha “tinha sido eleita para um cargo académico na universidade Lusófona para representar o curso”, mas que só depois da morte é que soube que era na comissão de praxe.
Sobre os últimos meses de vida de Joana, a mãe da jovem afirma que andava tensa e que já ponderava afastar-se daquela função. “Nos últimos tempos ia a casa de mês a mês. Geralmente era de 15 em 15 dias”, começa por explicar.
“Em 2013 notei-a, uns meses antes de acabar o ano letivo, tensa e nervosa. Ela e o Dux não se estavam a entender“, relata. “Aquela função tirava-lhe muito tempo e por isso já tinha dito a mim e ao pai que se calhar se ia afastar“, conta Mariana.
“Sobre o fim de semana disse-me que se iam reunir para preparar as praxes de 2014; que era um fim de semana académico. Disse-me que ia para a zona de Sesimbra”, acrescenta. Mariana explica que achava que eram “brincadeiras leves” e que não via a filha a rastejar aos pés de alguém: “Ela nunca me falou disso”.
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