Marcelo destaca importância de música de compositor Luís Tinoco em mundo “fora de ordem”

O Presidente da República destacou hoje a importância da música do compositor Luís Tinoco, galardoado com o Prémio Pessoa, num mundo “fora de ordem”, elogiando o seu “entusiasmo, ecumenismo, comunicação e diálogo”.

Marcelo destaca importância de música de compositor Luís Tinoco em mundo

Num discurso na cerimónia de entrega do Prémio Pessoa 2024 a Luís Tinoco, na Culturgest, em Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa salientou que, nos últimos dez anos, a música esteve ausente deste prémio, recordando, contudo, que foi galardoado à pianista Maria João Pires em 1989, ao compositor Emmanuel Nunes em 2000, ao escritor Vasco Graça Moura, “que escreveu inúmeros fados” e ao filósofo Fernando Gil, “para quem a filosofia da música contava e muito”.

Já sobre Luís Tinoco, o Presidente da República salientou que, com 55 anos, o compositor ainda não é “um senador” e é “muito jovem”, mas é “certamente um inquestionável e um incansável”, salientando a sua “obra sinfónica ou prática, teatral ou de câmara, ou para bailado” e o seu papel enquanto “professor e grande divulgador”.

“Os seus pares, discípulos e colaboradores, têm-no descrito, a justo título, como entusiasta, ecuménico, comunicativo, dialogante, superior em termos intelectuais. Um diálogo que inclui artistas portugueses como Rui Horta e Paulo Ribeiro e estrangeiros, o mais inesperado dos quais talvez tenha sido, para alguns, Terry Jones, mais conhecido como comediante dos Monty Python”, frisou.

Confessando-se melómano, Marcelo Rebelo de Sousa elogiou a “singular conjugação” de Luís Tinoco, frisando que é, “a um tempo, erudito e inovador, já clássico, mas ainda inesperadamente insatisfeito e refazedor de caminhos, um sacro e um profano”.

“O entusiasmo, o ecumenismo, a comunicação e o diálogo que o definem têm sido atitudes importantes num mundo que, para utilizar um título seu, ‘Out of the Order'”, frisou o Presidente da Republica, numa alusão a uma das obras do compositor.

Por sua vez, Luís Tinoco, no seu discurso nesta cerimónia, também abordou a atual situação internacional, afirmando não se recordar, nos 40 anos desde que o Prémio Pessoa foi criado, de “circunstâncias tão caóticas, insanas e ameaçadores se terem conjugado com tamanha velocidade num passo tão vertiginoso para o abismo”.

“Para mim, tal como para tantos como eu, que nunca sentiram na pele os constrangimentos de viver sobre um regime de opressão, seria inimaginável que, no mesmo ano em que celebrámos o cinquentenário do 25 de Abril, pudéssemos ser confrontados, também no nosso país, com crescentes ameaças aos direitos conquistados, com a emergência de populismos vestidos com pele de cordeiro, a multiplicação de relativismos absurdos, uma indiferença cada vez mais cega perante valores como a decência ou a empatia”, frisou.

Depois, Luís Tinoco abordou a utilidade da música no mundo atual, afirmando que, eventualmente com “alguma ingenuidade”, considera que a música, a arte e a ciência podem servir “para num reencontro com a compaixão”.

“Aos políticos e agentes culturais com responsabilidades de programação e de decisão, proponho que deixem de lado o chavão das indústrias reativas e a ideia de que tudo se mede ou existe em função de fatores como retorno e eficácia. À arte, não devemos exigir ‘payback’, da mesma forma que não fazemos em relação à saúde ou à educação”, defendeu.

Luís Tinoco defendeu que “o verdadeiro retorno da arte é a arte em si mesma, não pelo seu poder de confortar almas”, mas antes de “confrontar questionar, fomentar o espírito crítica” e “emocionar, também pelo seu poder de estimular a exigência e a elevação de padrões”.

“Por arrasto, a empatia surgirá, acompanhada de melhor qualidade no exercício de voto”, previu.

Manifestando-se “profundamente reconhecido” por ter sido galardoado com o Prémio Pessoa, Luís Tinoco disse tratar-se de um dos acontecimentos mais felizes da sua vida como compositor”.

“Mais do que uma distinção pelo trabalho feito, entendo-o como um enorme estímulo para prosseguir e insistir, apesar de todas as adversidades”, disse.

TA // JPS

By Impala News / Lusa

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