Governo defende aumento do preço da água
O ministro do Ambiente e Ação Climática disse hoje que o preço da água deve refletir a escassez deste recurso “efetivamente limitado” e defendeu a aposta na circularidade da sua utilização para promover a rentabilização.
O ministro do Ambiente e Ação Climática disse hoje que o preço da água deve refletir a escassez deste recurso “efetivamente limitado” e defendeu a aposta na circularidade da sua utilização para promover a rentabilização.
“Sobretudo quando as fontes de água são cada vez menos e se considera que o investimento nas soluções passa unicamente pelo Estado e pela tarifa do cidadão. Se o produto água está a tornar-se escasso, o preço deve refletir essa escassez, tanto mais que esse preço é o sinal mais forte que temos a dar aos utilizadores da água no sentido de a usarem de forma mais parcimoniosa”, frisou João Pedro Matos Fernandes na abertura do 15.º Congresso da Água, organizado pela Associação Portuguesa de Recursos Hídricos, onde referiu ainda que “a solução” para a escassez de água “não é conquistar novas formas de oferta para ganhar folga para mais consumo”.
O governante acrescentou que quando se apela para a poupança é por uma questão de “suficiência” e de “limites”, frisando que “há muito que ainda pode ser feito dentro desses limites” e apontando o dedo às más utilizações que consomem recursos e aumentam custos de operação, que, disse, devem também ser cobrados.
“Se a água é vida e território, também é energia. Está presente de forma significativa nos custos de operação, na energia que alimenta as infraestruturas e os equipamentos, no tratamento dos cada vez maiores caudais que chegam às estações elevatórias e às ETAR, muitos dos quais não tinham necessidade de lá estar ou, se lá chegam, deviam também pagar esse serviço”, apontou Matos Fernandes.
O ministro do Ambiente confirmou que se referia às águas pluviais, “que podem e devem estar em redes separadas, alimentando os sistemas ecológicos ou sendo reutilizadas”, assim como às “águas não urbanas que beneficiaram de uma visão sistémica de tratamento e valorização”, às “afluências indevidas” e às “entregas não conformes”.
“Estes são alguns dos temas que, certamente, beneficiam de um planeamento estratégico e de uma abordagem concisa por parte dos sistemas, sejam eles multimunicipais, intermunicipais ou municipais, sejam em alta ou em baixa. É esse planeamento que queremos encorajar, devidamente enquadrado pelo plano estratégico para o abastecimento de água e gestão de águas residuais pluviais para o ano 2030”, considerou Matos Fernandes.
Planeamento esse que se revela importante também na gestão dos recursos energéticos, mesmo até dos renováveis e das novas fontes energéticas e tecnologias que começam a ser exploradas, como o hidrogénio.
“Os combustíveis ou tecnologias para a transição energética em curso podem, se não forem devidamente geridos, aumentar a pressão sobre os recursos ou mesmo serem limitados por eles. Não é certamente o caso das energias eólicas ou da solar fotovoltaica, mas pode ser relativamente à solar de concentrado [Energia Solar de Concentração] ou mesmo ao hidrogénio, que também precisam de reforços de água”, sublinhou.
Para João Pedro Matos Fernandes, o facto de a água ter começado a ser “negociada em contratos futuros na bolsa de Nova Iorque” em dezembro de 2020, tal como o petróleo ou o ouro, “é mais do que simbólico”.
“É um reconhecimento da cada vez maior escassez de água que advém não só dos impactos as alterações climáticas, mas também do sobre consumo e da degradação da qualidade. A água é circular, faz todo o sentido que a nossa abordagem a este recurso enquanto serviço de ecossistema, de produto, se paute pelos mesmos princípios”, defendeu.
O governante frisou que “a circularidade do recurso tem de ser levada para dentro da gestão dos sistemas e da gestão industrial”, nomeadamente por via de um planeamento que inclua “cadastro atualizado, mapeamento das intervenções, gestão de equipamentos a adquirir ou a substituir e o ‘scouting’ de novas tecnologias para resolver problemas identificados”.
Tal como “é crucial a digitalização dos sistemas muito para além dos contadores”, prosseguiu o ministro, nomeadamente com recurso a “sistemas de controlo analítico em tempo real, a sensores, a aplicação de inteligência artificial para deteção preventiva de acidentes ou falhas, ou na deteção de afluências indevidas e focos de poluição através da análise de imagens de satélite”.
“Todas estas inovações estão já a ser testadas no terreno em vários países europeus e temos de as integrar nos nossos sistemas, fazendo uso dos apoios à digitalização que estão disponíveis”, concluiu.
A sessão digital decorreu no Dia Mundial da Água que se assinala hoje com iniciativas em vários pontos do país para alertar as populações e os governos para a urgente necessidade de preservação e poupança deste recurso natural.
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